No dia 24 de fevereiro de 2014, um pequeno grupo deu entrada no 3º Cartório de Títulos e Documentos de São Paulo para registrar a Associação Brasileira de J-Fashion. Seria apenas mais uma entidade não fosse o curioso e específico tema chamado “J-Fashion”, ou “Japanese Fashion”, que pode ser traduzido como moda japonesa.
A nova entidade é encabeçada por Cristiane A. Sato, autora do livro Japop – O Poder da Cultura Pop Japonesa (2007), e que vem há muitos anos palestrando sobre esse tema. Fazem parte da associação, entre outros, os organizadores do “Harajuku Fashion Meeting”, evento que reuniu em São Paulo mais de cem jovens simpatizantes da moda alternativa japonesa de diversas partes do Brasil.
“Há um crescente interesse do Ocidente pelo que se produz no Japão em termos de moda”, explica Cristiane.
Nas últimas 3 décadas estilistas, designers, caçadores de tendências, artistas, a indústria da moda e a mídia internacional vêm acompanhando atentamente tudo que ocorre no Japão porque lá ocorrem inovações estéticas e comportamentais únicas. Isso acontece devido a condições específicas do país. Entre tais condições destacam-se:
1 – Devido sua forte identidade cultural, o Japão é provavelmente o único país rico e industrializado que mantém o uso de suas roupas tradicionais como moda (o que implica em viabilidade comercial e constante inovação), não as relegando a mero traje folclórico como ocorreu nos demais países industrializados.
2 – Embora o Japão aprecie produtos e estilos ocidentais, o mercado e a produção local não se limitam a importar ou copiar o que vem do exterior, e é da mistura de estilos japoneses (Wafuku) com estilos ocidentais (Yofuku) que surgem inovações estéticas e comportamentais.
3 – Caracterizada pela complexidade e rigidez de normas de comportamento na vida cotidiana, a sociedade japonesa curiosamente permite e tolera o uso da moda como válvula de escape social, o que criou no país um ambiente único de alto grau de experimentalismo, criatividade e o maior mercado de moda alternativa do mundo.
Seria essa rigidez da sociedade que, por exemplo, obriga crianças e adolescentes a usarem uniformes até em excursões escolares a origem da revolta que criou a moda alternativa, como a que se vê nas ruas do bairro de Harajuku em Tóquio?
A especialista diz que não. “O primeiro movimento de moda alternativa no Japão aconteceu por volta de 1925, com os chamados ‘moga-mobo’, ou ‘modern girl’ e ‘modern boy’, e o ponto era o bairro luxuoso de Ginza, em Tóquio”. Cristiane comenta que naquela época o quimono ainda era muito utilizado pelos japoneses e esse grupo era considerado moderno por usar roupas ocidentais. “Mesmo usando roupas da Europa, as jovens faziam adaptações nos acessórios e nas combinações porque queriam adequá-las à estética japonesa. Elas consideravam, por exemplo, o leque um acessório obrigatório, ao invés da bolsa”, resume a pesquisadora.
O objetivo da Associação Brasileira de J-Fashion é divulgar a moda japonesa no Brasil, incluindo reunir adeptos e combater o bullying e o preconceito contra os que se vestem de maneira diferente da maioria.
Apesar disso, a nova entidade não tratará apenas da moda alternativa do oriente. Ela pretende difundir o uso do quimono no Brasil como traje apropriado para festas e cerimônias. A própria Cristiane é adepta dessa moda, usando-a em várias ocasiões. Uma das propostas da entidade é, por exemplo, fazer uma campanha para convencer os proprietários de restaurantes japoneses a concederem um generoso desconto para clientes que vierem trajando quimono completo. Com isso, os restaurantes ganham uma aparência típica e o quimono sairá dos armários para ser usado no dia a dia.
“A Associação quer fazer com que a moda japonesa deixe de ser mero conceito em palcos e passarelas, e passe para as ruas. Moda que não é usada, quando muito, vira peça de museu”, finaliza Cristiane Sato.
Adorei o post! E fiquei fascinada pela Cristiane-senpai! Não vejo a hora de sair novamente em aderencia a moda japonesa, hoje não saio mais sem estar com no mínimo uma peça referente as tendencias do Japão , ja virou minha rotina, espero que tudo que ela planeja dê certo e tambem vou fazer minha parte! Inovações nao podem ir para museus e sim devem ser motivo de orgulho ^^
Parabéns à cristiane. Nös, nikkeis, precisamos valorizar a nossa cultura, não apenas na moda e alimentação mas na valorização da arquitetura também. Não conheço nem uma cidade que explore o turismo a esse nível, a exemplo do que acontece com a cultura alemã, italiana, etc.