:: CHÁ
O
chá é a
bebida mais consumida no mundo e faz parte dos hábitos
diários de vários povos.
No Japão, o chá integrou-se de tal forma aos costumes e
à vida diária que
tornou-se sinônimo daquilo que no aroma e paladar sintetiza a
essência local.
Cristiane A. Sato, colaboradora do CULTURA JAPONESA e inveterada
apreciadora de
chás, explica neste artigo o que é o chá
japonês, e como ele faz parte não
apenas de hábitos cotidianos, mas também o grau de
simbologia e significado que
ele tem no comportamento social japonês. Observação: Esta
matéria
trata da bebida em si e de costumes populares relacionados ao
chá. A respeito
de Cerimônia do Chá, procure neste site a matéria
CERIMÔNIA DO CHÁ - CHANOYU. O QUE É E DE ONDE
VEM O CHÁ? Existem chás e "chás". Um problema de nomenclatura dificulta distinguir uns dos outros (algo que será esclarecido mais adiante). No momento, o importante é reter a seguinte informação: o chá "comum" - o chá preto, que se compra nos supermercados em saquinhos individuais dentro de caixinhas de papel, ou em folhinhas secas soltas dentro de latinhas, são folhas de um arbusto originário da China, que produz flores parecidas com camélias. Por isso este arbusto tem o nome científico de Camellia sinensis, que em latim significa "camélia da China". É basicamente dessa planta que vem a maioria dos tipos de chá propriamente ditos. A Camellia sinensis é o chá. As folhas e a flor da Camellia sinensis. Há uma lenda
chinesa diz que no ano de 2737
a.C. o imperador Shen Nung teria descoberto o chá de modo
acidental. O
imperador - um filósofo que por razões de higiene
só bebia água fervida -
estava descansando perto de uma árvore de chá quando
algumas folhas caíram no
recipiente em que ele havia posto água para ferver. Ao
invés de tirar as
folhas, ele as observou, viu que elas produziram uma infusão,
decidiu prová-la,
e achou a bebida saborosa e revitalizante. Assim, conta-se na China,
é que foi
"descoberto" o chá. Não há registros
históricos ou provas de que
tenha sido efetivamente desta forma ou de que foi o imperador Shen Nung
o
"descobridor" do chá, mas é fato que os chineses
já produziam e
bebiam chá desde a Antigüidade. Uma das primeiras
referências escritas
sobre o chá data do século III a.C., quando um famoso
médico chinês da época
recomendou a um general que se sentia velho e deprimido que tomasse
chá - o que
indica que já na época conhecia-se as propriedades de
aumento de concentração e
vivacidade que o chá proporciona - e este general escreveu a um
sobrinho
pedindo que lhe arranjasse chá de boa qualidade. Registros
indicam que na China
antiga o chá não era propriamente cultivado em grandes
plantações nem era uma
bebida popular - era quase sempre preparado como tônico ou
medicamento com
folhas tiradas de arbustos selvagens. Nos séculos
subseqüentes as propriedades
do chá tornaram-se famosas e a procura pelo produto cresceu. Nos
séculos IV e V
d.C. já haviam grandes plantações no vale do Rio
Yangtze (também chamado de Rio
Amarelo) e haviam vários tipos de chá: dos refinados, que
eram ofertados ao
imperador como presente, aos populares. Há registros de que
folhas de chá
prensadas foram usadas em em 476 d.C. como moeda de troca com os turcos
na
fronteira ocidental da China. O CHÁ CHEGA AO
JAPÃO O registro mais
antigo sobre o chá no
Japão data do ano de 729. Monges budistas tinham ido à
China estudar por vários
anos (neste período o contato oficial entre China e Japão
era freqüente e
monges budistas atuavam como emissários da corte). No retorno,
trouxeram chá e
o presentearam ao imperador Shõmu. Atribui-se ao monge
Saichõ, fundador da
escola Tendai, a introdução do cultivo do chá no
Japão no ano de 805. Diferentemente do
que hoje se pode
imaginar, o chá demorou a ser popularizado no Japão. Por
volta do ano de 890, a
corte imperial japonesa suspendeu as missões oficiais que
enviava há dois
séculos à China, e as relações entre ambos
os países se deterioraram. Sendo um
produto chinês, o chá parou de ser bebido na corte. Assim,
durante muito tempo,
o chá foi considerado um medicamento e reservado a poucos
privilegiados. Apenas
no século XII, por iniciativa do monge zen-budista Eisai, o
chá começou a se
tornar mais popular nos mosteiros entre os monges, que o tomavam porque
isso os
fazia permanecer acordados durante as longas sessões de zazen (meditação sentada).
Outro monge budista da época, Myõe,
iniciou o cultivo de arbustos de chá em Uji, região de
Kyoto, para suprir os
mosteiros (até hoje Uji é famosa região produtora
de chá no Japão).
O advento dos
shõguns da
Família Ashikaga a partir de 1336 mudou o modo pelo qual os
japoneses viam o
chá. Em especial o oitavo shõgun
Ashikaga,
Yoshimasa (1435-1490), um apreciador das coisas chinesas e do
zen-budismo,
gostava de chá e transformou o ato de tomá-lo num tipo de
cerimônia,
incentivando as classes guerreiras a adotar o hábito de beber
chá. O exemplo do shõgun ajudou a
espalhar o hábito do
chá também na corte imperial e em outras ordens
monásticas budistas, criando um
grande público de apreciadores de chá no Japão.
Mas foi o poderoso daimyõ Hideyoshi
Toyotomi (1536-1598)
quem transformou o antes informal rito de beber chá numa
verdadeira cerimônia -
o chanoyu. Na China antiga
houve rituais relacionados
ao processo de se beber chá, mas que cairam em desuso com o
correr do tempo. No
Japão, entretanto, o costume de chá desenvolveu-se junto
com as escolas e
crenças budistas locais, o que levou o ato de beber chá a
evoluir para uma
cerimônia complicada e única. No século XVI
destacou-se o poeta Jõõ Takeno
(1502-1555), mestre de cerimônia do chá que inventou
vários utensílios - alguns
ainda hoje usados no chanoyu - e que
foi professor de outro importante mestre, Sen no Rikyû
(1522-1591) a quem se
atribui a criação do chashitsu - a
"casinha" onde se executa a performance da Cerimônia do
Chá. Em
função do chanoyu, uma forma
específica de arte se desenvolveu no Japão, que
influenciou as artes
decorativas e utilitárias como a cerâmica, a laca, a
arquitetura e o paisagismo
de jardins. Acessórios tradicionais para a realização da Cerimônia do Chá também servem para o preparo cotidiano do matcha. No período
Edo (1603-1867) o hábito do chá
espalhou-se entre os ricos comerciantes e não demorou muito para
também cair no
gosto das pessoas mais simples, tornando-se desde então um
hábito efetivamente
popular. Nessa época o Japão passou por um longo
período de isolamento, com os
portos fechados a navios estrangeiros, levando o país a
desenvolver uma cultura
muito própria. Isso também fez com que o chá no
Japão fosse cultivado, colhido
e processado de um modo diferente do resto do mundo, o que deu à
bebida um
sabor peculiar e característico. CHÁS E "CHÁS" Se chá é a
bebida que vem da planta Camellia sinensis, você
deve estar se
perguntando: "e os outros chás, como o chá de camomila e
o chá de erva
doce"? Aqui precisamos fazer uma
pausa para
explicar uma questão de nomenclatura. Em chinês
escrito - e em japonês também -
o CHÁ, o da Camellia sinensis, é
representado pelo seguinte ideograma:
Esse ideograma
é lido em mandarim e em
japonês como "tchá", e no dialeto amoy, falado na
região de Fujian na
China - uma das principais regiões produtoras de chá do
mundo - como
"tê". O chá chegou
à Europa ocidental através de
carregamentos vindos da Ásia, e dependendo do dialeto falado nos
portos
chineses que exportavam o chá, a palavra incorporou-se aos
idiomas ocidentais
com um som similar ao de sua origem. Assim, o "tê" da
região de
Fujian virou o thé francês, o te
italiano, o tea inglês e o Tee
alemão. Os portugueses adquiriam o chá em Macau,
colônia portuguesa na China
onde se falava o dialeto cantonês, que se parece com o mandarim,
e assim o
"tchá" falado por eles virou o nosso CHÁ. Na Europa ocidental
não havia o chá
propriamente dito - por isso importava-se e até hoje importa-se
o produto. Mas
haviam outras ervas e frutas locais das quais se podiam produzir
infusões, como
a hortelã, a camomila, a erva doce, a maçã, a pera
e frutinhas vermelhas como
amoras e morangos, que obviamente têm sabor e propriedades
diferentes da Camellia sinensis. Mas como o processo
de se obter a bebida é o mesmo - ferver uma planta em
água - tudo quanto é tipo
de infusão em água quente passou a ser popularmente
chamado de "chá".
Assim, as infusões herbais e as infusões de frutas,
embora não fossem de chá
propriamente ditas, também passaram a ser chamadas de
"chá". Não se trata
de uma questão meramente
lingüística. O chá, o da Camellia
sinensis, possui cafeína - um estimulante da atividade
cardiovascular e da
circulação sangüínea - mas diferentemente da
cafeína do café, que é rapidamente
absorvida pelo corpo, a cafeína do chá é absorvida
de forma mais lenta. A
cafeína em si não é prejudicial à
saúde - muito ao contrário, é bastante
recomendada desde que não tomada em excesso. E é curioso
observar que tamanha é
a complexidade da composição química da Camellia
sinensis, que é impressionante constatar a variedade de
sabores e aromas
que um só tipo de planta pode gerar. As infusões herbais
em geral não têm
cafeína, não possuem um leque de sabor e aroma tão
variado quanto o chá, e via
de regra são adocicadas e suaves (mas há, decerto,
infusões amargas bastante
populares como a de boldo e do mate). Existe uma "dica"
lingüística
que nos permite diferenciar um chá de uma infusão herbal.
Nas infusões herbais,
a palavra "chá" é sempre seguida da expressão "de
alguma
coisa". Por isso nas embalagens lê-se "chá de
camomila",
"chá de boldo", "chá de
maçã", etc. O mate é
um caso à parte (embora muitos achem que o mate é
chá, ele é uma erva
diferente, e o correto é não usar nas embalagens de mate
a palavra
"chá": mate é só "mate"). Os chás, os
derivados da Camellia sinensis, são descritos
por
tipo ou apelidados de acordo com sua origem, e nas embalagens
não se usa a
expressão "de". Assim, o chá pode ser descrito pelo tipo
como
"chá verde", "chá oolong"
(fala-se "úlon") ou "chá preto". Tipos de chá que
foram
apelidados em função da origem são, por exemplo,
"chá assam",
"chá darjeeling", "chá nilgiri" (nomes de regiões
da
Índia). Existem também algumas misturas (chás de
tipos diferentes misturados
entre si e/ou com elementos aromatizantes) como "English Breakfast" e
"Earl Grey". Apenas para se ter
uma idéia da variedade
de chás e de infusões herbais e de frutas existentes, a
Mariage Frères,
renomada casa francesa especializada em chás desde 1854,
trabalha com 300 tipos
de chás e infusões do mundo inteiro. CHÁ CORRENDO NAS
VEIAS Lafcadio Hearn,
jornalista e escritor
americano, foi para o Japão em 1889 para escrever sobre o
país. Acabou
naturalizando-se japonês, casou-se com uma japonesa, adotou um
nome japonês -
Yakumo Koizumi - e lá viveu até morrer em 1904. Em seus
primeiros escritos,
Hearn descrevia os japoneses como "um povo de bebedores de chá".
Ele
demonstrava espanto com a freqüência com que as pessoas em
geral tomavam chá no
país - dependendo da pessoa, de quatro a uma dúzia de
vezes ao dia (os
ingleses, também famosos pelo hábito de beber chá,
quando muito o faziam três
vezes ao dia). E demonstrava curiosidade e alguma dificuldade em
entender a
relação que os japoneses têm com a bebida. Hearn
descreveu um encontro que teve
com um amigo japonês, que o convidou para ir a sua casa para
tomar um chá. Ao
chegar à casa do amigo, sentaram-se a uma mesa baixa no quarto
de tatamis, próximos à janela, e ficaram
sem dizer nada um ao outro por quase uma hora, apenas bebendo
chá e vendo a
vida passar. Coisa estranha. Ao se despedir do
amigo, Hearn temeu ter
sido desagradável ou pouco educado por ter permanecido quieto
durante o
encontro, dado sua condição de recém-chegado ao
país e limitações com o idioma,
e achou curioso quando o amigo lhe disse que aquele tinha sido um bom
encontro,
e que gostaria que ele voltasse na semana seguinte. Posteriormente,
quando seu
vocabulário melhorou, Hearn comentou com o amigo: "Mas
não pudemos
conversar". "Ao contrário, foi uma ótima conversa",
respondeu o
amigo. De modo resumido, foi assim que ele descreveu um curioso
hábito japonês:
as conversas silenciosas através do chá. Japoneses, de fato,
bebem muito chá.
Diferentemente dos brasileiros em geral, que vêem o chá
mais como um tipo de
medicamento homeopático, os japoneses vêem o chá
como os brasileiros vêem o
cafezinho. Bebem chá porque gostam de seu sabor, e não
porque o chá faz bem à
saúde - isso é secundário. Foi pelo hábito
que o chá foi incorporado ao
cotidiano nipônico. O chá
é simbolo de cortesia e
hospitalidade entre os japoneses. Servir aos visitantes uma tacinha de
chá
quente, ou um copo de chá gelado nos dias quentes, é uma
regra de etiqueta
universal entre os japoneses em casa, nos escritórios e nos
restaurantes
tipicos. O bom visitante não recusa o chá, nem vai embora
sem sequer prová-lo.
Em algumas celebrações familiares servem-se os
chás de melhor qualidade, como
na primeira refeição do Ano Novo e aos visitantes no shogatsumikan
(tangerina japonesa) com as pernas sob um kotatsu
(mesa baixa com saia acolchoada e aquecimento) - um costume
aconchegante e
saboroso que ajuda a prevenir a gripe. Chá é sempre
servido a todos ao final de
missas fúnebres no rito budista. Mesmo em costumes importados, o
chá está
presente - nesses casos, o chá preto, "sinônimo" de
ocidente. É comum
os japoneses comemorarem festas de aniversário e Natal com
chá, bolo e
sanduíches de pepino. Mas o chá para os japoneses
é também, como o próprio
Lafcadio Hearn deve ter aprendido, um meio de comunicação
e um objeto de
veneração. Permitam-me citar um caso particular que
ilustra como ocorre uma
"conversa silenciosa através do chá". (período
de comemorações do Ano Novo). Um hábito
típico de
inverno é tomar chá comendo Em 1998 meu
avô, em fase terminal de
câncer, teve de ser internado e passei seus últimos dias
com ele. Embora fosse
uma situação gravíssima, ele estava lúcido
e permanecia boa parte do dia
acordado. Levei tudo que pude para que ele se sentisse
confortável no hospital:
roupas, produtos de higiene pessoal, travesseiros, um edredom,
chá verde de boa
qualidade e toda a parafernália (conjunto de bule e copos de
porcelana, bandeja
de laca e uma garrafa elétrica japonesa que ferve e
mantém a água aquecida). Numa tarde um
senhor de idade, cunhado de
meu avô, veio visitá-lo. Eles se cumprimentaram e enquanto
se acomodavam fiz um
chazinho e servi como de costume. Meu avô sentou-se na cama, o
senhor sentou-se
numa cadeira de frente para ele, e eu me sentei num sofá
encostado à parede.
Mas assim que começaram a tomar chá, pararam de se falar.
Achei estranho, pois
como havia tempos que ambos não se encontravam, pensei que iriam
querer bater
papo... mas nada. Às vezes se olhavam, para em seguida olhar
para o copo nas
mãos, na altura do colo, e beber um golinho - e fazer isso de
novo, e de novo.
Interrompi esse silêncio ritmado só uma vez, para
perguntar se queriam mais
chá. Murmuraram que não, indicando que estavam bem. E
voltaram a ficar quietos,
bebericando o chá que restava nos copos, enquanto olhavam para a
janela e
ouviam o vento frio passar lá fora. Comecei a perceber que
havia um princípio,
um "código" por trás daquele comportamento, e que ambos o
compreendiam. Havia uma conversa em andamento, mas sem o uso de
palavras: as
expressões de seus rostos e gestos sutis, como a postura
semi-formal de como se
sentaram, o modo se segurar os copinhos nas mãos, o ritmo ao
beber e olhares
que não se encontram. Percebi que eles estavam se despedindo, e
que o chá era
parte daquele "código". É estranho, mas se tivessem dito
algo, não
teria sido tão comovente. Me senti uma "grossa" por tê-los
interrompido. Relatar isso não parece grande coisa, mas
imagine-se ficar
naquela situação por 5 minutos. É difícil.
No total, aquela visita silenciosa
durou mais de 20 minutos. De repente, o
senhor curvou a cabeça,
dando a entender que ele tinha que ir. Ele trocou algumas palavras com
meu avô,
e se foi. Eu nunca havia me dado conta de como o simples silêncio
e a
contemplação num dos momentos mais duros porém
inevitável da existência
incomodava meu ocidentalizado e ruidoso modo de agir e pensar. Aquela
visita me
ensinou coisas que dificilmente eu aprenderia de outra maneira. Meu
avô faleceu
3 dias após esse encontro. Ele, que durante a vida muito me
ensinou sobre
herança cultural sendo apenas ele mesmo, em seus últimos
dias ainda foi capaz
de me ensinar mais, encarnando a postura corajosa, digna e serena
diante da
morte tida como ideal pelos japoneses. E passei a compreender a
dificuldade que
Lafcadio Hearn sentia ao tentar explicar a profunda
relação cotidiana que os
japoneses têm com o chá. OS CHÁS
JAPONESES A Camellia
sinensis é uma plantinha sensível. No Japão
planta-se chá em várias regiões
- em especial da região central da ilha de Honshu para o sul,
pois nessas
regiões o clima tende a ser mais quente e úmido. No
Japão o chá é plantado em
longas e organizadas fileiras, e quando os arbustos ficam carregados de
folhas
a paisagem se cobre de "gomos" cor verde-bandeira. A colheita
começa
na primavera, e as folhas são colhidas à mão, com
a ajuda de uma tesoura manual
ou elétrica. Logo que é tirada do arbusto, a folha de
chá entra em pro cesso de
fermentação - em poucos dias a folha muda do verde vivo
para castanho - e de
acordo com o grau de fermentação, o sabor do chá
muda.
Quando se fala em
chá verde não se quer
dizer que a cor do chá é necessariamente verde, mas sim
que esse tipo de chá
não é fermentado (os chás do tipo oolong
são semi-fermentados, e os chás pretos são os bem
fermentados). Todos os chás
típicos do Japão são verdes, o que quer dizer que
o processamento das folhas é
feito rapidamente, para evitar o processo de fermentação
natural. O que dá aos
chás japoneses seu sabor característico é o fato
de que as folhas são passadas
no vapor, o que evita a oxidação, preserva a cor natural
da folha
e um sabor
suave de fundo
amargo. Em seguida, as folhas são enroladas,
desidratadas e
posteriormente picadas ou moídas,
transformando-se no chá que compramos nas
lojas. Nenhum dos chás japoneses são tomados com leite ou
creamer (líquido ou pó para neutralizar o fundo
amargo de cafés e
chás pretos).
Plantação de chá no Japão Os chás tipicamente
japoneses: Gyokuro - conhecido
como "orvalho precioso" ou "jóia do chá verde", é
o chá da
mais alta qualidade e produz um néctar amarelo vivo, muito
aromático, pouco
amargo e com traços adocicados. As folhas, mesmo desidratadas,
são de um verde
vivo devido a cuidados especiais antes mesmo da colheita (os arbustos
para a
produção do gyokurocha são
cobertos
com telas para evitar o sol direto, e o chá é produzido
com os brotos das
folhas, que são mais tenras que as folhas mais desenvolvidas).
Esses cuidados
fazem com que o gyokurocha seja muito
caro, e ele é servido apenas em ocasiões especiais, tanto
quanto os saquês de
alta qualidade. Matcha - é o
chá
usado nas Cerimônias do Chá, que também é
tomado em ocasiões informais e
servido em casas de chá estilo tradicional. É um
chá bem diferente dos
produzidos no resto do mundo porque ele é em pó (a
própria folha do chá é
transformada num pó bem fino e bem verde). Assim, enquanto nos
demais chás o
néctar é resultado de uma infusão de folhas
desidratadas e picadas de chá, no matcha a
folha inteira transformada em
pó é dissolvida em água quente. Para se preparar o
matcha é necessário bater o
pó com um pincel de bambu misturando-se
a água aos poucos numa tigela, formando um líquido verde,
de aparência densa, e
espumante. É um chá extremamente amargo (o que o torna um
pouco difícil de
bebê-lo puro) e por isso, quando se quer tomá-lo em uma
ocasião qualquer que
não numa Cerimônia do Chá, come-se um doce junto
(são recomendados os doces
tradicionais de mochi com recheio de
feijão azuki). Adoçar o matcha
com um pouco de açúcar ou
adoçante é algo que é mal visto pelos apreciadores
tradicionalistas, mas há
muita gente que o toma adoçado. O sabor único do matcha adoçado é tão popular entre
os japoneses que ele vem sendo
bastante usado em balas, doces, mousses, bolos e sorvetes. Sencha - chá de qualidade média, é feito com as folhas do auge da safra (80% da produção de chá do Japão destina-se ao sencha, que é uma preferência nacional). Ele produz um néctar amarelo, de sabor levemente amargo e aromático. Trata-se de um chá equilibrado, de sabor agradável, tomado várias vezes ao dia em casa e comumente servido nos escritórios e restaurantes. Há uma grande variedade de marcas e preços de sencha, mas como a qualidade média do chá é boa, dificilmente se erra na compra. Bancha - também
conhecido como "chá de colheita tardia", ele é feito
com as folhas do
final da safra, maiores e um pouco duras. Era
antigamente considerado o chá
mais popular e barato,
por produzir um néctar amarelo claro de sabor mais fraco
que o sencha. O sabor mais discreto
do bancha
o tornou o preferido de
idosos e crianças, e isso fez com que este
tipo de chá fosse revalorizado nos
últimos anos no
Japão. Kukicha - é o bancha picado com galhinhos das folhas.
Possui as mesmas características do bancha. Houjicha - é
chá verde
japonês torrado. O houjicha foi
inventado em 1920 por um
comerciante de chá de Kyoto, e existem duas versões
sobre como esse chá surgiu. A primeira é a de que o dito
comerciante tinha um
estoque de folhas de chá velhas, decidiu torrá-las para
aproveitá-las e criou
um novo sabor de chá. Na segunda, o houjicha
surgiu de forma menos intencional, quando o armazém do
comerciante sofreu um
incêndio. Por ser torrado, o néctar do houjicha
é castanho claro, de sabor fraco, do qual se sente um pouco do
aroma de
torradinho. Anúncio de houjicha Genmaicha - Genmai
significa "arroz
integral". É uma mistura curiosa: bancha
com grãos de arroz torrados e pipoquinhas de arroz. O resultado
é um chá verde
com um leve aroma torrado e ligeiro sabor salgado, que dá a
impressão de se
"beber pipoca". É um chá interessante, apreciado mesmo
por aqueles
que não gostam muito de chá. Aliás, o genmaicha
combina bem com pipoca numa tarde chuvosa em frente à tevê.
Mugicha - Embora tenha
o ideograma de "chá" no nome, trata-se de uma infusão de
cevada.
Muito popular no Japão, o mugicha é
bastante consumido gelado no verão. Seu sabor é
refrescante, leve, com discreto
fundo amargo. Não contém cafeína e ajuda o corpo a
se manter equilibradamente
hidratado quando o clima está muito quente. Chazuke - Tem nome de
chá, mas é um prato salgado muito popular no Japão
- e um modo peculiar de se
tomar chá. Trata-se de uma porção de gohan
(arroz branco japonês cozido) servida em um chawan
(tigela grande para beber chá), à qual se acrescenta uma
mistura pronta de
temperos e chá verde quente. O resultado é um ensopado de
arroz com chá
saboroso, comido diretamente da própria tigela com a ajuda de hashis (palitinhos para se servir). De
acordo com a etiqueta japonesa - aplicada inclusive na Cerimônia
do Chá -
toma-se o chazuke fazendo-se barulho.
Observação: o sencha,
o bancha, o kukicha e o houjicha
são
tomados sem ser adoçados, a qualquer hora, durante ou
após as refeições. São
bons para acompanhar sushis (há restaurantes no Japão que
só servem chá e saquê
para acompanhar sushis, e há gourmets
tradicionalistas que acham que sushi com cerveja ou refrigerante
é um crime
gastronômico), mas também são tomados com
salgadinhos, biscoitos e doces. São
recomendados biscoitos típicos, como os norimaki
senbei (biscoito de arroz com um toque de molho de soja envolto em
folha de
alga marinha) e os yuki no yane ("telhado
de neve", biscoito de arroz levemente salgado com uma cobertura de
açúcar), e doces como manju (bolinhos
de massa assada com recheio de feijão azuki)
e dorayaki (panquequinhas com recheio
de feijão azuki). AOS QUE QUISEREM SE
APROFUNDAR NO ASSUNTO O site Cultura
Japonesa recomenda: "The
Book of Tea", de Kakuzo Okakura,
publicado pela Kodansha
International. Trata-se da "Bíblia" moderna dos praticantes da
Cerimônia do Chá. É um livro escrito originalmente
em inglês em 1906, cujo
autor era um influente artista e filósofo japonês que
trabalhou como curador de
artes orientais para importantes museus nos Estados Unidos. A
edição mais
recente, publicada em 2005, possui prefácio de Hounsai Genshitsu
Sen, que desde
1964 é o mestre da escola Urasenke de Cerimônia do
Chá. Não possui tradução
para o português. "O
Guia do Chá", de Jane Pettigrew,
publicado pela Livros e Livros /
Centralivros Lda., Portugal. Um dos guias mais completos e
didáticos sobre
vários tipos de chá existentes no mundo.
Tradução do inglês para português
lusitano. "Chá",
de
Jane Pettigrew, publicado pela Nobel, em português brasileiro.
Trata-se de
versão resumida do "Guia do Chá" da mesma autora.
É básico e
recomendável para quem está se iniciando como gourmet
de chás, mas o formato comprido e estreito do livro é um
pouco incômodo. "Tea
in
the East", de Carole Manchester, publicado pela William Morrow &
Co. Edição
de luxo
com belas fotos, é um livro para gourmets sobre
vários tipos de chá típicos do
sudeste asiático e do extremo oriente.
Não possui tradução para o português.
30/agosto/2006 AO USAR
INFORMAÇÕES DESTE SITE, NÃO DEIXE
DE MENCIONAR A FONTE www.culturajaponesa.com.br/cha
- Cristiane A. Sato LEMBRE-SE: AS
INFORMAÇÕES SÃO GRATUÍTAS,
MAS ISTO NÃO LHE DÁ DIREITO DE SE APROPRIAR DESTA
MATÉRIA.
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