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:: MEMÓRIAS
DE UMA GUEIXA, O FILME
Comentários de Cristiane A. Sato
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Filmes e assuntos orientais
têm sido bem recebidos no mercado
cinematográfico ocidental nos últimos anos. A
popularidade dos filmes de ação,
de terror, de artes marciais, e de atores e diretores asiáticos
nos Estados
Unidos agora abre espaço para assuntos mais contemporâneos
e dramas de época.
Em 2003, o sucesso e a boa aceitação de "O Último
Samurai" abriu
caminho para a produção de MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA.
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Baseado no romance
homônimo escrito por Arthur Golden, que virou
bestseller internacional nos anos de 1999 e 2000, trata-se da
história fictícia
de uma menina de 9 anos, Chiyo, filha de pescadores pobres vendida pelos
próprios pais à Niita okiya (casa de
gueixas), uma tradicional casa em Tóquio em 1929. A
princípio, Chiyo seria
educada com outra menina, Kabocha ("abóbora", no filme chamada
de
"Pumpkin"), para tornarem-se gueixas, mas após uma tentativa
frustrada de fuga da casa de gueixas, Chiyo é retirada da escola
de gueixas e
passa a trabalhar como empregada doméstica da okiya, em troca de
mero abrigo e comida. Além de ser tratada com
severidade e frieza pela okaasan
("mãe", modo pelo qual a gueixa mais velha administradora da
okiya é chamada), Chiyo fica à mercê das
intrigas de Hatsumomo, a gueixa mais experiente e popular da okiya.
Bela, mas orgulhosa e amarga,
Hatsumomo tem como rival sua antiga oneesan
("irmã mais velha", modo pelo qual a gueixa mais experiente
é chamada
pelas mais jovens), Mameha. Considerada a mais refinada das gueixas do
hanamachi ("cidade de flores",
palavra que designa a comunidade das gueixas que possuem registro
oficial para
trabalhar, reconhecidas como verdadeiras gueixas), Mameha é uma
geiko ("mulher das artes",
gueixa experiente) respeitada e independente por ter conseguido um
danna ("patrono", modo pelo
qual é chamado um homem que adota uma gueixa como amante
exclusiva) rico e
poderoso, que deu a ela uma vida luxuosa e livre das dívidas e
obrigações que
as gueixas que vivem em okiyas
possuem, motivo pelo qual Hatsumomo nutre enorme inveja de Mameha.
Sem família,
sem ter a quem recorrer ou aonde ir, a pequena Chiyo mal
sentia qualquer motivação em continuar viva, para passar
o resto de seus dias
como escrava doméstica de pessoas que procuravam ignorar sua
existência. Um
dia, ao parar numa das pontes sobre o rio
na cidade, um senhor acompanhado por duas outras gueixas interrompeu
seu
caminho para conversar um pouco com a desalentada Chiyo, impressionado
por seus
incomuns olhos azulados. Após comprar uma raspadinha para a
menina, o homem
chamado de Shachõ ("presidente de empresa", chamado no filme de
"Chairman") pelas gueixas se vai. Mesmo sendo criança, Chiyo
apaixona-se pelo Presidente (Chairman) com aquele simples encontro
casual, e
faz desse amor platônico sua razão de viver. Decidida a
reencontrá-lo, ela
decide fazer o que pudesse para tornar-se uma gueixa como as
moças que o
acompanhavam.
Muitos
anos se passam
e Chiyo, além de fazer os serviços domésticos na
okiya onde vive, é também criada de
Hatsumomo e de sua amiga Abóbora (Pumpkin), que passa a atuar
como maiko ("mulher da dança",
gueixa aprendiz). No dia da estréia de Pumpkin, Chiyo vai ao
restaurante onde
ela se apresentará para levar o shamisen
(cítara tradicional) esquecido pela amiga. Curiosa para ver a
apresentação,
Chiyo tenta dar uma espiada da varanda coberta do salão, quando
é surpreendida
acidentalmente por ninguém mais que o Presidente.
Dias depois, de volta
à okiya,
a vida de Chiyo muda com uma visita surpresa de Mameha, que
propõe à okaasan um estranho mas atraente acordo.
Mameha propôs-se a transformar Chiyo em um só ano na
gueixa mais famosa do hanamachi - o que implica também na mais
lucrativa. Se em 6 meses Chiyo não lucrasse o suficiente para
saldar sua dívida
com a okiya, ela lá permaneceria e
tudo que ela obtivesse a partir de então continuaria sendo da
casa, como
ocorria com Hatsumomo e Pumpkin. Mas se a meta fosse atingida, os
lucros de
Chiyo passariam a ser de Mameha, até ela saldar o investimento
feito no
treinamento de Chiyo. A okaasan
concorda com os termos e Chiyo, motivada pela chance de rever e poder
conquistar seu amado Presidente, agarra a oportunidade com
determinação férrea.
Assim, com a orientação de Mameha, além de
submeter-se a um rigorso treinamento
em artes e etiqueta, Chiyo adota o nome artístico de Sayuri e se
torna rival de
Hatsumomo e Pumpkin, tendo que lidar com as intrigas e o lado cruel de
um mundo
de beleza aparente e discreta sedução.
Superprodução
Menosprezada e Críticas
O livro "Memórias de
Uma Gueixa" atraiu a atenção de Steven
Spielberg, que comprou os direitos para a adaptação para
o cinema. Produzido
pela Amblin (empresa produtora de Spielberg), o filme MEMÓRIAS
DE UMA GUEIXA
teve um orçamento de 85 milhões de dólares e
contou com velhos e premiados
colaboradores do célebre diretor. A trilha sonora, premiada com
o Globo de
Ouro, foi composta por John Williams (maestro e diretor da
Filarmônica de
Boston, premiado com o Oscar pelas trilhas de "Tubarão", "Guerra
nas Estrelas", "E.T." e "Indiana Jones"), e teve solos
tocados pelo top star do violoncelo clássico, o chinês
Yo-Yo Ma. A direção do
filme foi entregue a Rob Marshall, premiado com o Oscar pela
adpatação para as
telas do musical da Broadway "Chicago", edição de Pietro
Scaglia e
figurinos de Colleen Atwood.
Curiosamente, apesar
do alto investimento e da equipe de produção
renomada, por não ter em nenhum dos papéis principais um
ator ou atriz
ocidental que servisse de "chamariz" de público (por exemplo, no
caso
de "O Último Samurai" havia Tom Cruise), os distribuidores
americanos
classificaram MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA como "filme de arte", o que
fez
com que o filme fosse exibido em poucas salas, no circuito alternativo
quando
de seu lançamento. Entretanto, salas lotadas e grande procura
pelo filme levaram
os distribuidores a relançar MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA em
redes cineplex. O que a
princípio foi considerado "filme de arte" pelos distribuidores,
tornou-se um sucesso comercial sendo o quinto filme mais visto nos
Estados
Unidos em dezembro de 2005 (um feito relevante, considerando que "As
Crônicas de Nárnia" e "Harry Potter e o Cálice de
Fogo" estavam
em cartaz na masma época), e sendo indicado em várias
categorias para o Globo
de Ouro, incluindo o de melhor atriz para Zhang Ziyi, que fez o papel
da
protagonista Sayuri.
Lançado ainda
em 2005 no Japão, onde o título foi trocado para
"Sayuri", o filme não causou o mesmo impacto que teve no
ocidente e
ainda foi objeto de inúmeras críticas, que de modo geral
concluíam que MEMÓRIAS
era um filme de gueixas "para inglês ver", ou seja, um filme
caricatural que mais reflete uma imagem ocidentalizada e distorcida do
Japão e
das gueixas, do que um período da história recente do
país. Embora a produção
do filme tivesse procurado retratar do modo mais fiel possível o
Japão dos anos
30 e 40, houve decerto alguns absurdos, como a seqüência da
dança solo de
Sayuri.
Usando um figurino de
teatro kabuki
contemporâneo e dançando uma coreografia visivelmente
inspirada no butoh (dança contemporânea também
conhecida como "dança do sofrimento"), a
apresentação da protagonista
ficou completamente fora de contexto, uma vez que ambos os elementos -
o kabuki contemporâneo, que permitiu
mulheres atuando no estilo e o butoh -
surgiram no Japão só a partir da década de 70. Com
os cabelos soltos, sandálias
extravagantemente altas típicas das oirans
(prostitutas, cortesãs da era feudal) e quimono branco, aos
japoneses a
personagem de Zhang Ziyi ficou mais parecida com as fantasmas
tradicionais que,
acredita-se, aterrorizam os vivos durante o o-bon
(finados, no verão), como O-tei e Oiwa-san. Uma performance como
a do
filme, principalmente antes da guerra, teria chocado a platéia e
marcado o fim
da carreira da gueixa que o fizesse. Como o butoh
é mais popular no ocidente que no próprio Japão,
as platéias ocidentais devem
ter gostado da seqüência, mas para os japoneses este foi
apenas um de vários
elementos que, na opinião deles, descaracterizou o filme.
Outra crítica
constante no Japão foi a de que os papéis das principais
gueixas foram entregues a atrizes não-japonesas (Zhang Ziyi que
faz Sayuri é
chinesa, Gong Li que faz Hatsumomo também, e Michelle Yeoh que
faz Mameha é
malaia) - uma escolha de elenco provavelmente ditada pela perspectiva
de
melhores bilheterias, visto que todas são atrizes já
famosas no ocidente, do
que pela adequação cultural aos papéis que
interpretariam, o que exigiu delas
esforço redobrado para representar gueixas de modo convincente
ao menos para
platéias ocidentais. Pode se fazer tal afirmação
ao se observar que os papéis
da gueixa Abóroba (Pumpkin) e o da gueixa-mãe, que embora
secundários eram
complexos e desafiadores, foram confiados a duas atrizes japonesas
extremamente
experientes e famosas no Japão: Youki Kudoh, que aos 34 anos
conseguiu
personificar uma adolescente Abóbora (Pumpkin), e Kaori Momoi,
que além de
consagrada atriz de cinema com mais de 50 filmes no currículo,
é também cantora
de sucesso com mais de 15 álbuns lançados. Já os
principais papéis masculinos
foram designados a dois atores que são verdadeiras celebridades
no Japão: Ken
Watanabe (mais conhecido como o líder Katsumoto em "O
Último
Samurai") e o premiadíssimo Kõji Yakusho, mais conhecido
pelo salaryman
Sugiyama-san, protagonista de "Shall We Dance? - Vamos Dançar?".
Outro problema, de
caráter técnico e cultural, referiu-se à maquiagem
das gueixas usada no filme. Para as verdadeiras gueixas, a maquiagem
tem, além
do efeito estético, toda uma simbologia que carrega três
séculos de história e
tradição, sendo um importante traço cultural da
gueixa. A base, que nas gueixas
de verdade é aplicada em grande quantidade para formar uma
máscara ultra-branca
uniforme, foi usada de modo muito tímido nas atrizes, deixando
transparecer o
tom da pele e sobre a qual se aplicou blush avermelhado nas bochechas.
É
possível que a produção tenha usado menos base
branca nas atrizes para evitar o
efeito "cobertura de bolo" na hora de filmar (que ocorreu com a atriz
Kate Blanchett na cena final de "Elizabeth I"), mas blush é um
sacrilégio. Uma gueixa de verdade não usa blush nas
bochechas - que é uma
característica de maquiagem tradicionalmente considerada bela no
ocidente e na
China, mas não no Japão, onde pintar as bochechas
só se tornou moda por
influência ocidental no século XX e nunca foi adotada
pelas gueixas.
Outro aspecto que
aparentemente foi mal recebido no filme pelos
japoneses foram decotes pronunciados na frente e nas costas dos
quimonos, e a
maquiagem em forma de "w" atrás do pescoço, que numa
gueixa de
verdade não passa da altura do ombro, mas que no filme chegou
à metade das
costas das atrizes. Algo que provavelmente foi feito com a
intenção de realçar
um aspecto de beleza "exótica" sob o ponto de vista ocidental,
para
os japoneses deu às gueixas no filme a aparência de oirans
- a extravagância era uma característica delas - mostrando
que o ocidente ainda confunde gueixas com prostitutas. Sem respeitar a
correta
aparência de uma verdadeira gueixa, para os japoneses
MEMÓRIAS foi apenas um
filme ocidental inspirado no Japão para ocidental ver, e que ao
invés de
esclarecer reforça alguns mitos e distorções sobre
as gueixas.
Em que pesem as
críticas no Japão, o sucesso da versão
cinematográfica
de MEMÓRIAS no ocidente tem alguns méritos
inegáveis. É a primeira vez que
Hollywood produz um filme de primeira linha sobre um tema oriental e
com elenco
principal totalmente oriental - algo inimaginável de ser feito
uma década
atrás. Há que se considerar, antes de mais nada, que
MEMÓRIAS é uma história de
ficção escrita por um ocidental, o que serve de desculpa
para certos exageros cometidos
em nome da dramaticidade e da natureza de show
biz do filme, e não um documentário sobre uma gueixa da
vida real. O filme
também serviu para reavivar o interesse por um tema muito
discutido porém
efetivamente pouco conhecido pelo público no ocidente, que
são as gueixas. E
oxalá a partir do filme alguns venham a se interessar em saber o
que são de
fato as gueixas e como é o mundo delas - um mundo tão
peculiar cuja existência
só poderia ocorrer na sociedade japonesa.
Celebridades no
Japão, Desconhecidos no Ocidente
Algo que chamou a
atenção dos que acompanham o cinema japonês, foi a
desenvoltura com que os atores japoneses enfrentaram em MEMÓRIAS
o desafio de
fazer papéis dramáticos em inglês. Para atores
asiáticos o inglês é uma
barreira difícil - mesmo o consagrado Jackie Chan, além
de fortíssimo sotaque,
tem dificuldade com os diálogos - e com os japoneses a coisa
não é diferente.
Durante a divulgação de MEMÓRIAS, a imprensa
ocidental deu ênfase às atrizes Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh,
mas pouco se falou de Ken Watanabe
(o Presidente), Kõji
Yakusho (Nobu), Youki Kudoh
(Abóbora), Kaori Momoi (Gueixa-mãe), e de Suzuka Ohgo
(Chiyo, Sayuri criança):
uma lacuna que o site CULTURA JAPONESA resolveu preencher.
Ken
(diminutivo de
Kensaku) Watanabe
nasceu em 1959,
filho de mãe e pai professores. Decidido desde a
adolescência a tornar-se ator,
resolveu mudar-se para Tóquio em 1978, onde formou-se em artes
dramáticas. Sua
primeira aparição na tevê foi em 1982, mas a fama
veio apenas em 1987, quando
interpretou o samurai Date Masamune na série de tevê
"Dokuganryu Masamune" (Masamune, o Dragão de Um Só Olho).
Com 1,85m - alto para os
padrões japoneses - Ken Watanabe
tornou-se famoso no
Japão por inetrpretar samurais fortes e decididos, mas
também estrelou filmes
nos papéis de gangster, empresário e de general. Tendo
feito um pequeno papel
em "Tampopo", filme de 1985
do diretor Juzo Itami (o mesmo de "Marusa
no Onna - A Coletora de
Impostos"), Watanabe começou
a se tornar conhecido no ocidente no papel de Raita Onuki, um motorista
extremamente passional que acompanha solitário da cabine de seu
caminhão o
confuso desenrolar de uma radio-novela na comédia "Rajio no
Jikan" (A Hora do Rádio, ou Bem-vindo, Mr.
McDonald). Em 1989, Ken Watanabe foi diagnosticado com leucemia e em
1993 ele
afastou-se das telas para dedicar-se ao tratamento da doença.
Seu retorno em
1997 em "Bem-vindo, Mr.
McDonald" foi o início de uma fase de muito trabalho e
conquistas, que
culminou em 2003 com "O Último
Samurai".
Dividindo cena com Tom
Cruise, Watanabe personificou Katsumoto, líder
samurai idealista no Japão do início da Era Meiji (1868 -
1912), personagem
baseado no samurai da vida real Takamori Saigo, e em 2004 foi indicado
ao Oscar
de melhor ator coadjuvante pelo trabalho em "O
Último Samurai" - o 3º ator japonês, entre os 6
asiáticos a receber
tal indicação em toda a história do Oscar. Embora
não tenha ganho a estatueta,
Ken Watanabe passou a ser cotado para outras produções
nos Estados Unidos, além
de continuar extremamente ocupado no Japão, onde em 2004 fez o
protagonista
Shuichiro Imanishi na série de tevê "Suna
no Utsuwa" (Receptáculo de Areia), e estrelou o filme "Kita no
Zero Nen" (Ano Zero
no Norte) fazendo o personagem Hideaki Komatsubara. Nos Estados Unidos,
em
2005, além de fazer o Chairman, protagonista romântico de
MEMÓRIAS DE UMA
GUEIXA, Watanabe fez o personagem Ra'a Al Ghoul em "Batman Begins".
Atualmente, ele participa nos Estados
Unidos das filmagens de "The Air I
Breathe" (O Ar Que Respiro - ainda sem título no Brasil). Com 26
filmes e séries de tevê em seu currículo, Watanabe
é um dos atores japoneses
mais conhecidos na atualidade.
Kõji Yakusho
é uma verdadeira
celebridade no Japão. Nascido em 1956, seu verdadeiro sobrenome
é Hashimoto (o
sobrenome artístico Yakusho, "funcionário
público", vem do trabalho
que ele exercia antes de se tornar ator). A decisão de tornar-se
ator veio
relativamente tarde, aos 22 anos, quando foi aprovado para o
Mumei-juku, conhecido estúdio-escola
para atores iniciantes dirigido pelo renomado ator Tatsuya Nakadai (um
dos
preferidos do diretor Akira
Kurosawa, participou de "Os Sete Samurais"
e protagonizou "Kagemusha - A Sombra do Samurai"), quando foi um dos
apenas 4 aprovados entre 800 candidadtos. Em 1983, Yakusho tornou-se
famoso ao
interpretar Oda, Nobunaga, famoso líder feudal do século
XVI na novela
histórica da tevê NHK "Tokugawa,
Ieyasu", sobre o primeiro xógun do clã que dominou o
Japão de 1603 até
1867. Ao participar em 1984 de outra novela histórica da NHK,
"Miyamoto, Musashi", fazendo o
papel do próprio Musashi, Yakusho não apenas virou
estrela, mas um dos mais
requisitados galãs da tevê e do cinema no Japão.
Não querendo ser marcado por
interpretar apenas um gênero ou tipo de personagem, ele procurou
diversificar
sua participação em filmes. Em 1985, Yakusho
também apareceu em "Tampopo", dirigido por Juzo
Itami, como o homem de terno branco.
1996 foi um grande ano
na carreira de Yakusho. Estrelando três filmes
nos quais revelou enorme versatilidade como ator, "Nemuru Otoko" (O
Sonolento), "Shabu Gokudo" e "Shall
We Dance? - Vamos Dançar?", ele arrebatou impressionantes 14
prêmios
de melhor ator na Ásia. Sucesso de público e de
crítica, "Shall We Dance? - Vamos Dançar?" recebeu o
prestigioso
prêmio de melhor filme do ano da Academia Cinematográfica
Japonesa (o
"Oscar do Japão"), e conseguindo distribuição
internacional tornou
Yakusho conhecido no exterior pelo papel de um tímido e
típico salaryman no
Japão moderno, que encontra na dança de salão e em
sua bela instrutora um novo
e motivante modo de ver a vida. Em 2004, "Shall
We Dance? - Vamos Dançar?" foi refilmado nos Estados Unidos, com
Richard Gere interpretando o personagem originalmente feito por
Yakusho. A
consagração, entretanto, foi marcada por uma triste
perda. Em junho de 96, sua
mentora e professora, a atriz, diretora e dramaturga Yasuko Miyazaki,
esposa de
Tatsuya Nakadai e com quem Yakusho manteve freqüente contato
após deixar o Mumei-juku, faleceu aos 65 anos vítima
de câncer no pâncreas.
Em 1997, Yakusho
obteve reconhecimento internacional ao conquistar a
Palma de Ouro de melhor ator no Festival de Cannes em "Unagi" (A
Enguia), filme dirigido por Shohei Imamura
(que em 1983 venceu a Palma de Ouro com "A
Balada de Narayama"). Somando
atualmente 41 filmes para cinema e séries de tevê em sua
carreira, Kõji Yakusho
apareceu pela primeira vez numa produção americana e
falando em inglês em
MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA, fazendo o papel de Toshikazu Nobu,
empresário e amigo
do Chairman, que teve o rosto desfigurado ao salvar o amigo durante uma
batalha
na Manchúria e que se apaixona pela gueixa Sayuri. Recentemente,
Yakusho
protagonizou "Za Uchõten
Hoteru" ("O Hotel Uchõten" - ainda sem título em
inglês e
português) filme escrito e dirigido por Koki Mitani e retornou
aos Estados
Unidos, onde está participando das filmagens de "Babel" dirigido
por Alejandro Inarritu, e de "Silk" ("Seda",
ainda sem título em português) dirigido por
François Girad.
Filha
de Hachiro Isawa,
conhecido cantor na década de 60, Youki Kudoh
manteve seu sobrenome
verdadeiro para ser reconhecida por seu próprio talento, e
não por ter um pai
famoso. Nascida em 1971, aos 12 anos ela foi descoberta por um
caça-talentos e
logo foi lançada como cantora mirim. Sua estréia, tanto
no cinema como no meio
musical, foi em 1984 com o filme
"Gyakufunsha
Kazoku" (A Família Maluca), no qual ela fez o papel da
protagonista
adolescente Erika Kobayashi e gravou a música-tema do filme.
Desde então, ela
vem desenvolvendo uma sólida carreira na música, na
tevê e no cinema, somando
até o momento 18 filmes em seu currículo. Em 1991, Kudoh
recebeu seu primeiro
prêmio de melhor atriz no Japão por seu trabalho em
"Sensõ to Seishun" (Guerra e Juventude). Fluente em
inglês, em 1999 ela foi escalada para o elenco de "Neve Sobre os
Cedros", produção americana baseada no
livro de mesmo título, sobre um rapaz americano que se apaixona
por uma amiga
de escola imigrante japonesa, num romance proibido por ambas as
famílias,
agravado pela 2ª Guerra e pelo envio da moça e sua
família a um campo de concentração
para japoneses e seus descendentes no interior dos Estados Unidos.
Famosa no
Japão, Youki Kudoh também é conhecida por
emprestar sua voz a personagens em
desenhos animados. Em 2000, ela fez a voz original de Saya, a
protagonista de "Blood - The Last Vampire", animê
longa-metragem cultuado por fãs do gênero como os
irmãos Wachowsky, criadores e
diretores da trilogia "The
Matrix".
Em MEMÓRIAS DE UMA
GUEIXA, Kudoh teve a difícil missão de personificar a
jovem gueixa Pumpkin em diferentes fases: antes da guerra, como uma
maiko relativamente inexpressiva mas
amiga de Sayuri, e depois da guerra, como uma gueixa decadente,
destituída de
uma okiya e americanizada, que se
prostitui a soldados ianques para sobreviver. Divulga-se na internet
que Youki Kudoh seja prima ou irmã de
Minako Honda, famosa cantora pop nos anos 80, o que é um dado
inverídico. Em
seu site oficial, a atriz explica que tal confusão ocorreu por
ela ter
substituído emergencialmente a cantora numa
apresentação, mas que não há
nenhuma relação de parentesco entre ambas. No
Japão, Minako Honda é lembrada
por ter deixado a carreira no auge da fama devido à leucemia,
que comoveu o
público na época, e a substituição por
Youki Kudoh foi interpretada de forma
equivocada.
A veterana Kaori Momoi
é uma das
mais ativas atrizes e cantoras do cenário artístico
japonês. Nascida em 1952,
filha de um professor universitário e de uma estilista de
jóias, ainda criança
começou a praticar balé e aos 12 anos foi para a Real
Academia Britânica de
Dança, onde estudou durante 3 anos. De
volta ao Japão, ainda adolescente foi descoberta como
cantora-talento, mas
Momoi encontrou sua vocação definitiva como atriz a
partir de 1971, ao
participar do drama romântico "Ai
Futatabi" (Amar Novamente). Desde então, ela vem atuando
constantemente nos mais diversos papéis no cinema e na
tevê no Japão,
colecionando prêmios e uma carreira que atualmente soma 51
filmes. Entre seus
trabalhos mais conhecidos estão "Shiawase
no Kiiroi Hankachi" (O Lenço Amarelo da Felicidade), filme de
1977
onde além de interpretar a protagonista ela também canta
a música-tema, que fez
sucesso nas rádios. Em 1979 Momoi participou de "Otoko wa Tsurai
yo: Tonderu Torajiro" - um dos muitos
longa-metragens da série para cinema "É
Triste Ser Homem" , extremamente popular no Japão, no papel da
mocinha
Hitomi, em quem o protagonista Tora-san deposita (como em todos os
filmes da
série) suas esperanças românticas para, no final,
ter que desistir dela. Em
1980, ela participou de "Kagemusha -
A Sombra do Samurai", do diretor Akira Kurosawa, no papel da dama
Otsuyanokata. Em 1996, Momoi interpretou a mãe de um desenhista
de mangá
adolescente, Hiroshi Fujimoto (criador de "Doraemon" e "Super
Dínamo"), que se muda para começar uma carreira em
Tóquio no início dos
anos 60 em "Tokiwa-so no
Seishun" (A Juventude nos Apartamentos Tokiwa). Famoso por seus
quadrinhos infantis, Fujimoto era uma celebridade no Japão, e o
filme foi
baseado na biografia do desenhista, falecido naquele mesmo ano. Uma de
suas
atuações mais lembradas é a da temperamental
auto-declarada "diva da
radionovela" Nakaura-san, na hilária comédia "Rajio no
Jikan - Bem-vindo, Mr. McDonald", de 1997. É de
uma fala dela que deriva o título em português do filme.
Em MEMÓRIAS DE UMA
GUEIXA, Momoi revelou versatilidade ao conseguiu fazer o difícil
papel
dramático da gueixa-mãe em inglês, como
também prova aos 53 anos estar em plena
forma para continuar atuando, num meio onde a idade para as mulheres
costuma
interromper ou diminuir a oferta de papéis. Atualmente ela
também se dedica ao design de jóias, tendo lançado
sua
própria marca, Momoi in Maki, no
Japão.
Apesar de sua pouca idade, Suzuka
Ohgo
literalmente rouba a cena na primeira meia hora de MEMÓRIAS DE
UMA
GUEIXA no papel de Chiyo, a gueixa Sayuri quando criança.
MEMÓRIAS, além de ter
sido seu primeiro trabalho falando em inglês, foi também
seu primeiro filme
produzido no exterior. Isto não quer dizer, entretanto, que a
pequena Suzuka
seja de todo uma novata. Nascida em 1993, ela começou a atuar em
2000 ao se juntar
ao grupo teatral Himawari, e logo
revelou talento como atriz mirim. Além de participar de algumas
peças da trupe,
ela também apareceu em alguns programas de tevê e
comerciais nos anos
subseqüentes. No início de 2005, ela estreou no cinema sob
a direção de Isao
Yukisada em "Kita no Zero Nen" (Ano
Zero no Norte), fazendo o papel da filha do personagem de Ken Watanabe.
Já
tendo trabalhado com Suzuka, Watanabe indicou-a para a
produção de MEMÓRIAS, e
o resultado pode ser visto nas comoventes seqüências
iniciais do filme. No
momento, Suzuka Ohgo está particpando das filmagens de "Baltic
Paradise" (título internacional para Baruto no Gakuen), drama
ambientado
durante a 1ª Guerra Mundial, no qual soldados alemães
enviados para possessões
na Ásia acabaram em campos de prisioneiros japoneses. No filme,
Suzuka faz o
papel da filha mestiça de uma funcionária japonesa que
ajuda a garantir
tratamento digno aos prisioneiros, e que está à procura
de seu pai alemão.
20/fevereiro/2006
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