:: IKESAKI Os
Ideais do Empresário Ikesaki Instalado no 12º andar do seu
edifício, sede do grupo que leva o seu sobrenome, o
empresário Hirofumi
Ikesaki, tem sua agenda cheia de compromissos, que vão desde uma
reunião sobre
a reforma da Praça da Liberdade, um almoço no Rotary
Club, até uma reunião do
campeonato de sumô. Mesmo assim, Ikesaki não descuida de
seus negócios, como a
sua tradicional loja da Liberdade que completou 38 anos, suas grandes
lojas
atacadistas nas Marginais Tietê e Pinheiros, sua loja de
equipamentos para
salões de beleza, entre outros negócios, sempre nesse
ramo. É de longe o maior
distribuidor de artigos para cabeleireiros do Brasil. Por isso, recebeu
este
ano o título de "Empresário do Ano" da
Federação do Comércio do
Estado de São Paulo. Hirofumi
Ikesaki é
um dos mais novos associados do Nippon. O senhor
é um dos mais novos sócios... Foi o
Kayano (presidente do Nippon) que insistiu muito para
participar e eu aceitei pois o Nippon é um exemplo na
coletividade
nipo-brasileira. Eu
já havia sido sócio do Nippon bem no começo.
Levava a família
para passar o dia no bosque, e comemoramos muitos aniversários
lá. Só que
depois vieram os novos sócios e o nível de disciplina
caiu. Então nós paramos
de freqüentar o clube. Mas isso foi coisa de mais de 20 anos
atrás. O seu projeto
para o ano 2008, Centenário da Imigração Japonesa,
é também um clube? Bom, eu
diria que é um projeto para começar os próximos
100 anos. Eu penso
em algo muito grande, um lugar onde a família possa
praticar esporte, se divertir, conhecer outras pessoas, com templos,
escola
desde pré até faculdade, cinema, teatro, cinema, lojas,
hospital, restaurantes,
biblioteca, etc. Onde
haveria espaço para tanta coisa assim? Entrei em
contato com diversas prefeituras nas cidades próximas de
São Paulo, mas não encontrei nada com esse perfil.
Até que o proprietário da
Fazenda Tozan ofereceu 100 alqueires em Campinas. Não
é longe? Com o
rodoanel a distância será relativa. Acho que vamos levar
mais tempo para chegar ao rodoanel do
que no restante do percurso. Depois, ao lado desse terreno pretendemos
realizar
loteamentos para que as pessoas possam construir para morar. Uma pessoa
aposentada não precisa continuar morando em São Paulo.
Pode morar num lugar com
muito mais qualidade de vida, e no fim de semana, os filhos
poderão visitá-la,
aproveitando para fazer compras e praticar esporte. Em que o
senhor baseou essa idéia? Não
existe em nenhum lugar do mundo. Mas veja, a comunidade
japonesa do Brasil é a maior do mundo. Estamos na maior cidade
da América
Latina. Entretanto, não temos nada grande que indique a nossa
presença aqui. Em
cem anos, não construímos nada realmente relevante. Acho
que está na hora de
pensarmos no futuro das próximas gerações. Eu
quero que elas tenham também um
pouco da essência da cultura e do espírito japonês. Como esse
projeto será financiado? Reunimos
os dirigentes das confederações esportivas. O terreno
já
existe. Então, cada uma das entidades terá a
incumbência de construir seu
campo, seu ginásio ou sua quadra. Até 2008 cada um
deverá ter pelo menos uma
instalação. O projeto geral
será do
arquiteto Ruy Ohtake. O
senhor pensava em ser empresário quando saiu de Bastos para
São
Paulo? Eu tinha
doença no estômago e no intestino e fiquei internado aos
15 anos. Já era muito magro e fiquei pior depois disso. A
família toda trabalhava na roça, mas como eu não
tinha condições
para voltar à agricultura, meu pai arrumou-me um emprego num
armazém de secos e
molhados em Bastos. Estávamos no final da 2ª Guerra Mundial
e o patrão andava
em outras cidades procurando mercadorias que faltavam. Eu dormia no
depósito
onde trabalhava, num lugar cheio de ratos. Uma noite chegaram 5
caminhões de
farinha e só tinha eu para descarregá-los. Mas consegui. Eu era magro mais tinha muita garra, sempre
procurei superar a mim mesmo. Depois de
três meses nesse rítmo, consegui recuperar o peso e
fiquei mais forte. Meu pai veio me buscar para voltar à
roça. Mas eu não queria
mais voltar. Preferiu
continuar descarregando sacos? Não
é isso. Como Bastos estava confuso por causa de brigas entre
japoneses ao final da Guerra, não havia sossego, e meu pai tinha
adquirido uma
terra em Maringá, numa mata virgem. Aí
teria que começar tudo de novo, para ver se dava certo. Para
mim a questão era muito simples. O agricultor planta, investe e
reza para o
tempo ajudar, para ter uma boa colheita. E quando a colheita é
boa o preço é
baixo, pois o agricultor não pode fazer seu preço.
Enquanto que o comerciante
sabe quanto pode ganhar em cada produto na hora da compra. Por isso eu
preferia
o comércio a agricultura. Eu queria
tentar a vida em São Paulo. Eu era jovem e queria
estudar também. Em Bastos o ginásio havia fechado por
falta de alunos. O seu pai
não poderia ir para Maringá sem o senhor, com outros
filhos? Poderia,
mas não queria. Ele era radical, e não aceitava que seu
filho o desobedecesse. Não conseguindo me convencer, pediu para
um amigo dele
falar comigo, mas não deu certo. O seu pai
mudou de idéia depois? Foi uma
surpresa. Um dia meu pai parou atrás de mim, e eu pensei
que depois de tanta insistência iria levar uma surra. Mas
não, ele disse que
iríamos todos para São Paulo para batalhar. E pediu para
que eu vendesse o
cavalo, a carroça, os equipamentos agrícolas e a
fazenda... Qual foi
a primeira atividade em São Paulo? Um
conhecido de meu pai colocou-nos como aprendizes de tintureiro
no bairro de Tremembé. Tempos depois compramos o negócio,
investimos em
equipamentos, modernos para a época, e tornamo-nos o maior da
região. A família
realmente trabalhava muito, tinha que dar certo. Como
sairam da tinturaria para a área de cabeleireiros? O
trabalho na tinturaria era muito cansativo. Nós estávamos
acostumados à vida dura na roça, mas percebi que aquilo
era um trabalho árduo,
que necessitava de um expediente longo para ser lucrativo. Resolvemos
vender a
tinturaria e adquirir uma loja que também fabricava produtos
químicos para
tinturaria. Depois surgiram tecidos que não precisava passar,
mostrando que o
setor que estávamos iria declinar logo. Ao mesmo tempo
percebemos que os
japoneses estavam melhorando de vida e já iam a festas.
Então precisavam cuidar
da aparência. Na época eu descobri que uma moça
sozinha, com uma pequena sala
numa residência, poderia ganhar mais do que uma tinturaria
inteira. Por isso,
aproveitamos as mesmas instalações que já
tínhamos para comercializar produtos
para cabeleireiras. Poderia
deixar uma mensagem para os jovens? Acho que
qualquer pessoa que tem destaque na vida, veio do lado
mais pobre. É preciso ter garra, decisão e coragem. Por
ter sido um menino do
mato, sem conhecimento, achava que precisava dobrar meus
esforços para vencer
aqui. A chance de vencer estava em chegar mais cedo para trabalhar,
sair mais
tarde, arrumar tudo, enfim, fazer mais do que os outros. Depois de
chegar em
São Paulo cheguei a trabalhar numa distribuidora como varredor e
cheguei até a
dirigir taxi. Mas sempre dei o máximo de mim, fazia aquilo que
era impossível
para os outros. O jovem
tem que ser responsável, e se tiver um
emprego, perguntar sempre a si mesmo, se aquele serviço que ele
faz, está dando
lucro para a empresa. O sucesso é conseqüência disso. Publicado
na Revista Nippon nº23
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