:: MAKOTO IGUCHI Makoto Iguchi
tem 67 anos, 45 dos quais dedicados à Associação
Pró-Excepcionais Kodomo no
Sono, onde é o presidente. Mas esse nissei, filho de avicultor,
também foi
prefeito do município de Ferraz de Vasconcelos por duas
legislaturas, além disso,
ele é bastante conhecido pelas suas cerejeiras. Associado do
Nippon desde 2001,
Iguchi concedeu esta entrevista na Secretaria da Fazenda, onde é
assessor
parlamentar há nove anos. O senhor
conhece todos os clubes nipo-brasileiros. Por que se
interessou pelo Nippon? Na
verdade, o meu pai Kichisaburo Iguchi foi um dos primeiros
associados do Nippon. Eu até pensei que ele tivesse sido um dos
seus
fundadores, mas outro dia constatei que ele não participou da
fundação do
Nippon. Enfim, ele adquiriu o título no início do
empreendimento e acho que ele
mesmo nunca chegou a ir ver. Eu fui algumas vezes mas não tinha
nada na época,
só mato. Hoje as pessoas saem da cidade para ver mato, mas na
década de 60
havia mato em qualquer lugar... Meu pai, que tinha uma incubadora de
pintinhos
em Ferraz de Vasconcelos, acabou cancelando o título já
que não aproveitava o
clube. O senhor
está aproveitando agora? Um dos
meus filhos, que gosta de futebol, se interessou pelo
Nippon e adquiriu o título, mas como ele é solteiro, na
época achou melhor que
o titular fosse eu, para que eu e minha esposa pudessem também
usufruir do
clube. Eu tenho ido de vez em quando e estou gostando. É um
grande clube. Eu
até ofereci mudas de cerejeira para plantar lá. O que o
senhor fez até ser eleito prefeito? Comecei
com o meu pai na granja, depois trabalhei com venda de
rações e medicamentos para aves, e cheguei a ter
até uma loja de móveis. Deixei
essas atividades quando fui eleito prefeito em 1973. Tive um segundo
mandato de
1983 a 1988. Candidatei-me a deputado federal, e como suplente, assumi
por um
mês a vaga deixada por Geraldo Alkimin, ocupando inclusive o
mesmo gabinete. Como o
Kodomo no Sono entrou em sua vida? Um monge
budista chamado Ryoshin Hassegawa idealizou uma entidade
para crianças excepcionais, e o meu pai doou o terreno em
Itaquera, onde ele
estava plantando eucalipto, para sua construção. Os
líderes da coletividade, na
época, queriam que o meu pai participasse da diretoria da
recém-fundada
entidade, mas ele não gostava de aparecer, então, pediu
para mim, então com 22
anos de idade, para participar em seu lugar. A diretoria do Kodomo no
Sono era
formada por personalidades conhecidas, como o deputado Yukishigue
Tamura, e eu
não sabia o que estava fazendo lá naquele meio. O jovem
Shigeaki Ueki, futuro
ministro, também participou da primeira diretoria da entidade.
Éramos dois
“moleques” no meio daqueles figurões. O que faz
o Kodomo no Sono? A
metodologia adotada pela entidade faz com que qualquer dom que a
pessoa tenha seja aproveitado ao máximo. Um excepcional
também tem seu dom e
procuramos canalizá-lo de uma maneira positiva. Por exemplo, o
Kodomo no Sono
tem uma granja de produção de ovos, e os internos cuidam
tão bem das galinhas
que a produtividade é muito alta. Chegamos a receber um
prêmio como a melhor
granja do Estado de São Paulo. Temosuma fábrica de
cerâmica artesanal, e as
nossas peças concorrem em qualidade e preço com os
similares importados da
China e do Japão. Num concurso internacional de poesia da TV NHK
do Japão, para
portadores de deficiência mental ou física, cada
país selecionou os 10 melhores
trabalhos. Desses, 4 foram escritos pelos internos do Kodomo no Sono.
Temos
também uma fábrica de adubo orgânico, reconhecido
pela sua alta qualidade, e o
artesanato. Sinto
bastante realizado pois os internos de nossa entidade
conseguem realizar trabalhos tão bons que as pessoas ditas
“normais” não
conseguem. É claro que o mérito é de todos os
nossos colaboradores, já que a
nossa entidade é uma das campeãs em colaboradores.
Só no nosso bazar temos
1.300 pessoas ajudando. O senhor
chegou a ter problemas com a aquisição de uma
propriedade... A
diretoria aprovou a destinação de uma parte dos recursos
da
entidade para aplicação em imóveis, visando o
futuro. Depois de visitarmos várias
propriedades, escolhemos uma em Cerqueira César, de 126
alqueires, ao lado da
represa Jurumirim e a compramos. Aí começaram as
desavenças. Disseram que eu
estava roubando, e diretores pediram demissão. Acusaram-me de
várias coisas,
inclusive de que o terreno pertencia à irmã do
então secretário da fazenda,
Yoshiaki Nakano, com quem eu trabalhava. Só porque o sobrenome
da proprietária
era Nakano, mas não tinha nenhum parentesco, era
coincidência. Como
está a propriedade hoje? Plantamos
1.000 pés de macadâmia e 1.000 de cerejeira. O projeto
prevê o plantio de mais 2.000 mil mudas de cerejeira, e assim a
fazenda do
Kodomo no Sono terá o maior parque de cerejeiras do Brasil e
talvez até do
mundo. O local é belíssimo e esperamos que possa abrigar
500 casas construídas
por pessoas de terceira idade, que poderão viver com alta
qualidade de vida.
Parte do terreno está arrendado e está dando lucro para a
entidade.
Como as cerejeiras entraram em sua vida? Quando
era prefeito, fui procurado por um grupo de pessoas
lideradas pelo senhor Ushiwaka que estava oferecendo mudas de
cerejeiras de
graça. As mudas foram plantadas em Ferraz, e depois visitamos
outras
prefeituras e distribuímos as mudas. O sr. Ushiwaka idealizou e
fundou a
Associação das Cerejeiras do Brasil. Ele mesmo
desenvolvia e produzia as mudas
e sempre distribuía de graça. Um dia, ele disse que
estava velho, e pediu que
eu tomasse conta da associação após a sua morte.
Assim, estou dando
continuidade ao trabalho desse idealista. Distribuímos de
graça 2.000 mudas por
ano. O custo? Eu pago do meu bolso. Publicado
na Revista Nippon nº26.
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