As escolas femininas japonesas no Brasil – 3

 

A EDUCADORA MICHIE AKAMA

O sucesso da Escola Internacional de Corte e Costura e a grande demanda pela educação de meninas no estilo japonês inspirou a criação de várias escolas similares principalmente em São Paulo. Houve também escolas de corte e costura japonesas no interior do estado, no Paraná, no Rio de Janeiro e até no Pará.

Instalada originalmente numa mansão na rua São Joaquim, no bairro da Liberdade (onde atualmente está o Leques Hotel), a Escola São Paulo de Corte e Costura fundada por Michie Akama foi a mais bem sucedida das escolas técnicas femininas japonesas no Brasil. Criada em 1933 com o nome em japonês de San Pauro Saihõ Jogakuin, essa escola foi a maior das escolas femininas (slides 11 e 12).

Michie Akama veio para Brasil em 1930 já formada em Educação (Pedagogia) no Japão e aqui rapidamente prestou exames para ser reconhecida como professora de corte e costura, o que permitiu que a Escola São Paulo obtivesse em poucos anos o reconhecimento oficial no Brasil. Isso foi um diferencial relevante comparado com outras escolas que não procuraram reconhecimento pelo Ministério da Educação do Brasil uma vez que, em princípio, visavam formar moças para futuro retorno e reintegração à sociedade japonesa. Assim, em 1937, ao conseguir qualificação para o magistério e reconhecimento como instituição de ensino formal pela legislação brasileira, a Escola São Paulo de Corte e Costura foi renomeada em japonês como Akama Gakuin e suas alunas tinham diploma reconhecido qualificando-as como professoras de corte e costura. Foi também a primeira escola técnica feminina japonesa a ministrar aulas de português, embora as aulas de corte e costura e demais matérias fossem via de regra ministradas em japonês.

O fato de muitas das escolas femininas da colônia japonesa não serem reconhecidas pelo Ministério da Educação do Brasil, infelizmente gerou uma situação anômala para as jovens que nelas se formavam. Elas eram de fato moças alfabetizadas e versadas em japonês, com boa formação em economia doméstica, cálculos, música e artes, que em média tinham uma formação melhor que muitas alunas do Ensino Normal (antigo nível Secundário/Médio, que antigamente era o nível de formação de professoras do ensino Fundamental/Primário), mas que formalmente pelo sistema educacional brasileiro tinham só o diploma do Primário reconhecido.

Minha sogra, por exemplo, já viúva e com filhos adultos, fez um esforço a mais para obter o diploma do Ensino Médio prestando os exames do Supletivo uma vez que o diploma da Escola Internacional de Corte e Costura não era reconhecido pelo Ministério da Educação. Ela estudou sozinha por apostilas e depois da aprovação ainda fez curso de Auxiliar de Enfermagem e trabalhou em hospitais. Ela posteriormente abandonou a enfermagem e se tornou professora de matemática do Kumon.

Em entrevista pessoal sobre as Escolas Técnicas Femininas da comunidade japonesa em São Paulo, o sr. Yataro Amino (nascido em 1937, criador do primeiro Festival do Japão em 1997, antigo benshi artista dublador de filmes, empresário fundador da Amino Futons, ex-presidente do Yamanashi Kenjinkai e Conselheiro da ACAL, Associação Comercial e Assistencial da Liberdade), que conheceu as pessoas que ensinaram nessas escolas na época em que foram mais ativas na colônia, disse que “essas escolas existiam para preparar as mulheres para lidar com os desafios da vida. As escolas de corte e costura (saihou gakkou), de beleza (biyouin) e de culinária (kappo gakkou) formaram gerações e esposas e mães preparadas para enfrentar as incertezas da vida, especialmente se perdessem o marido e tivessem que criar os filhos sozinhas. Muitas mulheres sustentaram a si e suas famílias trabalhando com confecção de roupas, abrindo salões de beleza e fazendo comida para fora, abrindo buffets.” O fato de ter formação em uma dessas escolas tornava a moça bastante cobiçada por jovens à procura de uma esposa (estratégico porque os casamentos eram por Omiai), o que deu às escolas o apelido de “oyomesan gakkou” (escolas de noivas) “Muitas delas eram empresárias melhores que os próprios maridos”, comentou o Sr. Amino.

Com certeza a sra. Michie Akama foi uma educadora de visão e empresária de sucesso. Em 1944, o crescimento da Escola São Paulo fez necessária a mudança para um palacete maior na Rua Vergueiro nº 2625 (lembrado por gerações mais recentes como um restaurante desde a década de 1990, antes de ser demolido para a construção de um enorme prédio residencial). A partir de 1947, com o fim da 2a Guerra Mundial, voltar ao Japão deixa de ser objetivo das filhas dos imigrantes japoneses e o desejo de integração à sociedade brasileira faz com que a Escola Tamandaré (nome substituto da Escola São Paulo de Corte de Costura, mudança imposta pelo governo durante a 2a Guerra, assim como a nomeação de um diretor e uma interventora brasileiros não-descendentes) adotasse um currículo com matérias do ensino médio preparando alunas para exames vestibulares, assim como aulas de francês e inglês e adesão ao curso Supletivo a partir de 1950.

Em 1958, visando futuro crescimento e continuidade da escola criada pela matriarca Michie, a família decide criar a Fundação Michie Akama. A partir de 1965, a escola mudou-se para uma nova sede, na rua Altino Arantes nº 1098. Completamente integrada ao sistema de ensino nacional, a escola hoje chama-se Colégio Pioneiro.

(continua nos links abaixo)

1 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/educacao-feminina-japonesa-no-brasil-1/

2- https://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/educacao-feminina-japonesa-no-brasil-2/

3 -Esta matéria

4 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-4/

5 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-5/

6 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-6/

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