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Homens de negócios e turistas disputam acomodações em Tóquio. As reservas em hotéis de preços razoáveis, na base de até 100 dólares por noite, sem café da manhã, e localizadas perto das estações de metrô, precisam ser feitas com 2 meses de antecedência. Até os “capsule hotel” vivem lotados, porque os estrangeiros fazem questão de experimentar essas incríveis acomodações “na gaveta”.

tokyo apartments david lisbona

Foto de David Lisbona

A nova moda, entretanto, entre os estrangeiros é se hospedar nos antigos alojamentos para operários de Toquio. Essa escolha ocorre, em parte, porque os estrangeiros encontram dificuldades em alugar apartamentos comuns. É necessário encontrar um fiador e o contrato é de meio ano para cima. Existem muitos estrangeiros viajando a turismo ou a negócios, que pretendem ficar um ou dois meses na cidade, e esses vêm procurando hospedagem nesses alojamentos antigos, onde não encontram essas exigências, mas precisam morar num minúsculo quarto individual, com banheiro e cozinha usados em conjunto com outros moradores do condomínio. Esses detalhes que afastam o japonês comum é justamente o que atrai o estrangeiro. Morar nesses espaços pequenos e viver em comunidade, tal qual eles viram em filmes e desenhos japoneses, é o que parece chamar essas pessoas. Assim, os alojamentos com melhor localização estão todos lotados de estrangeiros.

Um empresário japonês que viaja diariamente de Chiba, cidade vizinha, para Tóquio, comenta que essas coisas tipicamente japonesas estão atraindo cada vez mais turistas estrangeiros. Aquela imagem de cidade internacional e bastante americana, que marcou a Tóquio nos anos 80, em plena bolha econômica, parece querer dar lugar a uma cidade mais “wa” (espírito japonês), com mais semelhança com a cidade ocupada pelo último xógun Tokugawa, quando a cidade tinha o nome de Edo. A prova disso é que proliferam pequenos restaurantes tipicamente japoneses, com placas escritas com grossos pincéis de shodô, no lugar das lanchonetes, que eram mais comuns nas décadas de 80 e 90. Na Estação Ryogoku, no centro de Tóquio, há vários restaurantes que servem o “chanko nabe”, prato preferido pelos lutadores de sumô, pois ali fica a principal arena do sumô japonês. E, por incrível que pareça, esse lugar vive abarrotado de turistas estrangeiros.

O mesmo empresário de Chiba lembra que voltou a ver vendedores de batata circulando pela cidade de bicicleta, algo que não se via há pelo menos 40 anos, o que também chama a atenção de estrangeiros no país. “Talvez o Japão menos internacional esteja voltando, curiosamente, por causa do interesse dos estrangeiros”, comentou.

Veja também: Por uma Tóquio de antigamente: feira-livre

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DSCN6003DSCN6007Tóquio é uma cidade que vive se transformando. E isso inclui, vez ou outra, uma volta ao passado. É o caso da curiosa batata-doce assada no vaso, preparada na saída da estação Ryogoku do metrô, no centro da metropole. Chama-se “tsuboyaki imo”, foi criado na Era Taisho (1912 a 1926)e foi popular ao final da guerra, mas havia sumido das grandes cidades. Basicamente, é um vaso de barro gigante com tampa. No fundo são colocados o carvão vegetal e o fogo, e há um orifício para entrada do ar. As batatas ficam suspensas perto da tampa. Esse processo permite que a batata fique assada sem ficar queimada, preservando assim, o seu sabor ideal. Shinji Arai, 72 anos, diz que quando se aposentou pensou em fazer alguma coisa que resgatasse o que seus filhos não conheciam mais, e encontrou a batata-doce assada, que foi comum  na sua infância. “Isso não dá lucro, porque demora muito para ficar pronta”, confessa o idealista.

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Shinya Matsuura e Shinji Arai

Mas não é só a batata-doce que traz de volta o sabor do Japão antigo. Outras barracas trazem verduras frescas, flores, conservas preparadas em casa, e até o raro chá de motigome (arroz usado em bolinhos). Na concorrência com as grandes redes de lojas de conveniência, a feira livre desapareceu de Tóquio faz tempo. Voltou aqui, por força do idealismo de jovens universitários, liderados por Yuichi Tomohiro, formado em administração comercial pela Universidade de Waseda, que criaram o “Sumida Yacchaba”, uma feira-livre como de antigamente, onde o agricultor traz o produto, vende e pode conversar com o consumidor. Na verdade, começou com a participação no evento “Festival da Educação Alimentar”, promovido pela administração do bairro de Sumida, que durou dois dias, em 2010. Na época, os agricultores conhecidos dos organizadores foram convidados, e o resultado foi positivo, com algumas oficinas realizadas para o público, e donos de restaurantes que vieram comprar os produtos. Com o sucesso, o grupo marcou um novo evento para junho do ano seguinte. Só não esperavam o grande tsunami de março de 2011, que devastou o Noroeste do país. O líder Tomohiro foi ajudar na região atingida e não tinha como retornar, e assim, seu colega Shinya Matsuura, formado em agronomia pela Universidade de Tokyo, teve que assumir o comando do próximo evento.

Estação Ryogoku do metrô

Estação Ryogoku do metrô

Matsuura tinha experiência, pois ajudava no festival de verão promovido anualmente no bairro de Sumida, e trazia verduras da cidade onde fazia estágio para vender. Ele soube que alguns idosos ficaram desnutridos após o incidente de 2011, pois não encontrava verduras nas lojas próximas. Assim, percebeu que não havia mais agricultores na região e constatou a importância da feira-livre no centro da cidade, onde viviam muitos idosos. Em 2012, planejou uma feira Yacchaba mensal em 18 localidades de Tóquio, incluindo pequenos espaços em cafeterias. A idéia era que os produtos ficassem próximos das casas dos moradores. Porém, a iniciativa não deu certo, pois não havia como administrar tantos locais.

Hoje, o “Sumida Yacchaba” é realizado semanalmente. Aos sábados, acontece na saída da Estação Hikifune, perto do Skytree, ponto turístico; e aos domingos, na saída da Estação Ryogoku. Sempre sorridente, alto e gordo, Shinya Matsuura é constantemente confundido com um lutador de sumô. Também pudera, o Yacchaba da Estação Ryogoku fica bem na frente do Estádio Nacional de Sumô.

Veja continuação em: Por uma Tóquio de antigamente: apartamentos de operários para estrangeiros

Francisco Noriyuki Sato, jornalista