Memórias de uma Gueixa, o filme
Filmes e assuntos orientais têm sido bem recebidos no mercado cinematográfico ocidental nos últimos anos. A popularidade dos filmes de ação, de terror, de artes marciais, e de atores e diretores asiáticos nos Estados Unidos agora abre espaço para assuntos mais contemporâneos e dramas de época. Em 2003, o sucesso e a boa aceitação de “O Último Samurai” abriu caminho para a produção de MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA.
Baseado no romance homônimo escrito por Arthur Golden, que virou bestseller internacional nos anos de 1999 e 2000, trata-se da história fictícia de uma menina de 9 anos, Chiyo, filha de pescadores pobres vendida pelos próprios pais à Niita okiya (casa de gueixas), uma tradicional casa em Tóquio em 1929. A princípio, Chiyo seria educada com outra menina, Kabocha (“abóbora”, no filme chamada de “Pumpkin”), para tornarem-se gueixas, mas após uma tentativa frustrada de fuga da casa de gueixas, Chiyo é retirada da escola de gueixas e passa a trabalhar como empregada doméstica da okiya, em troca de mero abrigo e comida. Além de ser tratada com severidade e frieza pela okaasan (“mãe”, modo pelo qual a gueixa mais velha administradora da okiya é chamada), Chiyo fica à mercê das intrigas de Hatsumomo, a gueixa mais experiente e popular da okiya. Bela, mas orgulhosa e amarga, Hatsumomo tem como rival sua antiga oneesan (“irmã mais velha”, modo pelo qual a gueixa mais experiente é chamada pelas mais jovens), Mameha. Considerada a mais refinada das gueixas do hanamachi (“cidade de flores”, palavra que designa a comunidade das gueixas que possuem registro oficial para trabalhar, reconhecidas como verdadeiras gueixas), Mameha é uma geiko (“mulher das artes”, gueixa experiente) respeitada e independente por ter conseguido um danna (“patrono”, modo pelo qual é chamado um homem que adota uma gueixa como amante exclusiva) rico e poderoso, que deu a ela uma vida luxuosa e livre das dívidas e obrigações que as gueixas que vivem em okiyas possuem, motivo pelo qual Hatsumomo nutre enorme inveja de Mameha.
Sem família, sem ter a quem recorrer ou aonde ir, a pequena Chiyo mal sentia qualquer motivação em continuar viva, para passar o resto de seus dias como escrava doméstica de pessoas que procuravam ignorar sua existência. Um dia, ao parar numa das pontes sobre o rio na cidade, um senhor acompanhado por duas outras gueixas interrompeu seu caminho para conversar um pouco com a desalentada Chiyo, impressionado por seus incomuns olhos azulados. Após comprar uma raspadinha para a menina, o homem chamado de Shachō (“presidente de empresa”, chamado no filme de “Chairman”) pelas gueixas se vai. Mesmo sendo criança, Chiyo apaixona-se pelo Presidente (Chairman) com aquele simples encontro casual, e faz desse amor platônico sua razão de viver. Decidida a reencontrá-lo, ela decide fazer o que pudesse para tornar-se uma gueixa como as moças que o acompanhavam.
Muitos anos se passam e Chiyo, além de fazer os serviços domésticos na okiya onde vive, é também criada de Hatsumomo e de sua amiga Abóbora (Pumpkin), que passa a atuar como maiko (“mulher da dança”, gueixa aprendiz). No dia da estréia de Pumpkin, Chiyo vai ao restaurante onde ela se apresentará para levar o shamisen (cítara tradicional) esquecido pela amiga. Curiosa para ver a apresentação, Chiyo tenta dar uma espiada da varanda coberta do salão, quando é surpreendida acidentalmente por ninguém mais que o Presidente.
Dias depois, de volta à okiya, a vida de Chiyo muda com uma visita surpresa de Mameha, que propõe à okaasan um estranho mas atraente acordo. Mameha propôs-se a transformar Chiyo em um só ano na gueixa mais famosa do hanamachi – o que implica também na mais lucrativa. Se em 6 meses Chiyo não lucrasse o suficiente para saldar sua dívida com a okiya, ela lá permaneceria e tudo que ela obtivesse a partir de então continuaria sendo da casa, como ocorria com Hatsumomo e Pumpkin. Mas se a meta fosse atingida, os lucros de Chiyo passariam a ser de Mameha, até ela saldar o investimento feito no treinamento de Chiyo. A okaasan concorda com os termos e Chiyo, motivada pela chance de rever e poder conquistar seu amado Presidente, agarra a oportunidade com determinação férrea. Assim, com a orientação de Mameha, além de submeter-se a um rigorso treinamento em artes e etiqueta, Chiyo adota o nome artístico de Sayuri e se torna rival de Hatsumomo e Pumpkin, tendo que lidar com as intrigas e o lado cruel de um mundo de beleza aparente e discreta sedução.
Superprodução menosprezada e críticas
O livro “Memórias de Uma Gueixa” atraiu a atenção de Steven Spielberg, que comprou os direitos para a adaptação para o cinema. Produzido pela Amblin (empresa produtora de Spielberg), o filme MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA teve um orçamento de 85 milhões de dólares e contou com velhos e premiados colaboradores do célebre diretor. A trilha sonora, premiada com o Globo de Ouro, foi composta por John Williams (maestro e diretor da Filarmônica de Boston, premiado com o Oscar pelas trilhas de “Tubarão”, “Guerra nas Estrelas”, “E.T.” e “Indiana Jones”), e teve solos tocados pelo top star do violoncelo clássico, o chinês Yo-Yo Ma. A direção do filme foi entregue a Rob Marshall, premiado com o Oscar pela adpatação para as telas do musical da Broadway “Chicago”, edição de Pietro Scaglia e figurinos de Colleen Atwood.
Curiosamente, apesar do alto investimento e da equipe de produção renomada, por não ter em nenhum dos papéis principais um ator ou atriz ocidental que servisse de “chamariz” de público (por exemplo, no caso de “O Último Samurai” havia Tom Cruise), os distribuidores americanos classificaram MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA como “filme de arte”, o que fez com que o filme fosse exibido em poucas salas, no circuito alternativo quando de seu lançamento. Entretanto, salas lotadas e grande procura pelo filme levaram os distribuidores a relançar MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA em redes cineplex. O que a princípio foi considerado “filme de arte” pelos distribuidores, tornou-se um sucesso comercial sendo o quinto filme mais visto nos Estados Unidos em dezembro de 2005 (um feito relevante, considerando que “As Crônicas de Nárnia” e “Harry Potter e o Cálice de Fogo” estavam em cartaz na masma época), e sendo indicado em várias categorias para o Globo de Ouro, incluindo o de melhor atriz para Zhang Ziyi, que fez o papel da protagonista Sayuri.
Lançado ainda em 2005 no Japão, onde o título foi trocado para “Sayuri”, o filme não causou o mesmo impacto que teve no ocidente e ainda foi objeto de inúmeras críticas, que de modo geral concluíam que MEMÓRIAS era um filme de gueixas “para inglês ver”, ou seja, um filme caricatural que mais reflete uma imagem ocidentalizada e distorcida do Japão e das gueixas, do que um período da história recente do país. Embora a produção do filme tivesse procurado retratar do modo mais fiel possível o Japão dos anos 30 e 40, houve decerto alguns absurdos, como a seqüência da dança solo de Sayuri.
Usando um figurino de teatro kabuki contemporâneo e dançando uma coreografia visivelmente inspirada no butoh (dança contemporânea também conhecida como “dança do sofrimento”), a apresentação da protagonista ficou completamente fora de contexto, uma vez que ambos os elementos – o kabuki contemporâneo, que permitiu mulheres atuando no estilo e o butoh – surgiram no Japão só a partir da década de 70. Com os cabelos soltos, sandálias extravagantemente altas típicas das oirans (prostitutas, cortesãs da era feudal) e quimono branco, aos japoneses a personagem de Zhang Ziyi ficou mais parecida com as fantasmas tradicionais que, acredita-se, aterrorizam os vivos durante o o-bon (finados, no verão), como O-tei e Oiwa-san. Uma performance como a do filme, principalmente antes da guerra, teria chocado a platéia e marcado o fim da carreira da gueixa que o fizesse. Como o butoh é mais popular no ocidente que no próprio Japão, as platéias ocidentais devem ter gostado da seqüência, mas para os japoneses este foi apenas um de vários elementos que, na opinião deles, descaracterizou o filme.
Outra crítica constante no Japão foi a de que os papéis das principais gueixas foram entregues a atrizes não-japonesas (Zhang Ziyi que faz Sayuri é chinesa, Gong Li que faz Hatsumomo também, e Michelle Yeoh que faz Mameha é malaia) – uma escolha de elenco provavelmente ditada pela perspectiva de melhores bilheterias, visto que todas são atrizes já famosas no ocidente, do que pela adequação cultural aos papéis que interpretariam, o que exigiu delas esforço redobrado para representar gueixas de modo convincente ao menos para platéias ocidentais. Pode se fazer tal afirmação ao se observar que os papéis da gueixa Abóroba (Pumpkin) e o da gueixa-mãe, que embora secundários eram complexos e desafiadores, foram confiados a duas atrizes japonesas extremamente experientes e famosas no Japão: Youki Kudoh, que aos 34 anos conseguiu personificar uma adolescente Abóbora (Pumpkin), e Kaori Momoi, que além de consagrada atriz de cinema com mais de 50 filmes no currículo, é também cantora de sucesso com mais de 15 álbuns lançados. Já os principais papéis masculinos foram designados a dois atores que são verdadeiras celebridades no Japão: Ken Watanabe (mais conhecido como o líder Katsumoto em “O Último Samurai”) e o premiadíssimo Kōji Yakusho, mais conhecido pelo salaryman Sugiyama-san, protagonista de “Shall We Dance? – Vamos Dançar?”.
Outro problema, de caráter técnico e cultural, referiu-se à maquiagem das gueixas usada no filme. Para as verdadeiras gueixas, a maquiagem tem, além do efeito estético, toda uma simbologia que carrega três séculos de história e tradição, sendo um importante traço cultural da gueixa. A base, que nas gueixas de verdade é aplicada em grande quantidade para formar uma máscara ultra-branca uniforme, foi usada de modo muito tímido nas atrizes, deixando transparecer o tom da pele e sobre a qual se aplicou blush avermelhado nas bochechas. É possível que a produção tenha usado menos base branca nas atrizes para evitar o efeito “cobertura de bolo” na hora de filmar (que ocorreu com a atriz Kate Blanchett na cena final de “Elizabeth I”), mas blush é um sacrilégio. Uma gueixa de verdade não usa blush nas bochechas – que é uma característica de maquiagem tradicionalmente considerada bela no ocidente e na China, mas não no Japão, onde pintar as bochechas só se tornou moda por influência ocidental no século XX e nunca foi adotada pelas gueixas.
Outro aspecto que aparentemente foi mal recebido no filme pelos japoneses foram decotes pronunciados na frente e nas costas dos quimonos, e a maquiagem em forma de “w” atrás do pescoço, que numa gueixa de verdade não passa da altura do ombro, mas que no filme chegou à metade das costas das atrizes. Algo que provavelmente foi feito com a intenção de realçar um aspecto de beleza “exótica” sob o ponto de vista ocidental, para os japoneses deu às gueixas no filme a aparência de oirans – a extravagância era uma característica delas – mostrando que o ocidente ainda confunde gueixas com prostitutas. Sem respeitar a correta aparência de uma verdadeira gueixa, para os japoneses MEMÓRIAS foi apenas um filme ocidental inspirado no Japão para ocidental ver, e que ao invés de esclarecer reforça alguns mitos e distorções sobre as gueixas.
Em que pesem as críticas no Japão, o sucesso da versão cinematográfica de MEMÓRIAS no ocidente tem alguns méritos inegáveis. É a primeira vez que Hollywood produz um filme de primeira linha sobre um tema oriental e com elenco principal totalmente oriental – algo inimaginável de ser feito uma década atrás. Há que se considerar, antes de mais nada, que MEMÓRIAS é uma história de ficção escrita por um ocidental, o que serve de desculpa para certos exageros cometidos em nome da dramaticidade e da natureza de show biz do filme, e não um documentário sobre uma gueixa da vida real. O filme também serviu para reavivar o interesse por um tema muito discutido porém efetivamente pouco conhecido pelo público no ocidente, que são as gueixas. E oxalá a partir do filme alguns venham a se interessar em saber o que são de fato as gueixas e como é o mundo delas – um mundo tão peculiar cuja existência só poderia ocorrer na sociedade japonesa.
Celebridades no Japão, desconhecidos no ocidente
Algo que chamou a atenção dos que acompanham o cinema japonês, foi a desenvoltura com que os atores japoneses enfrentaram em MEMÓRIAS o desafio de fazer papéis dramáticos em inglês. Para atores asiáticos o inglês é uma barreira difícil – mesmo o consagrado Jackie Chan, além de fortíssimo sotaque, tem dificuldade com os diálogos – e com os japoneses a coisa não é diferente. Durante a divulgação de MEMÓRIAS, a imprensa ocidental deu ênfase às atrizes Zhang Ziyi, Gong Li e Michelle Yeoh, mas pouco se falou de Ken Watanabe (o Presidente), Kōji Yakusho (Nobu), Youki Kudoh (Abóbora), Kaori Momoi (Gueixa-mãe), e de Suzuka Ohgo (Chiyo, Sayuri criança): uma lacuna que o site CULTURA JAPONESA resolveu preencher.
Ken (diminutivo de Kensaku) Watanabe nasceu em 1959, filho de mãe e pai professores. Decidido desde a adolescência a tornar-se ator, resolveu mudar-se para Tóquio em 1978, onde formou-se em artes dramáticas. Sua primeira aparição na tevê foi em 1982, mas a fama veio apenas em 1987, quando interpretou o samurai Date Masamune na série de tevê “Dokuganryu Masamune” (Masamune, o Dragão de Um Só Olho). Com 1,85m – alto para os padrões japoneses – Ken Watanabe tornou-se famoso no Japão por inetrpretar samurais fortes e decididos, mas também estrelou filmes nos papéis de gangster, empresário e de general. Tendo feito um pequeno papel em “Tampopo”, filme de 1985 do diretor Juzo Itami (o mesmo de “Marusa no Onna – A Coletora de Impostos”), Watanabe começou a se tornar conhecido no ocidente no papel de Raita Onuki, um motorista extremamente passional que acompanha solitário da cabine de seu caminhão o confuso desenrolar de uma radio-novela na comédia “Rajio no Jikan” (A Hora do Rádio, ou Bem-vindo, Mr. McDonald). Em 1989, Ken Watanabe foi diagnosticado com leucemia e em 1993 ele afastou-se das telas para dedicar-se ao tratamento da doença. Seu retorno em 1997 em “Bem-vindo, Mr. McDonald” foi o início de uma fase de muito trabalho e conquistas, que culminou em 2003 com “O Último Samurai”.
Dividindo cena com Tom Cruise, Watanabe personificou Katsumoto, líder samurai idealista no Japão do início da Era Meiji (1868 – 1912), personagem baseado no samurai da vida real Takamori Saigo, e em 2004 foi indicado ao Oscar de melhor ator coadjuvante pelo trabalho em “O Último Samurai” – o 3º ator japonês, entre os 6 asiáticos a receber tal indicação em toda a história do Oscar. Embora não tenha ganho a estatueta, Ken Watanabe passou a ser cotado para outras produções nos Estados Unidos, além de continuar extremamente ocupado no Japão, onde em 2004 fez o protagonista Shuichiro Imanishi na série de tevê “Suna no Utsuwa” (Receptáculo de Areia), e estrelou o filme “Kita no Zero Nen” (Ano Zero no Norte) fazendo o personagem Hideaki Komatsubara. Nos Estados Unidos, em 2005, além de fazer o Chairman, protagonista romântico de MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA, Watanabe fez o personagem Ra’a Al Ghoul em “Batman Begins”. Atualmente, ele participa nos Estados Unidos das filmagens de “The Air I Breathe” (O Ar Que Respiro – ainda sem título no Brasil). Com 26 filmes e séries de tevê em seu currículo, Watanabe é um dos atores japoneses mais conhecidos na atualidade.
Kōji Yakusho é uma verdadeira celebridade no Japão. Nascido em 1956, seu verdadeiro sobrenome é Hashimoto (o sobrenome artístico Yakusho, “funcionário público”, vem do trabalho que ele exercia antes de se tornar ator). A decisão de tornar-se ator veio relativamente tarde, aos 22 anos, quando foi aprovado para o Mumei-juku, conhecido estúdio-escola para atores iniciantes dirigido pelo renomado ator Tatsuya Nakadai (um dos preferidos do diretor Akira Kurosawa, participou de “Os Sete Samurais” e protagonizou “Kagemusha – A Sombra do Samurai”), quando foi um dos apenas 4 aprovados entre 800 candidadtos. Em 1983, Yakusho tornou-se famoso ao interpretar Oda, Nobunaga, famoso líder feudal do século XVI na novela histórica da tevê NHK “Tokugawa, Ieyasu”, sobre o primeiro xógun do clã que dominou o Japão de 1603 até 1867. Ao participar em 1984 de outra novela histórica da NHK, “Miyamoto, Musashi”, fazendo o papel do próprio Musashi, Yakusho não apenas virou estrela, mas um dos mais requisitados galãs da tevê e do cinema no Japão. Não querendo ser marcado por interpretar apenas um gênero ou tipo de personagem, ele procurou diversificar sua participação em filmes. Em 1985, Yakusho também apareceu em “Tampopo”, dirigido por Juzo Itami, como o homem de terno branco.
1996 foi um grande ano na carreira de Yakusho. Estrelando três filmes nos quais revelou enorme versatilidade como ator, “Nemuru Otoko” (O Sonolento), “Shabu Gokudo” e “Shall We Dance? – Vamos Dançar?”, ele arrebatou impressionantes 14 prêmios de melhor ator na Ásia. Sucesso de público e de crítica, “Shall We Dance? – Vamos Dançar?” recebeu o prestigioso prêmio de melhor filme do ano da Academia Cinematográfica Japonesa (o “Oscar do Japão”), e conseguindo distribuição internacional tornou Yakusho conhecido no exterior pelo papel de um tímido e típico salaryman no Japão moderno, que encontra na dança de salão e em sua bela instrutora um novo e motivante modo de ver a vida. Em 2004, “Shall We Dance? – Vamos Dançar?” foi refilmado nos Estados Unidos, com Richard Gere interpretando o personagem originalmente feito por Yakusho. A consagração, entretanto, foi marcada por uma triste perda. Em junho de 96, sua mentora e professora, a atriz, diretora e dramaturga Yasuko Miyazaki, esposa de Tatsuya Nakadai e com quem Yakusho manteve freqüente contato após deixar o Mumei-juku, faleceu aos 65 anos vítima de câncer no pâncreas.
Em 1997, Yakusho obteve reconhecimento internacional ao conquistar a Palma de Ouro de melhor ator no Festival de Cannes em “Unagi” (A Enguia), filme dirigido por Shohei Imamura (que em 1983 venceu a Palma de Ouro com “A Balada de Narayama”). Somando atualmente 41 filmes para cinema e séries de tevê em sua carreira, Kōji Yakusho apareceu pela primeira vez numa produção americana e falando em inglês em MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA, fazendo o papel de Toshikazu Nobu, empresário e amigo do Chairman, que teve o rosto desfigurado ao salvar o amigo durante uma batalha na Manchúria e que se apaixona pela gueixa Sayuri. Recentemente, Yakusho protagonizou “Za Uchōten Hoteru” (“O Hotel Uchõten” – ainda sem título em inglês e português) filme escrito e dirigido por Koki Mitani e retornou aos Estados Unidos, onde está participando das filmagens de “Babel” dirigido por Alejandro Inarritu, e de “Silk” (“Seda”, ainda sem título em português) dirigido por François Girad.
Filha de Hachiro Isawa, conhecido cantor na década de 60, Youki Kudoh manteve seu sobrenome verdadeiro para ser reconhecida por seu próprio talento, e não por ter um pai famoso. Nascida em 1971, aos 12 anos ela foi descoberta por um caça-talentos e logo foi lançada como cantora mirim. Sua estréia, tanto no cinema como no meio musical, foi em 1984 com o filme “Gyakufunsha Kazoku” (A Família Maluca), no qual ela fez o papel da protagonista adolescente Erika Kobayashi e gravou a música-tema do filme. Desde então, ela vem desenvolvendo uma sólida carreira na música, na tevê e no cinema, somando até o momento 18 filmes em seu currículo. Em 1991, Kudoh recebeu seu primeiro prêmio de melhor atriz no Japão por seu trabalho em “Sensō to Seishun” (Guerra e Juventude). Fluente em inglês, em 1999 ela foi escalada para o elenco de “Neve Sobre os Cedros”, produção americana baseada no livro de mesmo título, sobre um rapaz americano que se apaixona por uma amiga de escola imigrante japonesa, num romance proibido por ambas as famílias, agravado pela 2ª Guerra e pelo envio da moça e sua família a um campo de concentração para japoneses e seus descendentes no interior dos Estados Unidos. Famosa no Japão, Youki Kudoh também é conhecida por emprestar sua voz a personagens em desenhos animados. Em 2000, ela fez a voz original de Saya, a protagonista de “Blood – The Last Vampire”, animê longa-metragem cultuado por fãs do gênero como os irmãos Wachowsky, criadores e diretores da trilogia “The Matrix”.
Em MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA, Kudoh teve a difícil missão de personificar a jovem gueixa Pumpkin em diferentes fases: antes da guerra, como uma maiko relativamente inexpressiva mas amiga de Sayuri, e depois da guerra, como uma gueixa decadente, destituída de uma okiya e americanizada, que se prostitui a soldados ianques para sobreviver. Divulga-se na internet que Youki Kudoh seja prima ou irmã de Minako Honda, famosa cantora pop nos anos 80, o que é um dado inverídico. Em seu site oficial, a atriz explica que tal confusão ocorreu por ela ter substituído emergencialmente a cantora numa apresentação, mas que não há nenhuma relação de parentesco entre ambas. No Japão, Minako Honda é lembrada por ter deixado a carreira no auge da fama devido à leucemia, que comoveu o público na época, e a substituição por Youki Kudoh foi interpretada de forma equivocada.
A veterana Kaori Momoi é uma das mais ativas atrizes e cantoras do cenário artístico japonês. Nascida em 1952, filha de um professor universitário e de uma estilista de jóias, ainda criança começou a praticar balé e aos 12 anos foi para a Real Academia Britânica de Dança, onde estudou durante 3 anos. De volta ao Japão, ainda adolescente foi descoberta como cantora-talento, mas Momoi encontrou sua vocação definitiva como atriz a partir de 1971, ao participar do drama romântico “Ai Futatabi” (Amar Novamente). Desde então, ela vem atuando constantemente nos mais diversos papéis no cinema e na tevê no Japão, colecionando prêmios e uma carreira que atualmente soma 51 filmes. Entre seus trabalhos mais conhecidos estão “Shiawase no Kiiroi Hankachi” (O Lenço Amarelo da Felicidade), filme de 1977 onde além de interpretar a protagonista ela também canta a música-tema, que fez sucesso nas rádios. Em 1979 Momoi participou de “Otoko wa Tsurai yo: Tonderu Torajiro” – um dos muitos longa-metragens da série para cinema “É Triste Ser Homem” , extremamente popular no Japão, no papel da mocinha Hitomi, em quem o protagonista Tora-san deposita (como em todos os filmes da série) suas esperanças românticas para, no final, ter que desistir dela. Em 1980, ela participou de “Kagemusha – A Sombra do Samurai”, do diretor Akira Kurosawa, no papel da dama Otsuyanokata. Em 1996, Momoi interpretou a mãe de um desenhista de mangá adolescente, Hiroshi Fujimoto (criador de “Doraemon” e “Super Dínamo”), que se muda para começar uma carreira em Tóquio no início dos anos 60 em “Tokiwa-so no Seishun” (A Juventude nos Apartamentos Tokiwa). Famoso por seus quadrinhos infantis, Fujimoto era uma celebridade no Japão, e o filme foi baseado na biografia do desenhista, falecido naquele mesmo ano. Uma de suas atuações mais lembradas é a da temperamental auto-declarada “diva da radionovela” Nakaura-san, na hilária comédia “Rajio no Jikan – Bem-vindo, Mr. McDonald”, de 1997. É de uma fala dela que deriva o título em português do filme. Em MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA, Momoi revelou versatilidade ao conseguiu fazer o difícil papel dramático da gueixa-mãe em inglês, como também prova aos 53 anos estar em plena forma para continuar atuando, num meio onde a idade para as mulheres costuma interromper ou diminuir a oferta de papéis. Atualmente ela também se dedica ao design de jóias, tendo lançado sua própria marca, Momoi in Maki, no Japão.
Apesar de sua pouca idade, Suzuka Ohgo literalmente rouba a cena na primeira meia hora de MEMÓRIAS DE UMA GUEIXA no papel de Chiyo, a gueixa Sayuri quando criança. MEMÓRIAS, além de ter sido seu primeiro trabalho falando em inglês, foi também seu primeiro filme produzido no exterior. Isto não quer dizer, entretanto, que a pequena Suzuka seja de todo uma novata. Nascida em 1993, ela começou a atuar em 2000 ao se juntar ao grupo teatral Himawari, e logo revelou talento como atriz mirim. Além de participar de algumas peças da trupe, ela também apareceu em alguns programas de tevê e comerciais nos anos subseqüentes. No início de 2005, ela estreou no cinema sob a direção de Isao Yukisada em “Kita no Zero Nen” (Ano Zero no Norte), fazendo o papel da filha do personagem de Ken Watanabe. Já tendo trabalhado com Suzuka, Watanabe indicou-a para a produção de MEMÓRIAS, e o resultado pode ser visto nas comoventes seqüências iniciais do filme. No momento, Suzuka Ohgo está particpando das filmagens de “Baltic Paradise” (título internacional para Baruto no Gakuen), drama ambientado durante a 1ª Guerra Mundial, no qual soldados alemães enviados para possessões na Ásia acabaram em campos de prisioneiros japoneses. No filme, Suzuka faz o papel da filha mestiça de uma funcionária japonesa que ajuda a garantir tratamento digno aos prisioneiros, e que está à procura de seu pai alemão.
20/fevereiro/2006
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