jan 212015
 
Foto de Masahiko Ohkubo

Kobe na foto de Masahiko Ohkubo

O grande terremoto devastou a cidade portuária de Kobe e região, no dia 17 de janeiro de 1995. O acontecimento de magnitude 7.3 tomou a vida de 6.434 pessoas. Como imagens mais marcantes ficaram o elevado da via expressa contorcida e os edifícios caídos. Foi o primeiro maior desastre natural desde a Segunda Guerra no Japão.

Quase 80% das vítimas foram esmagadas pelas próprias casas, que ruíram e sua maioria morava em bairros antigos com ruas estreitas e casas de madeira, o que facilitou a propagação do incêndio que veio logo depois.

Como remover pessoas que são legítimas proprietárias de suas casas? Foto de Nagasaki, 11/2014

Como remover pessoas que são legítimas proprietárias de suas casas? Foto de Nagasaki, 11/2014 – Francisco Sato

O Japão aprendeu com o episódio. Desde então, esforços são feitos para construir residências e prédios públicos resistentes ao terremoto e ao incêndio. Hoje, 79% das casas japonesas já seguem esse padrão exigido por lei, mas quanto ao restante, todos consideram difícil obrigar os proprietários a derrubarem e levantarem novas casas, mesmo que elas sejam de madeira. Muitos proprietários são idosos e não querem mais investir no imóvel, mesmo com a ajuda do governo que oferece subsídios para a reforma. Outro problema é que essas casas antigas foram construídas em terrenos pequenos ou em ruelas muito estreitas, e a atual legislação exige recuos mínimos, justamente por causa do incêndio, o que torna inviável a aprovação de uma nova planta na propriedade. Existem até casas abandonadas nessa situação, porque ninguém quer comprá-las.

O idoso também é fator de outra preocupação. No terremoto de 1995, verificou-se a dificuldade de cuidar de idosos sobreviventes que perderam suas famílias e seus vizinhos. Embora os desabrigados tenham deixado os alojamentos provisórios dentro de cinco anos, os idosos que passaram a viver sozinhos, ou ficaram doentes ou se acidentaram em casa, por viverem solitariamente, acreditam as autoridades. Nos anos seguintes à tragédia, mais de mil falecimentos foram registrados nessas condições em Kobe.

Aprendendo desde cedo, na demonstração dos bombeiros em Yokohama. Foto de Francisco Sato

Aprendendo desde cedo, na demonstração dos bombeiros em Yokohama. Foto de Francisco Sato

Quando se trata de prevenção, o Japão está na frente. Acostumados a lidar com emergências, os japoneses entendem que a prevenção começa com educação e treinamento. Bombeiros costumam fazer demonstrações em escolas e locais públicos, principalmente no Dia Nacional de Prevenção de Acidentes (1º de setembro, data do Grande Terremoto de Tokyo e Yokohama), e há 879.193 voluntários treinados para orientar e prestar a primeira ajuda à população local, divididos em 2.239 equipes espalhados pelo Japão. São 159,730 bombeiros instalados em 3.183 locais. Há vários museus e centros de treinamento acessíveis a qualquer pessoa. O Corpo de Bombeiros tem o nome de Fire and Disaster Management Agency, porque lida com terremotos, avalanches de neve, vendavais, furacões e deslizamentos de terra, ou seja, desastres de todo o tipo, tão frequentes no Japão. Só de incêndio, são registrados mais de 50 mil casos por ano, mas as chamadas de emergência superam a casa dos 5 milhões, incluindo 57 mil casos de resgate.

Para administrar as informações sobre o risco de desastre, foi instalado o sistema conhecido como J-Alert. Utilizando sinais de satélite, o alerta de todo o tipo é transmitido rapidamente para 98,7% dos municípios japoneses. A informação é transmitida também via emissoras de rádio e TV e no sistema de som das estações de trem, atingindo imediatamente 69,9% da população. No caso de terremoto, quem estiver assistindo qualquer emissora de TV  vai ouvir uma sirene típica e vai ver um texto na parte superior da tela, avisando o local do epicentro do terremoto e as regiões que poderão ser afetadas. O aviso de alerta também pode ser levado através de carros equipados com alto-falantes para o conhecimento das pessoas que estão na rua e em regiões mais afastadas.

No caso de um eventual desastre, várias cidades possuem centros de prevenção de catástrofes onde armazenam alimentos como pão, água e leite, e equipamentos como capacetes, marretas, cordas, serrotes, tendas e banheiros químicos em quantidade razoável para os primeiros dias. Além disso, como regra geral, todas as famílias precisam se prevenir, deixando perto da porta da casa uma mochila contendo gêneros de primeira necessidade, como remédios, identificação pessoal, água, roupas, etc.

Simulador de terremoto. Foto de Francisco Sato

Simulador de terremoto. Foto de Francisco Sato

A experiência têm mostrado ao longo dos séculos que desastres naturais não podem ser evitados. Há, até certo ponto, a possibilidade de se prever, baseado em acontecimentos anteriores ou em estudos especializados. Mas não se pode evitar. Muito se fala na possibilidade de erupção do Monte Fuji, o mais alto e o cartão postal do Japão. A última aconteceu em 1707 e atingiu várias cidades, que na época tinham poucos habitantes. Hoje, um evento desse porte deverá causar danos ainda maiores do que o tsunami que devastou a região de Tohoku (Miyagi, Fukushima e Iwate), em 2011, levando 15.889 vidas e 127.290 casas.

Estando no Japão, em caso de alguma ocorrência, digite 119. Para ver fotos, filmes e textos explicativos sobre prevenção, veja o link da Fire and Disaster Management Agency (em japonês).

Obs. Agradecimentos ao FDMA de Yokohama que deu uma visão geral do que é prevenção, para os estagiários da América Latina da JICA.
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