jul 202024
 

Há 60 anos, de 10 a 24 de outubro de 1964, foram realizados os Jogos Olímpicos de Tóquio. Esses Jogos seriam em 1940, mas haviam sido cancelados por causa da Guerra Sino-Japonesa, que começou em 1937. Derrotados e destruídos pela Segunda Guerra Mundial, o Japão recuperou sua autonomia apenas em 1952, e dali em diante foi um trabalho árduo para todos os japoneses, rumo à recuperação econômica do país. Os jogos de 1964 eram a oportunidade de mostrar ao mundo que o Japão já estava bem. Havia o esforço coletivo para melhorar o país, e nesse sentido, o desempenho dos atletas naquela competição era muito importante, principalmente para encorajar as pessoas a lutarem por uma vida melhor.

Nessa época, a prática esportiva fora das escolas era um luxo, não havia patrocinadores, e para aqueles que pretendiam competir, havia a possibilidade, dependendo da modalidade, de ser contratado por alguma empresa para trabalhar e treinar parte do dia. Outra possibilidade eram as universidades, algumas das quais investiam no esporte.

Kokichi Tsuburaya em São Paulo, preparando-se para a Corrida de São Silvestre, em 31/12/1964. O original, autografado por ele, está na Associação Fukushima Kenjin do Brasil. Kokichi escreveu em katakana: São Silvestre.

Kokichi Tsuburaya era um desses jovens promissores. Destacando-se nas tradicionais corridas Ekiden, que ocorrem em várias partes do país com competidores de idades variadas, ele pretendia trabalhar numa empresa de mineração de Fukushima, onde poderia continuar treinando. Ele não foi contratado, mas conseguiu emprego na Jieitai (força de defesa), que presta socorro em desastres naturais. Lá, sob a orientação de um bom técnico, conseguiu melhorar seus resultados, inclusive a nível internacional.

Nas Olimpíadas de Tóquio, Kokichi Tsuburaya, com 24 anos de idade, competiu na maratona (41 km), que foi vencido por Abebe Bikilia da Etiópia, que era o grande favorito, pois havia vencido os jogos de 1960 em Roma, na mesma modalidade. Tsuburaya estava em segundo lugar, quando, no final, foi ultrapassado pelo inglês Basil Heatley e terminou com a medalha de bronze. Tsuburaya havia batido seu próprio recorde, mas nunca se perdoou por não ter conseguido garantir o segundo lugar. Disse, após a prova, a um colega, que se sentia envergonhado por aquilo e que precisava trazer a medalha de ouro para o Japão nas próximas Olimpíadas que seriam no México em 1968.

Tsuburaya visitou no mesmo ano o Brasil, quando participou da Corrida Internacional de São Silvestre. Naquela época, o percurso era feito à noite e era calculado para terminar à meia-noite do dia 31 de dezembro. Soltava-se fogos de artifício e celebrava-se o início do Ano Novo. Era um grande evento. Em 1964, o belga Gaston Roelants venceu, o espanhol Mariano Haro ficou em segundo, e o japonês Kokichi Tsuburaya chegou em terceiro lugar no percurso de 7.400 metros.

Kokichi Tsuburaya continuou competindo representando a Jieitai e por uma universidade, se preparando para os jogos de 1968, entretanto, no dia 9 de janeiro de 1968, ele cometeu suicídio em seu dormitório, no alojamento da Jieitai em Tóquio. Deixou duas cartas, uma para seus pais e irmãos, e outra para colegas da Jieitai. Na primeira carta, ele agradece cuidadosamente a seus pais e irmãos citando os pratos que eles serviram para ele no Ano Novo quando se reuniram na casa dos seus pais em Sukagawa, Fukushima. Para seus pais, ele pede desculpas e diz: “Kokichi está totalmente exausto, não consegue mais correr”. Tsuburaya fazia tratamento no calcanhar de Aquiles nos dois pés e tinha sofrido uma cirurgia de hérnia de disco, ficando internado por três meses e tendo alta em novembro de 1967.

Apesar de haver uma história de desilusão amorosa no passado desse atleta, a responsabilidade de estar impossibilitado de trazer a sonhada medalha para o Japão em 1968, deve ter pesado forte na sua trágica decisão de tirar sua própria vida aos 27 anos de idade. O fato causou forte comoção nacional na época, e ainda hoje Kokichi é reverenciado como um grande atleta, detentor da única medalha japonesa na maratona olímpica até hoje.

Embora tenham nascido na mesma cidade de Sukagawa, na província de Fukushima, Kokichi Tsuburaya e Eiji Tsuburaya (autor de Godzilla e Ultraman) não são parentes diretos. Eles foram homenageados juntos em 2021, quando a cidade declarou ambos como “Cidadãos Honorários”. Hoje, Eiji Tsuburaya tem um museu em sua homenagem, e Kokichi Tsuburaya tem seu nome no centro esportivo da cidade, onde tem um pequeno museu sobre sua vida.

Francisco Noriyuki Sato, jornalista e editor. Presidente da Associação Fukushima Kenjinkai do Brasil.

Texto em japonês que escrevi sobre as Olimpíadas de Tóquio e National Kid

jun 062024
 

Uma homenagem às escolas femininas da comunidade nipobrasileira: as Saihou Gakkou (escolas de corte e costura), as Biyouin (escolas de estética, de cabeleireiras) e as Kappou Gakkou (escolas de culinária)

Palestra proferida por Cristiane A. Sato no Pavilhão Japonês do Parque do Ibirapuera pelo Dia Internacional da Mulher, em 10 de março de 2024. Dividimos em capítulos aqui no site para facilitar a leitura.

INTRODUÇÃO

Nesta apresentação, falarei de um assunto pouco divulgado, mas que entendo ser um importante aspecto da história da vida privada da imigração japonesa no Brasil. É uma história que tive o privilégio de conhecer através de pessoas que viveram essa época, e através delas pude testemunhar o resultado daquilo que foi o fenômeno da Educação Feminina Japonesa no Brasil, que marcou gerações de mulheres e suas famílias.

Por ser a primeira vez que trago este assunto ao público, gostaria de agradecer à Celina Yamao, organizadora deste evento em homenagem ao Dia Internacional da Mulher no Pavilhão Japonês do Parque do Ibirapuera. Há alguns anos tento falar sobre a Educação Feminina Japonesa no Brasil, mas esta é a primeira vez que me dão de fato uma oportunidade de expor essa história, que acredito que surpreenderá vocês e trazer lembranças familiares para algumas de nós. Por isso, e por entender o valor das mulheres na prática e transmissão da cultura japonesa no Brasil, reitero meus agradecimentos aos administradores do Pavilhão Japonês, especialmente à Celina e ao Cláudio Kurita da Japan House de São Paulo, por organizarem este evento.

Só é possível entender a importância e o impacto da Educação Feminina Japonesa no Brasil se entendermos as condições de vida da época em que as escolas femininas da colônia surgiram, quase 100 anos atrás. Não é possível entender as limitações, o estilo de vida e os valores da geração de nossas avós e bisavós partindo das referências do modo de vida que temos hoje. Por isso, gostaria que observassem esta foto (slide 2: reunião de família de imigrantes japoneses no interior de São Paulo, 1930).

 COMO ERA A VIDA 100 ANOS ATRÁS

As pessoas desta família estão reunidas em torno de uma mesa grande montada fora da casa, são todos jovens e há bebês. É provavelmente uma celebração de Oshõgatsu (Ano Novo), estão todos usando as melhores roupas, uma elegante toalha branca na mesa, e apesar dos sorrisos e do registro de um momento feliz, a casa feita de troncos ao fundo, pequena e sem acabamento, e o sítio isolado indicam que a vida diária não devia ser nada fácil.

Basta observar que, naquela época, coisas que hoje consideramos imprescindíveis para o nosso dia a dia e até mesmo para a civilização contemporânea, não existiam (slide 3): Internet, smartphones, redes de lojas de roupas de preço acessível prontas para usar (fast fashion), de hipermercados, comida pronta, serviços de entrega rápida, forno de micro-ondas, medicamentos eficientes e vacinas disponíveis em farmácias. Imaginem ter que acender um fogão a lenha para esquentar um prato de comida, ou tomar banho em grandes latões com água esquentada sobre fogueiras ao ar livre, calçando guetás (sandálias de madeira japonesas) para não queimar os pés. Assim era a vida dos imigrantes no interior de São Paulo e do Paraná. Mesmo eletricidade e água corrente eram coisas que só haviam em poucos bairros privilegiados nas grandes cidades.

Em suma, a vida em 1930 era difícil e incerta. Doenças hoje praticamente erradicadas eram comuns, a mortalidade infantil era alta e até adultos eram afetados por surtos de varíola, sarampo, meningite, tuberculose e poliomelite. A expectativa média de vida para os homens era de 55 anos e era comum ver viúvas lutando para criar filhos pequenos sozinhas. Não havia seguridade social ou aposentadoria pelo INSS. Quase nada podia ser comprado pronto e por isso a vida era difícil e trabalhosa na cidade, e mais ainda no campo. Viver era uma grande incerteza por todos esses fatores, e no caso dos imigrantes japoneses havia um fator que aumentava as incertezas: os casamentos eram por Omiai, casamentos arranjados entre famílias (slide 4).

AS MULHERES NO JAPÃO DO PERÍODO MEIJI

No Japão desde o Período Meiji (1868~1912), no início do processo de modernização do país em moldes ocidentais, preconizou-se a importância da Educação Feminina. Não apenas os homens, mas as mulheres também precisavam obter conhecimentos técnicos sobre o modo de vida ocidental para que a sociedade japonesa se modernizasse e se tornasse competitiva com as nações industrializadas. Éditos imperiais autorizaram a criação de escolas femininas e jovens estudantes se tornaram a imagem da emancipação e da mulher moderna no Período Meiji (slide 5). Sob o ideal de criar uma sociedade melhor a partir da família, mulheres no Japão passaram a estudar para se prepararem para enfrentar as incertezas da vida, para terem uma profissão seja por aptidão ou por necessidade, mas também para serem boas mães e donas de casa. Para isso era preciso que administrassem a casa e a família como se fosse uma empresa, ou extensão da profissão do marido, um hábito que existe desde o Período Edo (1603~1867) principalmente nas famílias de shokunins (artesãos) e shõnins (comerciantes).

Um exemplo desse esforço pode ser visto nesta gravura ukiyo-e de 1887 chamada Kijo Saihou no Zu (Mulheres da Nobreza Praticando Costura) (slide 6), que retratou damas da corte do Período Meiji em trajes ocidentais aprendendo costura ocidental no Rokumeikan, um palacete construído em Tóquio onde a elite japonesa praticava cultura e etiqueta social ocidentais. É importante observar que na época as mulheres das elites no ocidente eram muito ociosas e, raramente, praticamente nunca, aprendiam a costurar, vendo isso como profissão para gente simples. Mas as aristocratas japonesas fizeram um enorme esforço de aprendizado (reparem que a dama na esquerda da imagem está fazendo uma casaca masculina, uma peça de alfaiataria complexa). As damas da nobreza japonesas, que tradicionalmente sempre se dedicaram à produção cultural e artística, se chocavam com a ociosidade das elites ocidentais. Assim, seguindo os ideais de modernização do governo Meiji, passaram a se dedicar a atividades técnicas que implicavam em aprendizado prático e de adaptação ao ocidente. Técnicas de corte e costura estilo ocidental (yõsai – porque existe a técnica de corte e costura japonesa, wasai, ainda hoje usada na confecção de quimonos) e o uso de máquinas de costura fez parte desse aprendizado técnico de ocidentalização. Naquela época, o fato de ter uma máquina de costura e usar vestidos ocidentais era um luxo que apenas moças da nobreza e filhas de banqueiros e ricos industriais podiam ter.

UMEKO TSUDA: EDUCADORA PIONEIRA

Uma dessas aristocratas pioneiras foi Umeko Tsuda, mulher cuja biografia por si só merece uma palestra específica por ter sido a integrante mais jovem da Missão Iwakura ao exterior, aos seis anos de idade (slide 7). A Missão Iwakura foi uma expedição de quase 2 anos organizada pelo Governo Meiji para pesquisar literalmente todos os aspectos da vida pública e privada da civilização ocidental. As informações obtidas por essa missão foram a base para que o governo japonês decidisse quais aspectos institucionais, tecnológicos e sociais do ocidente, devidamente adaptados à realidade japonesa, seriam aplicados na modernização do Japão. Quando a Missão Iwakura esteve nos Estados Unidos, Charles Lanman, Secretário do Governo Americano para a Delegação Japonesa, e sua esposa adotaram a pequena Umeko como filha. Educadora formada nos Estados Unidos, onde passou a infância e a juventude, Umeko Tsuda foi pioneira da educação feminina e fundadora da primeira universidade feminina do Japão, a Universidade Tsuda, que existe até hoje.

No início do século 20, a educação era muito cara e por isso vista mais como um privilégio do que uma necessidade, sendo que para as mulheres a educação era considerada um luxo desnecessário. Tsuda entendia que a modernização japonesa seria inócua se as mulheres não tivessem acesso a uma educação que as preparassem para a vida e para o futuro desafiador que se abria para o Japão. Assim, ela preconizou uma formação pragmática para as mulheres e estabeleceu preceitos de economia doméstica, que se popularizaram através do ensino público e que são ensinados até hoje nas escolas de nível médio. Através da economia doméstica, as educadoras japonesas transmitiram conhecimentos práticos para gerações de jovens mulheres poderem gerir as próprias vidas, casas e famílias com eficiência, preparando esposas e mães gestoras de lares e negócios no sentido mais preciso da palavra “economia” (cuja origem etimológica em grego significa “as regras da casa”). Em reconhecimento à visão e ao impacto profundo e duradouro do trabalho de Tsuda, o Governo Japonês a partir de 2025 emitirá em sua homenagem a nova série de notas de 5 mil ienes com a efígie da educadora pioneira do Período Meiji.

Considerando que a regra dos casamentos na sociedade japonesa eram pelo Omiai, da mesma forma que a família do noivo procurava apresentar o próprio filho como “um bom partido” sob o aspecto pessoal e profissional, a família da noiva procurava em contrapartida apresentar a filha como uma companheira ideal, devidamente preparada para apoiar o marido, gerar filhos, organizar uma casa e cuidar de tudo relacionado aos afazeres da vida diária: alimentação, vestuário, higiene, pagamento de contas, etc., para que o marido pudesse de dedicar quase que totalmente a sua profissão. Num mundo e numa época nos quais não existiam as comodidades que hoje desfrutamos, a vida adulta começava muito cedo: em média aos 20 anos de idade, homens e mulheres já estavam casados e formando suas próprias famílias. Haviam muitos avós na faixa dos 40 anos de idade, e bisavós aos 55 anos. Como todos viam a vida como algo curto e muito incerto, as gerações que nos antecederam procuravam atingir a maturidade social o quanto antes e a velhice era uma conquista de poucos.

Uma mulher educada no Japão significava que ela, além de saber ler e escrever, sabia fazer contas usando o soroban (ábaco japonês), produzir roupas para toda a família e têxteis para a casa, cozinhar e processar alimentos (principalmente fazer conservas, estratégico numa época em que não haviam geladeiras), tinha noções de higiene e de enfermagem (para cuidar de bebês e doenças na família) e era autodisciplinada. Redigir diários, ter conhecimentos de literatura, artes e bons modos eram características muito valorizadas nas mulheres por mais humildes que elas fossem, pois considerava-se que os filhos se aperfeiçoariam vendo o exemplo de suas mães.

(continua nos links abaixo)

1 – Esta matéria

2- https://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/educacao-feminina-japonesa-no-brasil-2/

3 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-3/

4 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-4/

5 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-5/

6 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-6/

AO USAR INFORMAÇÕES DESTE SITE, NÃO DEIXE DE MENCIONAR A FONTE: Cristiane A. Sato, site www.culturajaponesa.com.br
LEMBRE-SE: AS INFORMAÇÕES SÃO GRATUITAS, MAS ISTO NÃO LHE DÁ DIREITO DE SE APROPRIAR DELAS.
CITANDO A FONTE, VOCÊ ESTARÁ COLABORANDO PARA QUE MAIS E MELHORES INFORMAÇÕES SOBRE DIVERSOS ASSUNTOS SEJAM DISPONIBILIZADOS EM PORTUGUÊS.

maio 222023
 

A ABRADEMI, em conjunto com a Associação Fukushima Kenjin do Brasil, e com o apoio institucional do Consulado Geral do Japão e da Fundação Japão, realizará a palestra “100 anos de Noguchi Hideyo no Brasil”. Ele é natural de Fukushima e veio ao Brasil pela Fundação Rockefeller para estudar a febre amarela, em 1923, e trabalhou ativamente no Instituto Oswaldo Cruz em Salvador, na Bahia.

Memorial Noguchi Hideyo em Salvador, Bahia, tem sua vida contada em forma de mangá

Museu Memorial Noguchi Hideyo em Inawashiro, Fukushima, no lugar onde ficava sua casa, que continua preservada dentro desse edifício. https://www.noguchihideyo.or.jp/idm/english/

Noguchi Hideyo nasceu em 24 de novembro de 1876, na cidade de Inawashiro, no interior de Fukushima. É uma fria e pequena cidade (atualmente tem 12 mil habitantes), onde sua família se dedicava à agricultura. Com a idade de um ano e meio sofreu um grave acidente com fogo, que praticamente imobilizou a sua mão esquerda, e nesse local não havia médicos. Só foi operado aos seis anos, recuperando parte dos movimentos. Daqui, contando somente com a sua dedicação, conseguiu sair para o curso superior em Tóquio, e dali para o mundo.

No Japão, no Memorial de Noguchi Hideyo, começou no dia 1º de Abril deste ano, a exposição sobre a vinda dele para a América do Sul com a finalidade de buscar a cura da febre amarela.

A palestra será ministrada pelo Dr. Mário Ikeda, o empresário que trouxe o cantor Itsuki Hiroshi ao Brasil. Ele cresceu ouvindo histórias que o avô dele, imigrante do pioneiro navio Kasato Maru, lhe contava sobre Noguchi Hideyo. Ficou tão curioso, que percorreu todos os lugares onde o cientista japonês esteve e juntou um bom material. Ele esteve também no Memorial em Fukushima.

Dia 3 de junho de 2023, das 10h30 às 12 h na Associação Fukushima, que fica na Rua da Glória, 721, no bairro da Liberdade, em São Paulo. Evento gratuito e aberto para o público em geral.

Acompanhe as atividades da Associação Fukushima Kenjin do Brasil: https://www.facebook.com/fukushimakenjinkaidobrasil

 

 

 

ago 052021
 

A província de Okinawa foi ocupada pelas Forças Armadas dos Estados Unidos entre 1945 e 1972.

A devolução da província ao Japão aconteceu oficialmente no dia 15 de maio de 1972, após 27 anos de ocupação americana. Enquanto todo o restante do Japão voltou à administração de japoneses em 1952, o arquipélago do antigo reino de Ryukyu teve que esperar mais 20 anos, primeiro por causa da Guerra da Coreia que começou em 1950 e a posição geográfica de Okinawa tornou o local estratégico para as bases americanas. Essa guerra terminou em 1953, mas os americanos haviam investido bastante no local porque ainda previam novos conflitos na região por causa da Guerra Fria. Depois, em 1965, começou a Guerra do Vietnã, tornando o local estratégico novamente. Estima-se que, em 1969, mais de 50 mil soldados americanos moravam em Okinawa.

Com a devolução ocorrendo no dia 15 de maio de 1972, a comunidade nikkei se reuniu e realizou um evento cultural de “Comemoração pela Restituição de Okinawa ao Japão”, nos dias 20 e 21 de maio (sábado e domingo) do mesmo ano, no auditório da Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, na Liberdade, em São Paulo.

A iniciativa coube ao Zaihaku Okinawa Kenjinkai (Associação dos Provincianos de Okinawa no Brasil), então presidida por Mosei Yabiku. A principal atração do evento foi uma peça de teatro, que mostrou o período de transição de quatro anos (1875 a 1879) no qual aconteceu a desocupação do Castelo de Shuri, então capital do Reino de Ryukyu. A peça, escrita por Eikichi Yamazato, artista plástico e escritor, autor de vários livros sobre a história de Okinawa, foi apresentada em japonês por um elenco de artistas radicados no Brasil.

O papel principal, do último rei Shõ Tai, coube a Naohide Urasaki, natural de Naha, capital de Okinawa, que estudou o teatro tradicional do local desde criança. Urasaki emigrou para Bolívia em 1957, onde trabalhou nas plantações de arroz e introduziu o teatro okinawano. Mudou-se para São Paulo, e novamente não ficou longe dos palcos. Junto com outros conterrâneos fundou a Kyowa Gekidan, em 1962, grupo teatral que passou a encenar o teatro de Okinawa. Em 1987, Urasaki voltou a Okinawa para se especializar no taikô, foi diplomado e começou o ensino do taikô no Brasil, onde se formou o grupo Ryukyu Koku Matsuri Daiko do Brasil, oficializado pelo Japão em 1998. Naohide Urasaki faleceu aos 80 anos de idade, em 2011.

A peça da história de Okinawa foi encenada duas vezes no domingo, mas o evento em si contou com várias apresentações de dança de Okinawa e do restante do Japão nos dois dias.

Em maio de 2022, a restituição da província de Okinawa estará completando 50 anos, uma data de grande significado para o Japão.

>>> Digite seu e-mail no retângulo ao lado para receber notícias publicadas neste site por e-mail.

Texto: Francisco Noriyuki Sato – Jornalista e editor, autor dos livros História do Japão em Mangá e Banzai – História da Imigração Japonesa no Brasil, e professor de História do Japão da Abrademi.

Para saber mais sobre o professor Naohide Urasaki: http://matsuridaiko-brasil.com/naohide-urasaki-sensei/

Para aprender a História do Japão, incluindo a História de Okinawa, a Abrademi tem cursos on-line: www.abrademi.com

fev 272021
 

Jiro Kawarazaki foi a estrela do filme “Gaijin – Caminhos da Liberdade”, da estreante diretora Tizuka Yamasaki, de 1980. O filme conta a história da imigração japonesa à partir da chegada de uma família numa fazenda de café no interior de São Paulo. Jiro e Kyoko Tsukamoto representam Yamada e Titoe, que formam o casal principal do enredo.

Jiro faleceu em julho de 2020, vítima de uma parada cardíaca. Tinha 79 anos de idade. A família não divulgou o fato, e a mídia só tomou conhecimento um mês depois, mas deu poucas linhas à respeito desse ator.

No currículo de Jiro constam 19 filmes longa-metragens feitos no Japão, entre 1961 e 1992. Num filme de 1974, “Wagamichi”, de Kaneto Shindo, Jiro tem um papel secundário, mas é um filme interessante porque trata de problemas das famílias de decasséguis da região do Tohoku, sobre uma história real de 1966. Jiro teve uma carreira mais longa e respeitável na TV, atuando em vários episódios da série de samurai “Mitokoumon” da TBS e em muitos outros, de vários estilos. Jiro também atuou nos palcos onde trabalhou em várias peças. O pai de Jiro era um famoso ator de Kabuki em Tóquio, já na quarta geração de atores dessa modalidade, e seus dois irmãos, duas irmãs e uma prima também seguiram a carreira de artística.

Comentário pessoal:

Lembro do Jiro Kawarazaki quando tinha acabado de chegar do Japão e estava num hotel de Atibaia, cidade onde seriam realizadas as primeiras tomadas com os atores japoneses. Jiro, Kyoko e Yuriko Oguri foram contratados pela Tizuka, e dentre eles, Jiro era o mais famoso naquela época. Mas era bastante humilde.

Na época, eu trabalhava e estudava à noite, e não tinha tempo, mas queria praticar o idioma japonês. Daí eu me oferecia ao Sanenari Oshiro, que era redator do jornal São Paulo Shimbun, para ir entrevistar artistas japoneses nos finais de semana. Nem sempre os artistas eram profissionais. Na maioria das vezes eram grupos de estudantes que vinham por intercâmbio e traziam alguma coisa para apresentar. Claro, o trabalho era voluntário e mesmo as despesas de transporte não eram reembolsadas. Não havia nenhuma espécie de apoio. Eu recebia um número de telefone e um nome, e depois eu ia atrás. Nesse caso, eu procurei o contato da Tizuka, a diretora do filme, liguei, marquei e fui no escritório dela. Os atores ainda não tinham chegado, mas fiquei sabendo que chegariam e fariam a primeira tomada naquele final de semana. Peguei o ônibus e fui para Atibaia. No hotel, a Tizuka disse que o intérprete não estava, e que iria chamar os japoneses.

Assim fiquei conhecendo o trio de atores, todos muito simpáticos, apesar de cansados da viagem. Naquele dia, como não ia ter filmagem, eu os levei até a praça de Atibaia onde estava tendo uma feira de artesanato. E lá comprei um pacotinho de coquinho doce. O Jiro gostou tanto daquilo, que voltou sozinho e comprou um monte deles.

Voltei a Atibaia novamente, num outro final de semana. Os atores já tinham feito várias cenas e estavam todos bastante integrados com o ambiente. Antonio Fagundes, Gianfrancesco Guarnieri, Ken Kaneko e José Dumont faziam parte do elenco e, por sorte, todos estavam lá. Conversei bastante com o José Dumont e com o Jiro Kawarazaki. Foi a última vez que o vi.

“Gaijin” foi o melhor filme do Festival de Cinema de Gramado de 1980. José Dumont recebeu o prêmio de melhor ator coadjuvante. Quem não assistiu deveria assistir.

Francisco Noriyuki Sato