ago 162014
 

OLYMPUS DIGITAL CAMERAO ano é 1961 e o lugar é Tóquio, a capital japonesa. O jovem escultor Hisao Ohara, de 29 anos, e sua esposa, a bailarina e coreógrafa Akiko Ohara (foto abaixo), de 26 anos, preparam suas malas para uma viagem inesquecível ao Brasil. Mas não iriam fazer turismo. Haviam decidido morar na Fazenda Yuba, em Mirandópolis/SP, onde o patriarca Isamu Yuba, visualizava uma nova fase cultural em sua comunidade, com a construção do teatro e o ensino da arte da escultura.

O casal chegou no dia 14 de dezembro daquele ano, e a comunidade começava a construir o seu teatro, onde a experiência de Hisao, formado em Belas Artes e com vivência em atuação, cenografia e iluminação, seria muito útil. Enquanto isso, as crianças ensaiavam as peças que seriam apresentadas na festa de Natal, e Akiko, com experiência em coreografia para televisão, começou a orientá-las. Logo, Akiko passou a ensinar balé moderno a esse grupo, formando o famoso balé de Yuba, que divulgaria o nome da fazenda comunitária para todo o mundo. Em 1974, o balé Yuba se apresentou ao então primeiro ministro Kakuei Tanaka, e em 1997, foi visto pelo casal imperial japonês em sua visita pelo Brasil.

Mais recentemente, a coreógrafa ajudou o grupo Tomodachi da cidade de Birigui a se preparar para o Festival Yosakoi Soran (leia na íntegra). Numa entrevista em 2011, Akiko Ohara contou que ela e o marido sempre apreciaram o Teatro Takarazuka e, enquanto morava no Japão, assistiram a todos os shows desse grupo teatral quando se apresentava em Tóquio. Quando Takarazuka visitou o Brasil na década de 70, o casal Ohara viajou a São Paulo para vê-lo no Teatro Municipal. O Takarazuka tem origem na cidade do mesmo nome, e se caracteriza por um elenco exclusivamente feminino. Na origem, em 1914, ele foi influenciado pelos musicais de Londres, Paris e Nova Iorque (mais sobre Takarazuka).

Akiko Ohara dará uma palestra sob o tema “Balé Yuba e eu: 50 anos de Brasil”. Promovido pelo Centro de Estudos Nipo-Brasileiros, a palestra será realizada em japonês, no dia 20 de agosto de 2014, à partir das 18h30, no Bunkyo, na Rua São Joaquim, 381 – 5º andar sala 53.

Informações: 11 3277-8616 – Centro de Estudos Nipo-Brasileiros

 

jul 112014
 

festival de ceramica casarao do cha mogi 2014

festival de ceramica casarao do cha mogi
O Festival de Cerâmica do Casarão de Chá de Mogi das Cruzes acontece no domingo, 3 de agosto de 2014, das 10 às 17 horas, reunindo mais de mil peças de cerâmica, de diversos artistas, para venda. Haverá demonstração de torno e de queima da cerâmica (raku), além de uma feira de artesanato, comida, plantas e animais, e também degustação de chá.

A promoção é da Associação Casarão do Chá, que fica na Estrada do Chá, no bairro do Cocuera, em Mogi das Cruzes. Tel. 11 4792-2164.

O interessante é a oportunidade de visitar o Casarão do Chá, um dos ícones da imigração japonesa no Brasil. A casa foi erguida pelo carpinteiro japonês Kazuo Hanaoka em 1942 para abrigar uma fábrica de chá preto para exportação. Mas o negócio foi declinando e a fábrica foi abandonada, ficando 17 anos aguardando restauração. Essa é uma construção única no Brasil. Feita toda de madeira, não utiliza um único prego ou parafuso, e até troncos de árvores tortas no formato natural foram utilizados em seu interior. A parte frontal lembra um pouco o estilo de um castelo japonês, o que é incomum, mesmo no Japão. O prédio faz parte do patrimônio cultural nacional e foi tombado pelo IPHAN. Vale a pena visitar! Se não puder ir na ocasião do Festival de Cerâmica, poderá visitá-lo qualquer domingo, das 9 às 17 horas. A entrada é franca.

A Associação Casarão do Chá, fundada pelo famoso ceramista Akinori Nakatani, idealizou a reforma, que devido a sua complexidade, demorou para ser executada, sendo inaugurada no dia 1º de junho de 2014.
Veja no vídeo uma matéria recente sobre o Casarão de Chá

jun 182014
 

Limeira Festa da imigracao 162Acontece neste final de semana, a 16ª Festa da Imigração Japonesa de Limeira 2014. Haverá comida típica, origami, ikebana, produtos orientais, artesanato, cosplay e Animeira (evento de animê de Limeira com games, desfile, etc.). Tudo no Centro Municipal de Eventos, que fica na Av. Maria Thereza S. B. Camargo, 1525, em Limeira/SP. A entrada é franca. Eis a programação das atrações da festa em Limeira.

21 DE JUNHO 2014 – SÁBADO – abre às 18 horas

18:45 às 19:00 Daisuke Karaokê Karaokê de São Carlos
19:00 às 19:15 Tomo no kai Odori (dança típica) de Sâo Carlos
19:15 às 19:30 Ryukyu Koku Matsuri Daiko Tambores de Okinawa
19:30 às 19:45 Daisuke Karaokê Karaokê de São carlos
19:45 às 20:00 Tomo no Kai Odori (dança típica) de Sâo Carlos
20:00 às 20:15 Kaizen Yosakoi Soran Dança contemporânea japonesa de São Carlos
20:15 às 20:30 Gaijin Sentai (banda j-rock) Músicas de animes e seriados japoneses (Naruto, Jaspion, Dragon Ball)
20:30 às 21:00 Cerimônia de abertura Abertura oficial da festa
21:00 às 21: 30 Yanagi Taiko Tambores japoneses de São Carlos
21:30 às 21:45 Dança de Salão Dança de Salão da Academia Almeida e Cia
21:45 às 22:00 Ryukyu Koku Matsuri Daiko Tambores de Okinawa
22:00 às 22:30 Bon Odori e Matsuri Dance Dança típica com participação do público e sorteio de brindes

22 DE JUNHO 2014 – DOMINGO – abre às 10 horas

12:30 às 13:00 Demonstração de Kung Fu Arte marcial da Academia Chiu Jin
13:00 às 13:30 Undoukai (Gincana) Corrida de hashi gigante
13:30 ás 14:00 Miwadaiko Taiko Tambores japoneses de Piracicaba.
14:00 às 14:15 Grupo Senbosakura Dança pop japonesa de Piracicaba
14:15 às 14:30 Grupo Kimie Buyoo Odori (dança típica) de Piracicaba
14:30 às 15:00 Nisho Wadaiko Tambores japoneses de Araraquara
15:00 às 16:00 Bon Odori e Matsuri Dance Dança típica com participação do público e sorteio de brindes

jun 062014
 

No dia 3 de junho de 2014, às 11 horas, faleceu em São Paulo o empresário Yoshiro Fujita. Ele era o proprietário da Livraria Sol (Taiyodo para os japoneses), que fica na Praça da Liberdade 153, em São Paulo. Ele tinha 94 anos.

Uma livraria japonesa no Brasil em 1939

Uma livraria japonesa no Brasil em 1939

Fujita nasceu em 1920, em Shirakawa, uma pequena cidade da província de Fukushima. Com 14 anos, em 1934, ele chegou ao Brasil com seus pais e se fixou em Assaí, no Norte do Paraná, dedicando-se à agricultura. Com 18 anos veio a São Paulo e foi trabalhar na importadora Hachiya, enquanto estudava contabilidade. Em 1949, abriu a livraria no bairro da Liberdade (na Rua Conde de Sarzedas, que era onde estava o comércio dos japoneses), onde comercializava jornais e revistas japonesas, além de livros escolares, exercendo um papel importante na história da imigração japonesa no Brasil.

Nas décadas de 50 e 60, quando haviam muitos leitores do idioma japonês, a Livraria Sol chegou a importar 15 toneladas de impressos por mês. A atual loja foi inaugurada em 1959 e a primeira loja continuou funcionando até a década de 80.

Além de vender livros e revistas importadas, a Livraria também trazia materiais esportivos, como luvas, bolas e bastões de beisebol e logo, passou a fabricar esses materiais, tornando-se uma passagem obrigatória para os nikkeis que residiam no interior.

A Livraria Sol não foi a primeira do segmento a ser fundada por japoneses no Brasil, entretanto, a sua boa localização faz com que seja uma referência para os apreciadores de mangá e estudiosos da cultura japonesa.

maio 132014
 

Pai de Lyoto Machida, lutador meio-pesado da UFC, Yoshizo é um dos mais respeitados professores de caratê do Brasil. 8º Dan de caratê Shotokan, 7º Dan de JKA e 3º Dan de Aikidô, ele tem a aparência de um verdadeiro samurai e educou seus filhos como guerreiros, mas conta nesta entrevista exclusiva que quando jovem gostava de brigar.

yoshizo machidaFoi a vontade de brigar que o trouxe ao Brasil. Ou melhor, foi a fama de briguento que o afastou do Japão. Quando estava prestes a terminar a faculdade de engenharia elétrica, Yoshizo foi o primeiro a levantar a mão quando um professor perguntou à classe, se tinha alguém que queria trabalhar na América do Sul.

No Japão, os estudantes do último ano distribuem seus currículos e comparecem às entrevistas de emprego, para serem contratados para o próximo ano fiscal. Yoshizo fez o que os outros fizeram, mas nenhuma empresa quis contratá-lo. Em parte, porque suas notas não eram boas, mas em grande parte porque sua fama não era boa. Tendo vencido um campeonato de caratê em Okinawa, berço dessa modalidade, ele era conhecido por gostar de brigar, no sentido físico da palavra.

“Sempre gostei de desafios e eu queria testar minha força em alguma coisa”, justificou o carateca sobre a sua decisão de deixar o seu País. Nascido na província de Ibaraki em janeiro de 1946, Yoshizo Machida praticou kendô, a esgrima japonesa, dos 6 aos 15 anos de idade. Mas não se identificava com o “esporte dos samurais”, porque gostava mesmo é de brigar. Resolveu começar o caratê para ser mais forte na briga, numa época em que essa modalidade não era bem vista e não era muito praticada, tanto é que Yoshizo foi o primeiro em sua cidade a praticar o caratê. Terminando o segundo grau em Tóquio, pensou em parar os estudos para trabalhar. Mas o gosto pelo caratê falou mais alto e resolveu fazer a faculdade para poder praticar o caratê por mais quatro anos. Treinava quatro horas por dia, não parava nem nos finais de semana, quando visitava outras academias para aprender mais. “Era um louco pelo caratê, meus pais incentivavam e eu treinava sem parar, e até tinha perdido a vontade de brigar”, lembra Yoshizo, que afirma ter estudado o mínimo possível, só para não se reprovar.

Quando avisou que viria para o Brasil, seus pais foram contra, não entendiam como um jovem que terminou a faculdade queria deixar o País. Mas, no final, eles concordaram: “Se é isso mesmo que você quer, que vá, mas é para ir com determinação de vencer”, disseram. O ano era 1968.

Yoshizo veio contratado como funcionário da Jamic, empresa de colonização do governo japonês, e foi parar no meio da mata amazônica, num lugarejo a 100 km de Tomé-Açu, no Pará. O trabalho era duro, pois seu serviço era construir estradas junto com os trabalhadores braçais. Mas isso não era problema e nem o fato de não ter energia elétrica. O problema é que não tinha onde praticar seu esporte predileto. Agüentou um ano e depois pediu demissão, levando bronca de seus superiores. “Eu estava determinado a vencer, mas eu queria vencer lutando caratê”, conta. Foi morar em Belém, capital do Pará, onde abriu uma academia de caratê.

Sem alunos e sem dinheiro, chegou a viver alguns meses só com água e farinha. “Eu limpava a academia, que era também a minha casa, lavava o banheiro e arrumava o tatame, para ficar esperando algum eventual interessado”. Embora acreditasse que um dia daria certo, não agüentou mais e resolveu ir para a Praça da Sé, em São Paulo, onde Keisuke Inoki (irmão do Antonio Inoki, ex-lutador profissional e senador do Japão), tinha uma academia de caratê. Morando no local, ajudava Keisuke como instrutor, mas, por ser estrangeiro, não podia competir. A sua sorte começou a mudar, quando, em 1970, um campeonato foi realizado em Brasília, onde se permitiu a participação de estrangeiros. Yoshizo venceu na categoria katá e kumitê, e ganhou admiradores imediatamente. Vieram vários convites e ele aceitou ir para Salvador, para trabalhar numa academia de caratê. Durante os 10 anos que ele permaneceu na capital baiana, viajou por todo o Nordeste ensinando caratê, e a sua academia se tornou a maior do Brasil, com mais de mil alunos. Naquele período, ele foi técnico da seleção brasileira nos Jogos Pan-Americanos e se casou com a baiana Ana Cláudia, com quem teve seus quatro filhos.

“Que educação daria a meus filhos? O de um samurai” pensou. E como não tinha nenhum parente com quem pudesse trocar idéias, resolveu encomendar um livro do Japão, que tinha o título de “Seiko no Tetsugaku” (A Filosofia do Sucesso, de Myouhou Fujii). Esse livro explica como os samurais educavam seus filhos, e Yoshizo seguiu cada linha daqueles ensinamentos. Em primeiro lugar, o samurai não pode mentir em hipótese alguma. “Nunca menti para eles, e nem mesmo cheguei a dizer que se não fossem dormir, um diabo viria buscá-los”, conta.

A educação rigorosa de samurai durou até cada um completar 10 anos de idade. “Para o samurai, a responsabilidade de educar seu filho vai até essa idade. Depois, a criança fica esperta, conversa com amigos e passa a ter sua própria identidade”. Os três filhos nascidos na Bahia e o caçula nascido no Pará praticaram caratê na infância.

Yoshizo conta que pretendia continuar morando na Bahia, quando um ex-aluno de sua extinta academia de Belém procurou-o pedindo para voltar para Pará e reabrir sua academia. O carateca brincou dizendo que só voltaria se ganhasse uma fazenda. Esse ex-aluno havia feito uma bela carreira, e para sua surpresa, arrumou uma fazenda para a família Machida. “A propriedade tinha 75 hectares, era muito grande, e não podia recusá-la, pois um dos meus sonhos quando estava deixando o Japão era ter uma fazenda no Brasil”. Morando no Pará, tentou administrar a academia e a fazenda ao mesmo tempo. Pegou todo o dinheiro que havia ganhado na Bahia e plantou cacau e mamão, e chegou a ter 15 funcionários. Entretanto, a fazenda não deu certo e ele canalizou sua atenção na academia.

No Pará, seus filhos cresciam. Lyoto, o terceiro filho, foi campeão pan-americano de caratê em 2001, bicampeão brasileiro de sumô, ganhou faixa preta de jiu-jitsu e se formou em educação física. Foi para o Japão e treinou durante três anos na academia de Antonio Inoki, além de ter praticado muay thai na Tailândia. Com esse vasto currículo e físico (1,88 m e 95kg), Lyoto começou a competir no MMA, no Japão.

Yoshizo Machida afirma que foi contra a decisão de Lyoto disputar MMA. “Havia poucas regras naquele esporte, por isso era muito violento e o juiz não interferia na partida”, lembra. “Depois, com o tempo, as regras foram criadas e se tornou um esporte de verdade”. Lyoto Machida, foi campeão dos meio-pesados da UFC em 2009, cujo título perdeu no ano seguinte. Hoje, após vitória contra o armêmio-holandês Gergard Mousasi em fevereiro, disputa novamente o título contra o atual campeão Chris Weidman, no dia 24 de julho de 2014 (UFC 175). Lyoto reside nos Estados Unidos, onde vive com a esposa e seus dois filhos.

yoshizomachida net divulgacaoyoshizo e familia machidacomTirando o caçula que é jornalista e trabalha na TV Globo de Brasília, os demais continuaram treinando e competindo, sendo que os dois mais velhos dirigem sua academia, agora com dois prédios de três andares e mais de 1.500 alunos.

Machida recorda que sempre ensinou a seus filhos que se deve fazer tudo da maneira correta, e que, com a dedicação, tudo vai acabar dando certo. “Eu sempre falo que é para treinar para melhorar e não para ganhar medalhas”.

Uma frase em japonês, cunhada por um nobre samurai no século XVIII, é o que sempre norteou esse imigrante japonês naturalizado brasileiro, e é essa frase que define a essência de Yoshizo Machida:

為せば成る、為さねば成らぬ何事も

Naseba naru, nasaneba naranu nanigotomo.

Frase que diz: “Tudo pode ser realizado se desejarmos profundamente, mesmo aquilo que é considerado impossível”.

Entrevista concedida para o jornalista Francisco Noriyuki Sato