jan 052014
 

takashi yanase anpanmanQuem morou no Japão, com certeza, conhece o Anpanman, um personagem de cara redonda, que há 10 anos é o mais querido das crianças japonesas entre 0 e 12 anos. Os números assustam. Com 1170 episódios para TV, a série nunca deixou de ser exibida no Japão desde 1988. A produtora Tokyo Movie Shinsha produziu 24 filmes de longa-metragem com o personagem e mais desenhos de curta-metragem de 24 minutos para acompanhar os longas. Além disso, desde 1988, 24 filmes especiais para o Natal foram produzidos pela mesma empresa.Os livros ilustrados do personagem já venderam mais de 50 milhões de cópias. Seu criador, o desenhista, poeta, escritor, editor e diretor de teatro, Takashi Yanase, criou 1.768 personagens coadjuvantes do Anpanman e figura, desde 2009, no Guinness World of Records como o autor da série animada com a maior quantidade de personagens do mundo.
O sucesso do Anpanman, na verdade, chegou muito tarde para Yanase. Embora a primeira aparição do personagem num livro esteja datada de 1969, só após várias publicações se tornou conhecido. Takashi Yanase, nascido na província de Kochi em 6/2/1919, tinha 69 anos quando o primeiro episódio de Soreike! Anpanman (Vamos lá! Anpanman) foi ao ar pela Nippon TV e ganhou notoriedade. Antes disso, era um ilustrador free-lancer, embora já tivesse recebido importantes prêmios por outros trabalhos de mangá e animê.
takashi_yanaseA TV NHK fez um documentário sobre o autor Takashi Yanase, onde ouviu seus amigos, e constatou que a história do Anpanman não é tão infantil como aparenta ser. “Anpan” é aquele pão doce com “anko” (doce de feijão). Já no primeiro livro publicado, Anpanman arranca um pedaço da sua cabeça para alimentar uma pessoa que está passando fome. Assustador? É que Yanase perdeu o pai quando tinha 5 anos e teve que ir morar com um parente após sua mãe casar novamente. Com 24 anos, teve que ir lutar na Segunda Guerra Mundial. Sobre aqueles anos, ele escreveu mais tarde que passou fome e estava muito fraco, mas sobreviveu. Talvez, a idéia de um super-herói que possa oferecer um pedaço de si para matar a fome tenha originado nessa época. Depois da guerra, trabalhou como ilustrador de um jornal de Kochi e como operador da loja de departamentos Mitsukoshi até se tornar um desenhista independente.
As músicas de abertura e de encerramento da série de TV, compostas por Yanase, alcançaram grande sucesso nacional. Curiosa é a letra da música de abertura, “Anpanman no March” (A Marcha do Anpanman) onde se diz “ikiru yorokobi”, ou seja, “alegria de viver”, seguido por “nanno tame ni umarete, nani wo shite ikunoka”, que pode ser traduzido como “para que se nasce e o que vamos fazer em vida”, reflete o lado existencial e a mensagem que o autor queria deixar para as crianças. Essa música foi tocada repetidamente no Noroeste do Japão, no abrigo das vítimas do terremoto e tsunami de março de 2011, porque ela encorajava as pessoas a prosseguirem, após perderem as casas, pais, filhos e tudo que possuíam. Yanase teria composto essa música lembrando do seu irmão mais novo e brilhante que estudava na Universidade Imperial (atual Universidade de Tokyo) quando foi chamado para a 2ª Guerra e acabou falecendo como piloto kamikaze. Ele sempre questionou a razão dessa perda, que foi irreparável, pois era o seu único irmão e ele não tinha mais os pais.
O sucesso do Anpanman foi transferido para Game Boy, Nintendo, Play Station, Wii e Sega, e em 2007 foi inaugurado o museu infantil Anpanman em Yokohama. Seguiram-se os museus de Sendai e Kobe, e o museu e parque temático em Nagoya.
Takashi Yanase faleceu no dia 13/10/2013, em Tóquio, com 94 anos de idade.

Takashi Yanase conheceu a Abrademi

Foto histórica: desenhista Yoko Imamura, Noriyuki, Sonia Luyten, Ryotaro Mizuno e Takashi Yanase, no hotel Shibuya Tokyu Inn, em 1985

Foto histórica: desenhista Yoko Imamura, Noriyuki, Sonia Luyten, Ryotaro Mizuno e Takashi Yanase, no hotel Shibuya Tokyu Inn, em 1985

“Como presidente da Abrademi, tive a oportunidade incrível de conhecer pessoalmente Takashi Yanase, no Japão. Fui conhecer a terra dos meus pais graças a uma bolsa da Associação de Intercâmbio Brasil-Japão e estava representando a Universidade de São Paulo. Como a bolsa era de apenas um mês, tinha apenas alguns dias livres para fazer o que eu queria. Pedi para agendar uma visita à Associação de Mangá do Japão (JCA) para apresentar a Abrademi, e consegui almoçar com alguns representantes dessa Associação em Tóquio. Era 1985, e a professora Sonia Luyten, que na época morava em Osaka, foi comigo nesse encontro.

Naquele ano, Takashi Yanase ainda não era um autor conhecido, porque o Anpanman ainda não tinha estourado no mercado. Lembro dele como um profissional independente, que publicava livros ilustrados. Até saber do falecimento dele, eu achava que ele era muito mais novo, porque eu tive a impressão de estar falando com alguém mais jovem, que poderia ter uns 45 anos (ele tinha 64) naquela época. Aprendi com ele que ainda tenho muito o que fazer, e que eu estou apenas começando…”

Francisco Noriyuki Sato
Ex-presidente da Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações (Abrademi)

yoko imamura himitsu no akkoPara quem não conhece, o principal trabalho da desenhista Yoko Imamura foi o shojo mangá “Himitsu no Akko-chan”, publicado na década de 60 e 70 (desenho ao lado).

Outros textos sobre mangá estão no site da Abrademi

dez 232013
 

O grupo Linda San Sei formado pelas brasileiras que moram no Japão lançou uma nova música, que pode ser conferida no clipe:

A revista semanal Playboy publicada pela editora Shueisha, lançou no dia 16 de dezembro de 2013, a sua edição nº 52, que traz uma entrevista com o grupo Linda III Sei ocupando 4 páginas. A entrevista pode ser conferida no site em japonês da Shueisha.
Vamos torcer para que em 2014 elas tenham muito sucesso.

Veja outras músicas do grupo:

Aiken Anthony

Mirai Seiki Ezoo

 

nov 222013
 
Caroline_Kennedy_2009

Caroline Kennedy na foto de Bill Burke/Page One

John Fitzgerald Kennedy, presidente dos Estados Unidos, foi assassinado há exatamente 50 anos, no dia 22 de novembro de 1963, em Dallas, Texas, causando um forte impacto num mundo em transformação. Em seu governo, JFK teve que trabalhar contra a discriminação racial aceita em vários estados; conseguiu verba para o Projeto Apollo, cujo maior desafio foi enviar o homem à Lua, e resolveu a questão dos mísseis de Cuba. Ele assinou um tratado para impedir a realização de testes nucleares e estava criando um plano para a retirada das tropas americanas do Vietnã, quando foi morto.
Caroline Kennedy chegou a Tóquio no dia 15 de novembro de 2013 e, no dia 19, bem próximo da data inesquecível, apresentou suas credenciais para o Imperador Akihito. Caroline, única filha viva do casal John e Jacqueline Kennedy, foi nomeada pelo presidente Barack Obama a nova Embaixadora americana no Japão.
Receber um membro da mais famosa família de políticos dos Estados Unidos como seu representante demonstra o respeito com que o Japão é tratado. O falecido presidente ainda é uma figura heróica e popular entre os japoneses.
Ao desembarcar em Narita, Caroline lembrou que seu pai queria ser o primeiro presidente americano a visitar o Japão, para reforçar as relações bilaterais que estavam abaladas após a oposição em massa à renovação do Tratado de Segurança Japão-EUA em 1960.
Hoje, a situação é bem diferente, mas os japoneses esperam de Caroline um apoio para resolver os problemas com a vizinhança e uma sensibilidade para a remoção da base militar americana da cidade de Ginowan, em Okinawa. Essa cidade tem 94 mil habitantes e um terço de sua área é ocupada pela base militar.
Com seu passado de forte apoio a Obama em suas duas eleições presidenciais, Caroline também é muito próxima do Secretário de Estado John Kerry, e com isso, espera-se que ela consiga influenciar nas decisões do governo. A nova Embaixadora esteve no Japão em 1978, visitando Hiroshima com o seu tio Ted; e em sua lua de mel em 1986, quando conheceu Nara e Quioto.

nov 062013
 

heizo_takenakaA SBPN – Associação Brasil-Japão de Pesquisadores realiza, no dia 11 de novembro de 2013, a partir das 19h, um evento de significado especial no intercâmbio entre Brasil e Japão: a palestra do economista Heizo Takenaka e o concerto de Koto com Yoko Nishi.
Heizo Takenaka, ex-ministro da Economia e Política Fiscal, é o atual presidente do Conselho da Competitividade e Revitalização Econômica do governo do Japão e fará palestra sobre “O Desafio e Rumo do Desenvolvimento da Economia do Japão, com Vistas à Olimpíada de Tokyo de 2020”.
Em seguida, às 20h, acontece o concerto “Japanese Ballads e Brasileirinho”, com uma das mais renomadas concertistas de Koto, Yoko Nishi. Além da interpretação solo (em que tocará composições próprias e arranjo de músicas brasileiras!), ela se apresenta juntamente com 16 professores de Koto do Brasil, com grupo de Sakuhachi e Chorinho.
O evento realiza-se no Grande Auditório do Bunkyo, Rua São Joaquim, 381 – térreo – Liberdade – São Paulo, com entrada franca (pede-se a doação de 1 kg de alimento não perecível).

out 172013
 

Uma mudança política significativa ocorreu no que tange ao nikkei brasileiro que foi trabalhar no Japão. No dia 15 de outubro de 2013, o governo decidiu suspender a proibição do regresso dos nipo-brasileiros que receberam ajuda financeira em 2009, para voltar para casa, na ocasião da crise financeira mundial.
Naquela época, o governo japonês ofereceu ajuda ao desempregado nikkei dando-lhe uma média de 300 mil ienes para ser usada na passagem aérea para seus países de origem. Isso resultou no êxodo de cerca de 20 mil pessoas, incluindo 5.805 da Província de Aichi e de 4.641 de Shizuoka.
Embora parte desses migrantes tenha ficado verdadeiramente agradecida pela oportunidade de retornar ao país de origem para procurar uma nova ocupação, outros se sentiram insultados porque, ao aceitar o acordo, eles concordaram em não mais retornar ao Japão por um período mínimo de três anos. Isso foi visto como uma escandalosa artimanha do governo para se livrar dos trabalhadores estrangeiros cuja demanda havia diminuído.
Inicialmente, os trabalhadores foram banidos de reentrar no Japão por um período não especificado, mas depois de uma má repercussão nacional e internacional, o governo sinalizou que poderia permitir o retorno deles em três anos, dependendo da economia.
No dia 15, ao divulgar a suspensão da reentrada, o governo citou os recentes sinais da recuperação econômica. Num exemplo, o Ministro da Saúde, do Trabalho e do Bem-Estar disse que os empregos oferecidos em relação à procura têm registrado o índice de 0.95 em agosto. Isso representa um retorno ao nível anterior ao “Choque Lehman”, que causou uma queda vertiginosa na economia mundial.
“Quanto mais o governo alardeava o efeito positivo do “Abenomics” (medidas econômicas tomadas pelo ministro Abe), mais difícil ficava afirmar que a economia não era forte o suficiente para permitir a reentrada dos nikkeis”, observou Ângelo Ishi, professor de sociologia da Universidade Musashi.
Só que essa aparente concessão do governo veio com um entrave que provocou uma visível revolta dentro da comunidade nipo-brasileira. É que ao nikkei é permitido retornar ao Japão se ele tiver um contrato antecipado de trabalho de no mínimo um ano com uma empresa japonesa, o que é considerado quase impossível pela comunidade.
Giullyane Futenma, de 22 anos, diz que a maioria dos estrangeiros nessas circunstâncias pode achar um trabalho como temporário, renovando seu contrato a cada três meses. “Muitos dos meus amigos no Brasil dizem que eles gostariam de voltar aqui agora que a proibição foi suspensa, mas eles não sabem o que fazer com essas condições, afirmou Futenma”. Os pais dela ficaram na miséria quando perderam subitamente seus empregos após o colapso global de 2009 e voltaram para o Brasil.
Apesar disso, o professor Ishi acredita que a medida tenha algum mérito. Ele diz que essa condição dificulta a ação dos astutos empregadores japoneses e intermediários, que tradicionalmente fazem o recrutamento de trabalhadores estrangeiros sem ter nenhum compromisso com eles e sem se preocuparem com os contratos deles. Agora, os funcionários do governo serão obrigados a fiscalizarem os contratos e, se necessário, punir os infratores, além de garantir que o trabalhador esteja na folha de pagamento por pelo menos um ano. “Isso vai permitir que os trabalhadores comecem de novo com uma perspectiva de um trabalho mais seguro”, disse ele, que argumenta que isso sinaliza uma mudança histórica no Japão em relação aos trabalhadores nikkeis.

A bolha econômica do Japão

A aceitação oficial desses trabalhadores ocorreu em 1990, quando a lei de imigração foi revisada para garantir vistos por um período mais longo. O Japão estava desesperado por causa da bolha econômica e precisava de trabalhadores mais baratos para preencher aquelas vagas conhecidas como “3K”: “kitsui” (difícil), “kitanai”(sujo), e “kiken” (perigoso). Entretanto, o governo tomou o cuidado de não admitir que a nação precisasse de mais trabalhadores braçais estrangeiros porque os conservadores temiam que isso fosse tirar o emprego dos japoneses. Embora os oficiais do governo expliquem que a única razão para permitir o regresso desses nikkeis é que a economia está crescendo, alguns especialistas questionam a afirmação. Eles acreditam que isso tem a ver com a ação contra o governo iniciada por Futenma em maio. Futenma e muitos outros relutaram em concordar que suas famílias aceitassem tal acordo, em 2009, para usar o dinheiro e desistir da possibilidade de voltar ao Japão. Uma das conseqüências foi a separação das famílias e amigos que moravam em Hamamatsu, Shizuoka.
“Eu senti como se o governo estivesse dizendo que não precisavam mais porque nós perdemos nossos empregos. Eu gostaria de ter ficado, pois cresci e estava acostumada em morar no Japão, que eu considero minha casa”, disse Futenma, que veio para o Japão com seus pais quando tinha 7 anos.
Dois anos depois de retornar ao Brasil, ela casou-se com Lucas Futenma, que havia comprado sua própria passagem para o Brasil em 2009. Lucas retornou ao Japão em 2012 procurando emprego e pediu que sua esposa fosse readmitida no Japão, mas foi rejeitado por duas vezes.
“Dizer que aqueles migrantes estão impedidos de entrarem no Japão porque eles usaram uma verba de um projeto patrocinado pelo governo não tem qualquer base legal”, disse Ryo Takagai, o principal advogado no processo de Futenma.
Em uma inesperada reviravolta, o governo concedeu o visto de reentrada para Futenma, antes de o julgamento ser aberto. Observadores dizem que era como se o governo soubesse que seria derrotado no tribunal. Agora, os Futenmas estão reunidos e moram em Hamamatsu.
Quando o jornal The Japan Times procurou a informação, um oficial da Imigração explicou que Giullyane Futenma recebeu a permissão de reentrada porque seu estado civil mudou, e assim, a sua situação legal ficou diferente. Porém, o professor Kimihiro Tsumura da Universidade de Hamamatsu acredita que a vitória de Futenma, sem dúvida, foi o que forçou o governo a tomar essa atitude. “Eu espero que o Japão tenha aprendido a lição e nunca mais recorra a esse tipo de programa desumano, mesmo que a situação econômica piore novamente”, disse ele.
Embora Futenma tenha concordado em sair do país junto com seus pais, recebendo a ajuda do governo em 2009, muitos nipo-brasileiros de sua idade preferiram permanecer, disse Tsumura. Ele acredita que o governo provavelmente não percebe e trata os filhos dos trabalhadores como meros acompanhantes dos pais, mas é certo que eles possuem independência e sentimentos.
De fato, muitos desses jovens se manifestaram para ajudar Futenma, criando um forte clamor público que o governo não teve como ignorar. “De certa forma, esses jovens nikkeis deram um passo corajoso, mostrando que eles são totalmente capazes de tomar suas decisões e agir por conta própria”, concluiu Tsumura.

(tradução livre da matéria publicada pelo The Japan Times, edição de 15/10/2013, autor: Tomohiro Osaki)