Cecília Ohira
Cecília Ohira é um nome bastante conhecido, principalmente daqueles que gostam de cantar, pois ela é uma conceituada professora e jurada dos principiais concursos de karaokê do Brasil.
Natural da província de Kochi, Teru Ohira (mais tarde Cecília) chegou ao Brasil com apenas dois anos de idade, em 1934, a bordo no navio La Plata Maru, com seus pais e irmãos. Inicialmente, a família morou no bairro do Jaguaré, que na época era uma região agrícola e fazia parte do Cinturão Verde de São Paulo. Lá cultivaram batata, abóbora e repolho. Depois, a família Ohira residiu em Suzano, onde havia uma boa escola de japonês, e onde seus irmãos maiores iniciaram os estudos. Seu pai, Kiyomi Ohira, se tornou diretor da Cooperativa Agrícola de Cotia, e antes da Segunda Guerra Mundial, a família se mudou para o bairro de Embura, em Santo Amaro, onde continuou a atividade agrícola. Ali nessa região, o curso ginasial ia só até o terceiro ano, e por isso, a Cecília foi morar num internato em Mogi das Cruzes, onde estudava japonês e cursava o último ano ginasial. Cecília lembra que no final daquele ano, seu pai conseguiu um salvo-conduto para poder viajar até Mogi e foi buscá-la no internato. A Guerra já havia começado e os imigrantes japoneses precisavam desse documento para poderem se locomover. O curso de japonês foi continuado em Embura, com um professor contratado pela família, em segredo, já que era proibido.
Era triste para todos acompanhar o andamento daquela guerra através de um rádio escondido, sem poder falar o idioma japonês na rua, e sem poder ler jornais no idioma. Um dia, seu pai ouviu pelo rádio, pela primeira vez na vida, a voz do Imperador. Foi o primeiro pronunciamento de um soberano na história do Japão no rádio. Era a declaração da rendição japonesa.
Como diretor da Cooperativa, o sr. Kiyomi Ohira era um homem esclarecido. Diferente da maioria dos japoneses da época mantinha-se bastante informado. E isso acabou trazendo problemas para ele, pois nos conturbados meses que se seguiram à rendição japonesa, a comunidade no Brasil estava dividida entre aqueles que acreditavam na vitória japonesa e naqueles que reconheciam a rendição do País. Como os jornais japoneses estavam proibidos e não poderiam ter rádio em casa, a desinformação era muito grande, vigorando as notícias espalhadas por boatos. Os diretores da Cooperativa procuraram divulgar a verdade, ou seja, a rendição japonesa, mas grupos radicais pregavam o contrário, chegando até a ameaçar e matar quem propagasse opinião diferente. Nessa época, o sr. Ohira, a exemplo de outros diretores da Cooperativa, andava acompanhado de um segurança armado.
No meio dessa turbulência, houve alguns momentos de alegria para a família. O sr. Ohira levou uma vitrola para casa, e a família inteira se reuniu em torno dessa “grande novidade”. O primeiro disco a rodar sob a pesada agulha foi “Mujo no Yume”. Cecília lembra que chorou de emoção. Tinha então 15 anos de idade e estava dando ali seu primeiro passo para o mundo da música.
Aos 17 anos, teve contato com o professor Maruyama, que conduzia um conjunto musical famoso na época. Seus pais contrataram aquele conjunto para animar uma festa em Embura, onde a família Ohira residia. Depois, Cecília se apresentou nos concursos de canto organizados pelo grupo, e, tendo seu talento reconhecido, foi convidado pelo próprio professor para treinar com o seu grupo.
Logo, Cecília estava cantando no Nippaku Ongaku Kyokai, de Maruyama. E foram aqueles os anos de ouro da rádio. Havia apresentações todas as semanas nas rádios Record, Piratininga e Cultura. Tudo isso, antes do surgimento do karaokê.
No final da década de 40, a família mudou-se para Pinheiros, onde ficava a sede da Cooperativa. E assim, Cecília pôde estudar na Akama Gakuin (escola Akama, hoje Colégio Pioneira), que ficava na Rua Vergueiro, Vila Mariana. A escola funcionava como internato e externato, com cursos de japonês e de corte e costura.
Cecília afastou-se da agitação musical quando se casou e foi morar em Barretos. Mas o dom artístico falou mais alto e, quando retornou a São Paulo, foi estudar canto de uma maneira mais profissional, aprendendo a arte do julgamento e estilos musicais com um professor do Japão, por correspondência. Nesse período, a partir de 1972, a Cecília trabalhava na H. Stern Joalheiros, onde se aposentaria 20 anos depois.
Em 1984, Cecília começou a lecionar canto no Coopercotia Atlético Clube, e atuar como jurada, atividade que ela mantém até hoje.
“Gosto de todos os estilos musicais: enka, new enka, pop e rock. Como jurada tenho que conhecer todos”, afirma.
Jurada oficial nos concursos nacionais da Abrac – Associação Brasileira da Canção Japonesa e nos estaduais da UPK – União Paulista de Karaokê, Cecília tem todos os finais de semana tomados pelos concursos de música: “Domingo é o dia que eu trabalho mais”. Por exemplo, num domingo desses, a Cecília foi jurada num concurso que começou às 7 horas da manhã e terminou à meia-noite.
Da sua família, duas netas seguem a avó na música. Uma delas tem 12 anos, e a outra, apenas 3. Ambas se apresentaram no concorrido Paulistão da UPK.
Entrevista realizada em 07/05/2008 para o jornal SBC
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