Michie Akama
Michie Akama faz 100 anos
Ela faz parte importante da história da imigração japonesa. Foi uma das primeiras a se preocupar com a educação, fundando uma escola em São Paulo, que ensinou e abrigou em regime de internato, milhares de moças vindas do interior.
A escola cresceu e completará 70 anos. Sua fundadora, a professora Michie Akama, fará 100 anos no dia 18 de setembro. Recuperando-se de uma operação, ela não pôde ser entrevistada. Mesmo assim, a revista Nippon* não podia deixar de homenageá-la, pois essa educadora, diretora do Centro Educacional Pioneiro, fez parte do grupo inicial de associados do Nippon.
Tudo começou em 1930. A jovem Michie e seu marido Jiuji imigraram para o Brasil em busca de novas oportunidades. Natural da província de Miyagui, ela tinha concluído a Escola Normal em Tóquio e havia lecionado em Sendai. “Daqui a dez anos estaremos de volta” teria dito Michie às suas alunas, quando deixou a escola para vir ao Brasil.
O início do casal em solo brasileiro foi semelhante a de outros imigrantes japoneses, trabalhando numa fazenda de café em Cafelândia. Mas três anos depois, o casal mudou-se para São Paulo, abrindo um curso de corte e costura na Travessa São Paulo, no bairro da Liberdade.
Logo reestruturada como uma escola, com o nome de “São Paulo Saiho Jogakuin” (Escola Feminina de Corte e Costura de São Paulo), mudou-se para a Rua Conselheiro Furtado, e depois para a Rua São Joaquim, 216. Nessa época, atendendo a necessidade da comunidade, foi criado o curso de língua japonesa de nível médio.
Já existiam várias escolas de idioma japonês, mas nenhuma que pudesse ser classificada como de nível médio. Assim, ao implantar esse curso, o casal teve que importar os mesmos materiais didáticos utilizados em escolas de nível equivalente no Japão. Apesar do alto custo, investiram na contratação de professores com formação universitária no Japão.
Em 1937, funcionando com o nome de Escola Particular Akama São Paulo, iniciou o curso de língua portuguesa, uma vez que a matéria era exigida pelo concurso de habilitação ao magistério, na modalidade de corte e costura. “Anualmente, cerca de 40 jovens conseguiam aprovação nos exames do magistério, e assim, muitas retornavam às cidades de origem e lá abriam escolas de corte e costura, atendendo às moças que não podiam vir estudar em São Paulo”, disse a professora no 50º aniversário de fundação da escola, em 1985.
Na época, a maioria dos japoneses e descendentes moravam no interior, e quem queria estudar tinha que ir para uma cidade grande.
Em 1939, Michie e seu filho viajam para o Japão, com o propósito de realizar estudos relativos à educação. Durante sua viagem, seu marido falece repentinamente no Brasil.
A escola mudou-se para a Rua Tamandaré, 849, em abril de 1941.
Os cursos foram enriquecidos com um programa que incluía atividades artístico-culturais, como música, pintura, tanka (poesia), etc.
O período de guerra
A 2ª Guerra Mundial trouxe algumas conseqüências inesperadas para a escola. No início de 1942 verificou-se o aumento de alunas, por causa do fechamento das escolas japonesas no interior.
Com o racionamento de sal, açúcar e óleo, o café da manhã servido na escola ficou sem açúcar. Nessa época, a escola abrigava mais de 100 alunas em regime de internato.
As autoridades educacionais forçaram a mudança do nome da escola para “Escola Tamandaré”. Além disso, para manter a escola funcionando, os proprietários tiveram que designar um diretor com nacionalidade brasileira e receber uma interventora.
Em 1943, a escola teve que desocupar o prédio da Tamandaré, mudando-se para a Rua Vergueiro, 235. Em janeiro de 1944, instalaram-se num prédio na rua Vergueiro, 2625, que passou a ser a matriz. Mas ambas eram alugadas, e a campanha para a aquisição da sede própria começou em 1947, após o fim da guerra.
Nova Realidade
O término dos conflitos internacionais marcou também uma mudança no interesse de suas alunas. Agora, cada vez mais, elas queriam estudar para se integrarem à sociedade brasileira. Com isso, foram incluídas matérias curriculares do ensino médio, como inglês, francês e latim.
Tudo isso serviu de base, para, em 1950, ser criado o curso supletivo do secundário nacional.
Em 1958, doando todos os bens da escola, até então sua propriedade particular, Michie Akama criou a Fundação Instituto Educacional Dona Michie Akama. A medida foi tomada para que a entidade pudesse aceitar novos desafios, independente do âmbito familiar.
A construção da atual sede, na Rua Dr. Altino Arantes, 1098, na Vila Mariana, começou em 1965. A professora percorreu o Brasil, principalmente visitando suas ex-alunas para angariar fundos para a construção.
Uma vida dedicada à educação
O currículo da professora Michie Akama é praticamente a trajetória da sua escola. Dedicou-se tanto que a sua vida se mistura com a história da escola. Por isso, todos os títulos que ela recebeu sempre foram em reconhecimento à sua dedicação ao ensino. No dia 29 de abril de 1974, Michie esteve no Japão, onde foi recebida pelo Imperador Hiroito (justamente no dia do 73º aniversário do soberano), para receber a Comenda Tesouro Sagrado de 5º grau.
Hoje a escola fundada por Michie e seu marido, é conhecida como Centro Educacional Pioneiro, cobrindo desde o maternal até o ensino médio (2º grau), e está entre as melhores de São Paulo. Com 900 alunos, atividades esportivas e vários laboratórios, é difícil compará-la ao curso de corte e costura de 1933. Entretanto, o curso de japonês continua, e 90% de seus alunos são orientais. “Gostaríamos de ter mais alunos não nikkeis, mas foi um processo natural, resultado da propaganda de boca em boca, já que a maioria tem pais, tios ou irmãos que estudaram aqui”, explica Antonio Akama, filho único da Michie, que é vice-presidente da sua Fundação.
*Publicado na Revista Nippon nº 24