Futebol japonês
Paixão de massas no mundo inteiro, o futebol no Japão, de esporte pouco conhecido e praticado no país há poucos anos atrás, passou à atual condição de terceiro esporte mais popular do país, conquistando prestígio e milhões de torcedores no arquipélago, principalmente após a Copa de 2002 – a primeira realizada na Ásia e a primeira sediada por dois países: o Japão e a Coréia do Sul – da qual nós brasileiros sempre teremos ótimas recordações.
Francisco Noriyuki Sato, jornalista e consultor do Cultura Japonesa, nos fala sobre a história do futebol no país dos samurais, e de como célebres brasileiros ajudaram os japoneses a ganhar intimidade com a redonda e a popularizar o futebol no outro lado do mundo.
A importação do futebol
Em japonês, “futebol” é sakkā. A palavra deriva do inglês “soccer”. Historicamente, existiram pelo mundo vários tipos de jogos similares ao futebol, que envolviam basicamente dois times chutando uma bola com os pés, mas é tido como pacífico o entendimento de que foi na Inglaterra que surgiu o futebol moderno, na segunda metade do século XIX.
Há registros de que o futebol chegou ao Japão na Era Meiji (1868-1912), época na qual o país abriu-se a influências ocidentais num intenso esforço de industrialização e modernização. Desde então, os japoneses passaram a dividir os esportes no país em dois grupos: os tradicionais (como o sumô, o judô, o karatê, o kendô, etc.) e os importados do ocidente. Em 1878, instrutores ingleses trazidos ao Japão para ensinar práticas esportivas ocidentais apresentaram, entre diversas modalidades que variavam do clássico atletismo (corridas, arremesso de peso) aos “exóticos” esportes de inverno, e do elitista tênis aos chamados “esportes populares” (corridas de gincanas – veja “Gincana Poliesportiva – Undoukai”), o futebol aos japoneses.
Apesar da fundação de uma liga de praticantes do futebol em 1922, a Dai Nippon Sakkā Kyōkai (Associação de Futebol do Grande Japão), o esporte permaneceu pouco praticado por décadas no arquipélago, restringindo-se à prática amadora dentro de escolas e empresas. A Dai Sakkā Kyōkai, que como quase todas entidades esportivas de antes da guerra no Japão usava a prática de esportes para doutrinar crianças e jovens na ideologia militar-nacionalista do governo da época, foi substituída após a 2ª Guerra pela Nippon Sakkā Rīgu (Liga de Futebol do Japão). Seguindo diretrizes do governo de ocupação americano (1945-1952), as entidades esportivas no Japão pós-guerra se desmilitarizaram e adquiriram o atual perfil de entidades civis de caráter esportivo propriamente dito. Entretanto, o esporte que se tornou paixão das massas no Japão logo após o fim da guerra foi o beisebol, extremamente popular entre os americanos, e que rapidamente se profissionalizou no arquipélago devido ao grande interesse de empresas patrocinadoras e da mídia.
Dos anos 50 ao final dos anos 80, o futebol no Japão foi praticado em nível amador em escolas que pudessem manter o “luxo” de ter um campo adequado (num país onde espaço é um bem escasso, um enorme campo gramado é extremamente caro) e em universidades. Algumas empresas que também mantinham times amadores, entretanto, passaram aos poucos a investir em times semi-profissionais e inscrevê-los na Nippon Sakka Rīgu, também conhecida como JFL (sigla do nome da entidade em inglês, “Japan Soccer League”). Assim, na década de 80, a Liga japonesa era formada por 10 times semi-profissionais montados não a partir de clubes como no Brasil, mas de empresas do setor privado, times estes que em 1992 formaram a base da atual Liga Profissional de Futebol do Japão, a J-League.
Craque de ficção, craque da realidade
Parte da atual popularidade que o futebol goza atualmente no Japão tem raízes numa geração de jovens que curiosamente passou a apreciar o esporte através de ídolos da ficção – mais especificamente de um mangá (quadrinhos japonês), que ao se tornar um fenômeno de cultura pop deu impulso a um esporte até então pouco praticado no país.
Em 1981, quando o futebol era algo desconhecido pela maioria da população japonesa, uma revista de quadrinhos chamada “Shūkan Shōnen Jump” (“Pulo” semanal para meninos) passou a publicar uma história cujo protagonista era um estudante ginasial determinado a se tornar o maior craque do futebol do Japão. A história se chamava “Captain Tsubasa” (no Brasil, “Super Campeões”), numa referência ao nome do personagem principal, o menino Õzora ‘Oliver’ Tsubasa. Criada pelo desenhista Yõichi Takahashi, a série “Captain Tsubasa” foi publicada em capítulos semanais durante 8 anos seguidos, somando 5.300 páginas. Que impacto pode ter uma história em quadrinhos no Japão? Considerando-se que na época a revista “Shōnen Jump” era lida semanalmente por 6 milhões de crianças e adolescentes, estamos falando de toda uma geração de japonesinhos que conheceram o futebol através de “Captain Tsubasa”.
A primeira geração de jogadores de futebol profissionais japoneses efetivamente cresceu lendo as aventuras de “Captain Tsubasa”, acompanhando como o herói da história, um craque nato obsecado pela bola, evolui na carreira, desde as bases no time da escola quando criança (que tem um técnico brasileiro, Roberto, ex-alcóolatra que encontra no esporte uma chance para reconstruir sua carreira e sua vida), até a consagração como jogador profissional adulto, passando por grandes times estrangeiros como o Milan e o São Paulo, até tornar-se capitão da seleção japonesa. Apesar de mostrar o futebol de um modo um pouco distorcido (onde parece mais importante correr do que jogar) e melodramático (conflitos pessoais dentro e fora de campo eram mostrados com ênfase na história), “Tsubasa” foi um craque de ficção que motivou futuros jogadores japoneses com uma grande aspiração, e ajudou a popularizar o esporte entre os jovens.
Mas na vida real, o primeiro craque japonês que alcançou a condição de superestrela do futebol no país foi o atacante Kazuyoshi Miura, mais conhecido por seu apelido de campo: Kazu. Aos 15 anos de idade Kazu decidiu vir sozinho para o Brasil, determinado a seguir sua vocação e tornar-se um jogador de futebol mesmo contrariando sua família, que obviamente preferia que ele terminasse os estudos e seguisse uma carreira mais convencional. Assim, a partir de 1982 o adolescente Kazu viveu no Brasil como muitos outros jovens de sua idade que procuram fazer carreira no futebol: morou em alojamentos de clubes e passou pelas categorias de base do Juventus. Sendo estrangeiro, também atuou como auxiliar juvenil em programas de intercâmbio, acompanhando jogadores brasileiros adolescentes para jogos amistosos e demonstrações no Japão. No mesmo 1982 Kazu defendeu o Japão na Olimpíada dos Imigrantes, em São Paulo, num time misto cuja base era do Nippon Country Club, de Arujá. E em 1985 ele viajou ao Japão com a equipe júnior do XV de Jaú, onde participou de campeonato internacional.
Em 1986, Kazu iniciou carreira profissional contratado pelo Santos, e foi o primeiro japonês a conquistar uma posição num grande time brasileiro. Ganhando destaque com suas passagens por outros times no Brasil, como o Palmeiras, o Matsubara, o CRB, o XV de Jaú e o Coritiba, ao retornar ao Japão em 1990 Kazu já gozava de status de celebridade ao entrar para o Yomiuri F.C. (que deu origem com o advento da J-League ao Verdy Kawasaki, atual Tokyo Verdy 1969). Em parte, a sorte também atuou a favor de Kazu – ele foi a pessoa certa, na hora certa, no lugar certo. A partir de 1992, com a criação da J-League, o futebol no Japão se profissionalizou, e graças à experiência adquirida com a carreira no Brasil, Kazu não apenas estava no auge da forma, como também era o melhor jogador de futebol japonês de sua geração – o primeiro craque nipônico, que a mídia no Japão elevou à condição de estrela, e os torcedores à condição de ídolo. Em 1994, Kazu jogou na Itália, atuando pelo Genoa C.F.C., e retornou ao Japão em 1995, voltando a jogar pelo Verdy Kawasaki até 1998. Ele voltou à Europa em 1999, onde jogou uma curta temporada pelo Dinamo Zagreb, e voltou ao Japão no mesmo ano, jogando até o final de 2000, defendendo o Kyoto Purple Sanga. De 2001 a 2005, Kazu jogou pelo Vissel Kobe e atualmente encontra-se no Yokohama F.C. Durante dez anos – de 1990 a 2000 – Kazu esteve na seleção japonesa, somando 91 participações e marcando 56 gols.
Nascido em 1967, Kazu agora aproxima-se do momento da aposentadoria como jogador. Rico, premiado e consagrado, Kazu tem sido presença constante na mídia japonesa, atuando como consultor e comentarista de futebol na tevê. Sua carreira hoje inspira vários jovens japoneses a seguir seus passos, dispostos a literalmente ir para o outro lado do mundo e realizar um sonho e uma vocação: ser jogador de futebol. Tendo passado boa parte de sua juventude no Brasil, entre muitas dificuldades e conquistas Kazu criou um forte elo com o país do futebol. Ele é um craque japonês que fala português como segunda língua (para se ter uma idéia, o site oficial do jogador chama-se “Boa Sorte Kazu!”) e que gosta de coisas simples mas brasileiríssimas, como do chopinho gelado com churrasquinho, da caipirinha, das rodinhas de samba e da praia. Em suma, ele se tornou aquilo que brasileiros entendem ser um legítimo jogador de futebol.
A J-League
O pontapé que definitivamente profissionalizou e popularizou o futebol no Japão ocorreu em fevereiro de 1991, com a criação formal da Nippon Puro Sakkā Rīgu (Liga Profissional de Futebol do Japão), a chamada J-League (fala-se “djei liigui”). Em 1992, ainda em formação, a J-League realizou as primeiras partidas oficiais da Liga, mas o primeiro campeonato oficial só ocorreu no outono de 1993, com a participação 10 times. Com ampla divulgação da mídia, e jogos que atingiram picos de audiência iguais aos das partidas do consagradíssimo campeonato profissional japonês de beisebol, a J-League estabeleceu-se definitivamente em 1993, quando passou a realizar campeonatos nacionais anuais regulares.
Algo que diferenciou o campeonato da J-League das competições similares no resto do mundo nos anos 90 foi a regra da chamada “morte súbita”, na qual nenhum jogo podia terminar em empate. Na J-League não haviam partidas de retorno para posterior desempate, o que aumentava a “pressão” e a expectativa de jogadores e de torcedores. Se houvesse empate no tempo regulamentar, ia-se para a prorrogação, e se o empate se mantivesse, a definição ia para os pênaltis – tudo no mesmo jogo. A dramaticidade garantida pela “morte súbita” colaborou para a crescente popularidade do futebol no Japão. Desde então, novos times de alto nível competitivo surgiram no Japão e a J-League teve que ser ampliada.
Em 1999 foi criada a J-League Division 2, ou simplesmente J2 (fala-se “djei tsu”), a partir de 10 times que “subiram” da Liga semi-profissional, a JFL. Assim, o futebol profissional no Japão passou a ser dividido entre os clubes da Primeira Divisão, ou J1 (fala-se “djei wan”), e os da J2. Em 2005, o campeonato da J-League adotou o formato dos campeonatos de clubes europeus, com partidas de retorno (uma “em casa” e outra na “casa do adversário”), mantendo-se o rebaixamento dos 2 últimos colocados na J1 para a J2, e a promoção dos 2 primeiros colocados da J2 para a J1, instituídos no campeonato em 1999.
Atualmente (2006), a J-League é composta pelos seguintes times:
J-League Division 1- J1
- Gamba Osaka (campeão da J1 em 2005)
- Urawa Red Diamonds
- Kashima Antlers (campeão da J-League em 1996 e 1998, e da J1 em 2000 e 2001)
- JEF United Ichihara Chiba
- Cerezo Osaka
- Júbilo Iwata (campeão da J-League em 1997, e da J1 em 1999 e 2002)
- Sanfrecce Hiroshima
- Kawasaki Frontale
- Yokohama F. Marinos (campeão da J-League em 1995, quando era só Yokohama Marinos, e da J1 em 2003 e 2004, após fusão como o Yokohama Flügels)
- F.C. Tokyo
- Oita Trinita
- Albirex Niigata
- Omiya Ardija
- Nagoya Grampus Eight
- Shimizu S-Pulse
- Kyoto Purple Sanga
- Ventforet Kofu
- Avispa Fukuoka (campeão da J2 em 2005)
J-League Division 2 – J2
- Kashiwa Reysol
- Tokyo Verdy 1969 (antigo Verdy Kawasaki, campeão da J-League em 1993 e 1994)
- Vissel Kobe
- Vegalta Sendai
- Montedio Yamagata
- Consadole Sapporo
- Shonan Bellmare (antigo Bellmare Hiratsuka)
- Sagan Tosu
- Tokushima Vortis
- Mito Holly Hock
- Yokohama F.C.
- The SPA Kusatsu
- Ehime F.C. (time que subiu da JFL em 2005)
Para manter a popularidade do futebol em alta, a J-League atua com um forte esquema de produtos licenciados e merchandising, que varia do já consagrado sistema de venda de produtos de vestuário e outros acessórios com as cores e marcas dos times, a cards colecionáveis de fotos de jogadores e histórias em quadrinhos. Video games com gráficos cada vez mais realistas, baseados em partidas de futebol da J-League e da FIFA, são também comuns. Num país onde o futebol é apenas mais um esporte entre muitos (diferentemente do Brasil, onde a cultura popular e o futebol estão praticamente integrados), o esforço comercial é fundamental para que o futebol se mantenha em voga. E estando na moda, o futebol no Japão atrai também um grande público feminino. Tamanha é a tranqüilidade nos estádios japoneses, que mulheres e crianças formam literalmente metade do público que comparece às partidas.
A participação de técnicos e jogadores estrangeiros foi importante para que o nível técnico dos times da J-League evoluisse. Alguns dos estrangeiros famosos que atuaram nos campos japoneses foram os alemães Michael Laudrup e Guido Buchwald (que ficou conhecido na mídia japonesa por curiosamente comemorar gols gritando o próprio nome, e que atualmente é treinador do Urawa Red Diamonds).
Mas hoje os japoneses já possuem seus próprios ídolos futebolísticos. Alguns dos mais famosos jogadores da atualidade no Japão constam da lista de convocados do atual técnico da seleção japonesa, o brasileiríssimo Zico. É o caso Yoshikatsu Kawaguchi, o goleiro da seleção; dos centro-avantes Atsushi Yanagisawa, Keiji Tamada e Seiichiro Maki; dos jogadores de defesa Koji Nakata, Keisuke Tsuboi, Makoto Tanaka, Yuji Nakazawa e Tsuneyasu Miyamoto; e dos meio-campistas Shinji Ono, Mitsuo Ogasawara e Takashi Fukunishi.
O lado brasileiro do futebol japonês
Assim como no resto do mundo, a presença de brasileiros no futebol é uma constante. No Japão, vários brasileiros se destacaram.
Leonardo Nascimento de Araújo é o Reonarudo que já foi do Flamengo, do São Paulo, do Valência, do Paris Saint-Germain, do Milan e da Seleção Brasileira. Ele se transferiu para o Japão em 1996 para substituir Zico, quando este se aposentou como centro-avante do Kashima Antlers com uma grande festa. No Japão, Leonardo destacou-se como atacante do Kashima e era conhecido na mídia por sua fama de hansamu (belo, bonito) – e por ficar avermelhado com a gritaria das fãs japonesas.
José Roberto Gama da Oliveira, mais conhecido como Bebeto, foi outro ilustre membro da Seleção Brasileira que jogou pelo Kashima Antlers. Além da habilidade nos gramados, o público aguardava os gols de Bebeto para ver a famosa coreografia comemorativa que ele havia criado na Copa de 1994, a “nana-nenê” (na época, o jogador dedicou um gol ao filho recém-nascido), vista com simpatia pelos japoneses.
Decidido e dono de um chute potente, Carlos Caetano Bledorn Verri foi um ídolo do Júbilo Iwata durante os quatro anos em que atuou pelo time. Mais conhecido por seu apelido de campo, Dunga é outro membro da Seleção do Tetra que após ter jogado no Internacional, no Corínthians e no Stuttgart, deixou sua marca no futebol japonês.
Alcindo Sartori, chamado de Arushindo pelos japoneses, já estava vivendo no Japão anos antes da criação da J-League, e quando o futebol profissionalizou-se no país, destacou-se no Kashima Antlers até 1994, quando transferiu-se para o rival Verdy Kawasaki. Na temporada de 94 da J-League, Alcindo ganhou notoriedade por seu saldo de gols (50 em 71 partidas), e ficou conhecido na mídia por sua aparição num comercial de macarrão instantâneo para a tevê, no qual sua “marca registrada” – a cabeça meio careca e longos cabelos laterais amarrados num rabo-de-cavalo – foram penteados como um topete de samurai antigo.
Há também curiosos casos de jogadores brasileiros que assumiram o Japão como nova pátria, e naturalizaram-se japoneses graças ao futebol.
Rui Ramos, jogador brasileiro que naturalizou-se japonês e adotou ajaponesado nome de Ramosu Rui, é um pioneiro do futebol no Japão. Ramos foi para o Japão em 1977, época na qual o futebol japonês era amador e os salários eram baixos, para jogar no time de uma empresa. Com o tempo, e após vencer uma série de dificuldades, ele se adaptou ao país, casou-se com uma japonesa, e em 1989 decidiu naturalizar-se japonês e mudou seu nome. Sua longa cabeleira ondulada e barba, além de seu reconhecido talento com a bola, o tornaram um dos jogadores mais conhecidos no Japão com o advento da J-League. Ele foi o primeiro ocidental a jogar pela seleção japonesa, na disputa das vagas para a Copa de 1994 nos Estados Unidos, e é atualmente o treinador do time de seu coração: o Tokyo Verdy 1969 (esse 1969 faz parte do nome do time).
Wagner Lopes, que no Brasil começou nas categorias de base do Grêmio, foi para o Japão para jogar em times semi-profissionais de empresas e lá profissionalizou-se, passando por vários times da J-League, como o Kashiwa Reysol, o Bellmare, o Nagoya Grampus, o F.C. Tokyo e o Avispa. Naturalizou-se japonês em 1997, e foi o primeiro ocidental a jogar pelo Japão numa Copa, em 1998.
Alessandro dos Santos, conhecido apenas como Alex – ou como dizem os japoneses, Arekusu – seguiu o exemplo de Kazu às avessas. Em 1994, aos 16 anos de idade, Alex foi para o Japão fazendo parte de um sistema de intercâmbio de jovens atletas, e sua habilidade com a bola rendeu-lhe uma bolsa de estudos e permanência no país. Tornou-se jogador de futebol profissional no Japão em 1997, contratado pelo Shimizu S-Pulse, e foi eleito o melhor jogador da J-League em 1999. Em 2001, Alex naturalizou-se japonês e foi convocado para a seleção japonesa na Copa de 2002. Atualmente jogando pelo Urawa Red Diamonds, Alex vai jogar novamente pelo Japão na Copa de 2006.
São tantos os brasileiros que atuaram e ainda atuam no futebol japonês nos mais diversos níveis – jogadores, treinadores, auxiliares técnicos, tradutores, preparadores físicos, etc. – que é difícil citar todos. Entre os mais famosos jogadores, é oportuno mencionar que já passaram pelos gramados nipônicos Émerson Passos, Bismarck Barreto Faria, Magno Alves, Washington Cerqueira, Marquinhos e Alex Mineiro, e entre os técnicos mais conhecidos, basta citar que Toninho Cerezo, Émerson Leão, Joel Santana e Paulo Autuori engrossam uma respeitável lista de estrangeiros que treinaram times japoneses. O importante é destacar que o futebol japonês, considerado um dos mais internacionalizados (ou como prefere a mídia, ‘globalizados’) do mundo, é bastante influenciado pelo Brasil através de tais participações.
Venerado Jīko
Os japoneses em geral sabem que Pelé é o “sakkã no ousama” (rei do futebol), mas idolatria mesmo, eles possuem por um outro brasileiro: Arthur Antunes Coimbra – nosso conhecido Zico.
Chamado de Jîko no Japão, o “galinho de Quintino” já era uma celebridade no Brasil por seus feitos no Flamengo e na até hoje admirada seleção brasileira de 1982. Em 1991, após ter ocupado o cargo de Secretário de Esportes do governo Collor, Zico aceitou ir para o futebol japonês, que na época “engatinhava” para a profissionalização. Mesmo sendo considerado “velho” para jogar futebol (na época ele estava com 38 anos), Zico demonstrou no Japão o que significa ser um verdadeiro craque ao levar seu time, o Kashima Antlers, à vitória da primeira fase do primeiro campeonato da J-League e continuando a jogar por 3 anos. Conhecido por seu compromisso ético com o esporte, sua dedicação ao futebol, e sua fidelidade aos poucos clubes por onde passou, Zico rapidamente ganhou a simpatia dos japoneses. Mas ao expor-se e lidar com o choque cultural, em parte aceitando o que os japoneses tinham a oferecer ao futebol, e em parte defendendo seus pontos de vista para que o futebol evoluisse no país, Zico conquistou respeito no Japão ao nível da idolatria. Após aposentar-se como jogador, ele continuou como assessor técnico do Kashima Antlers, cujo resultado resume-se no fato do time ser tetracampeão da Primeira Divisão do campeonato japonês.
Zico é uma referência do futebol do Japão. Sua atuação em campo e seu esforço para divulgar o esporte fora de campo tiveram grande peso na popularização do esporte no arquipélago. Se antes da J-League o brasileiro conseguia passear livremente pelo confortável, eficiente e barato sistema de trens do país, depois que os japoneses passaram a assistir os jogos pela tevê a mera presença de Zico na rua causava pandemônio. Virar celebridade no Japão significa perda de liberdade, mas estádios lotados e torcidas animadas valeram a pena. Profundo conhecedor do futebol japonês, Zico admira sobretudo a disciplina e a dedicação ao aprendizado dos japoneses. Numa entrevista à revista “Japão Aqui”, Zico contou que pouco antes dos Jogos Olímpicos de Atlanta ele recebeu uma visita de Zagallo. “Eu falei para ele que conhecia todos os jogadores japoneses, e que se ele quisesse saber alguma coisa deles… Mas ele não quis, disse que o Brasil ganharia fácil, e tal”, disse Zico. Ao subestimar o Japão, a seleção brasileira amargou uma derrota histórica, e ironicamente permanece até hoje sem uma medalha de ouro olímpica no futebol.
Agora Zico não dá mais informações sobre os japoneses. Na Copa de 2002, sob comando do técnico francês Philippe Troussier, o Japão não conseguiu passar das oitavas-de-final. Terminada a Copa, os japoneses chamaram Zico para dirigir a seleção japonesa com dois objetivos: classificar o Japão para a Copa da Alemanha e tentar fazer o Japão chegar às quartas-de-final. O primeiro objetivo foi alcançado, e com louvor (o Japão foi a primeira seleção a garantir sua vaga para a Copa de 2006 por disputa). O segundo, saberemos ao término da Copa, quando também se encerra o contrato de Zico e quatro anos de trabalho como técnico dos “samurais azuis”. A seleção japonesa, aliás, é a única cujo nome do treinador antecede o do próprio país. Tão idolatrado é Zico no país do sol nascente, que a mídia japonesa apelidou sua própria seleção de “Jîko Japan”. É a primeira vez que algo assim ocorre. A única coisa certa após a Copa da Alemanha é que Zico ainda manterá contato com o Japão, e sua escola de futebol no Rio de Janeiro – destino disputadíssimo por crianças e adolescentes japoneses que almejam futura profissionalização no futebol – continuará a receber jovens do outro lado do mundo.
Observações do autor:
Em agosto de 1985, tive a oportunidade de viajar com o Kazu ao Japão, ele como jogador do júnior do XV de Jaú, e eu como intérprete do time e bolsista da Associação de Intercâmbio Brasil-Japão. O Kazu já tinha fãs naquela época. Todos os hotéis utilizados durante a sua turnê pelo Japão viviam lotados de adolescentes. As meninas faziam plantão na recepção dos hotéis, esperando seu ídolo aparecer para tirar uma foto e entregar um presentinho. O futebol ainda era amador mas percebia-se que as entidades (prefeituras, times, escolas e patrocinadores) incentivavam bastante a prática da modalidade pelas crianças e jovens. Os estádios já eram bons e as escolas compareciam em peso para torcer. O hábito de convidar times colegiais brasileiros havia começado em 1984 e continua até hoje.
O interesse do Japão pelo futebol brasileiro começou bem antes de todos esses atletas citados na matéria. Em meados da década de 70, alguns nisseis brasileiros foram convidados por equipes semi-profissionais do Japão para jogarem futebol. O fato não ganhou repercussão no Brasil por que em geral eram jogadores pouco conhecidos, que jogavam futebol em times amadores de São Paulo, praticamente equipes de futebol de várzea. Esses jogadores eram contratados para trabalharem nas empresas e defenderem-nas nos campeonatos locais. Um dos mais famosos é Sérgio Echigo, nascido em 1945, que chegou ao Corinthians em 1963 e depois se mudou para o Japão.
Francisco Noriyuki Sato – 02/junho/2006
Escalação do time do Japão na Copa das Confederações 2013
Possível Escalação do time do Japão na Copa do Mundo da FIFA 2014
Escalação do time japonês para a Copa 2014 e a vitória contra Costa Rica
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[…] Atualmente é zagueiro no time nipônico Nagoya Grampus. […]