A educação feminina japonesa no Brasil – 2

 

A EDUCAÇÃO FEMININA JAPONESA CHEGA AO BRASIL

Os imigrantes japoneses que chegaram no Brasil antes da 2a Guerra Mundial (1939-1945) não tinham o intuito de permanecerem. Os japoneses tinham um perfil muito parecido com o dos brasileiros que atualmente vão para o Japão trabalhar como decasséguis, ou seja, pretendiam ficar por alguns anos, trabalhar duro e economizar para retornar ao país de origem com uma poupança razoável. Tendo em vista um futuro retorno e preocupados com a readptação dos filhos na terra natal, os japoneses priorizaram a construção de escolas comunitárias nas colônias para que os filhos estudassem japonês. Mesmo com limitações materiais, pais exortavam os filhos a praticarem a cultura dos antepassados visando uma reinserção rápida na sociedade japonesa quando retornassem, e por isso falavam japonês em casa e na comunidade.

Esse esforço, entretanto, não se mostrava suficiente no que se referia às meninas imigrantes. Foi nesse contexto que a sra. Masue Gohara (slide 8), professora de corte e costura japonesa que chegou no Brasil em 1923, percebeu a falta de uma escola de educação feminina adequada para as jovens nikkeis. Em São Paulo, ela estudou corte e costura estilo francês na escola de Anna Wardman, onde lecionou também japonês, e em 1932 ela fundou a primeira escola do gênero no Brasil, que se chamava em japonês Nippaku Jikka Jogakkou (tradução literal: Escola Feminina Nipobrasileira de Conhecimentos Práticos), ou Escola Internacional de Corte e Costura em português (nome oficial).

Observação: na foto das formandas de 1950 da Escola Internacional de Corte e Costura, na 2a linha de baixo para cima, 2a foto da esquerda para a direita, está minha sogra ainda adolescente com seu nome de solteira, Toyoko Abe.

Minha sogra tinha três irmãs e um irmão caçula. A família morava em Piedade, interior do Estado de São Paulo, e as quatro irmãs estudaram em escolas de corte e costura japonesas na capital. A família não era rica, mas os pais delas foram diligentes em prover às filhas a melhor educação que podiam. Assim as quatro irmãs, em anos diferentes devido à diferença de idades, vieram a São Paulo e estudaram em uma das várias escolas japonesas de corte e costura que hospedavam alunas em regime de internato. Como a demanda era grande e as vagas nas escolas eram poucas, várias famílias reservavam matrículas com anos de antecedência. Em média, as meninas começavam o curso entre 16-18 anos de idade. No caso de minha sogra e as tias do meu marido, apesar de terem feito o curso de corte e costura em escolas diferentes, elas organizaram as próprias casas de modo muito parecido, tinham os mesmos livros e redigiam cadernos de receitas e despesas domésticas do mesmo jeito.

COMO ERA O APRENDIZADO NAS ESCOLAS FEMININAS NIPOBRASILEIRAS

A Escola Internacional de Corte e Costura tinha no início livros e material didático importados do Japão. O curso seguia o programa original do Japão e o idioma usado em sala de aula era o japonês. Além de modelagem de roupas ocidentais, corte e costura à máquina e à mão, as alunas estudavam japonês para aperfeiçoar o idioma, pois apesar da maioria ter aprendido o japonês em casa como língua-mãe e usar o japonês para se comunicar no dia-a-dia, a mistura com expressões em português e vícios de linguagem eram comuns. Estudar japonês nas escolas de corte e costura era uma oportunidade para melhorar o vocabulário, a linguagem polida e a escrita.

Enquanto moravam na escola, as meninas usavam uniformes completos que incluiam acessórios como gravatas e chapéus. A escola não tinha faxineira ou zeladora: as alunas faziam a limpeza da escola como se fosse a própria casa, arrumavam as próprias camas e cuidavam das próprias roupas. Asseio e boa apresentação eram observados, assim como sinais de desleixo eram repreendidos. Acordavam cedo todos os dias e assim que se vestiam com o uniforme iam para fora da casa fazer ginástica ao som de um disco tocado numa grafonola (antigo toca-discos à corda), com música e uma narração que explicava os movimentos a serem feitos (foi a introdução no Brasil de uma prática hoje chamada de “rádio taissô” ou radio taiso – “ginástica com rádio”, quando antes da guerra, a prática dessa ginástica foi difundida através das rádios em todo o Japão) (slide 9).

As alunas preparavam algumas refeições na escola, aprendendo na prática noções de culinária: como lavar e cozinhar o arroz, cozinhar ou fritar ovos, preparar café, cortar legumes e frutas, coisas básicas do dia-a-dia. Também aprendiam contabilidade doméstica básica, organizando um livro-razão simplificado (receitas X despesas). Também aprendiam música, ikebana (arranjo floral estilo japonês) (slide 10) e nihon ningyõ (bonecas artísticas japonesas) como formas de refinamento pessoal artístico e também de aprendizado da filosofia e senso estético japonês. Aulas de etiqueta ocidental faziam parte do currículo. A dona da Escola São Paulo de Corte e Costura, sra. Michie Akama, chegou a publicar um livro em japonês entitulado “Burajiru no Etiketto” (Etiqueta Brasileira) para que as alunas aprendessem bons modos à mesa e comportamento social estilo ocidental. Todas as escolas técnicas femininas eram particulares, mas as de corte e costura eram especialmente caras por serem internatos e pelo material importado envolvido, além das máquinas de costura.

(continua nos links abaixo)

1 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/educacao-feminina-japonesa-no-brasil-1/

2- Esta matéria

3 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-3/

4 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-4/

5 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-5/

6 – http://www.culturajaponesa.com.br/index.php/guia-japao/educacao-feminina-japonesa-no-brasil/as-escolas-femininas-japonesas-no-brasil-6/

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