Cinquenta e três anos depois dos primeiros Jogos Olímpicos realizados em Tóquio, em 1964, o Japão se prepara para o novo e grande desafio, as Olimpíadas de 2020. Estarão os atletas japoneses preparados para essa responsabilidade?
A expectativa é grande. Se em 1964 eram 20 as modalidades disputadas, no próximo Jogos serão 28, além de outras 18 introduzidas em caráter experimental. A concorrência também aumentou. Em 1964 eram 93 países e 5 mil atletas, e para 2020 espera-se a participação de 206 países e 11 mil participantes, a exemplo do que foi nos Jogos realizados no Rio de Janeiro. Para os atletas japoneses, a expectativa é ainda maior, levando-se em conta o peso da responsabilidade de um ótimo desempenho na competição sediada pelo seu próprio país.
Aliás, as Olimpíadas de 1964 deixaram um gosto amargo no coração dos japoneses justamente no judô, esporte originário do país e que estreou naquele ano na competição. Das quatro categorias disputadas, três foram vencidas pelos japoneses, o que era esperado, mas na categoria livre (independente do peso), o gigante holandês Antonius Geesink derrotou o grande campeão e ídolo local Akio Kaminaga na luta decisiva e ficou com a medalha de ouro.
Foi uma notícia em que ninguém acreditaria se não fosse a transmissão pela TV para todo o território nacional. Tominaga tinha 1,79 metros e 102 kg, enquanto o holandês media 1,98 metros e 120 kg, mas acreditava-se que o atleta japonês conseguiria superar a diferença de peso entre eles. Tominaga parou de lutar no ano seguinte, devido à doença na retina. Geesink trocou o tatame pelo ringue de luta-livre e atuou no Japão em parceria com os renomados lutadores da época. Obteve depois o título de doutor com uma tese sobre o judô na Universidade Kokushikan e chegou ao 10º dan.
Em 1964, havia o esforço coletivo de mostrar o novo Japão ressurgido das cinzas da Segunda Guerra Mundial, e todos se esforçaram nesse sentido, principalmente os atletas, que conseguiram 16 medalhas de ouro, classificando o país como o terceiro melhor do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, com 36 medalhas, e da União Soviética, com 30.
Para 2020, os atletas carregam a responsabilidade de levantar o ânimo dos japoneses, que não conseguiram se recuperar após o estouro da Bolha Econômica (Lehman Shock) de 2008, e do trágico tsunami e do consequente vazamento radioativo de 2011.
O treinamento começa cedo
Seis anos antes das Olimpíadas de Tóquio, em 2014, a imprensa japonesa já prestava atenção nas competições nacionais infantis e aos talentos que essas revelavam. Diziam que era importante saber quem se destacava aos 12 anos, porque ele teria 18 em 2020 e poderia ser um representante do Japão.
E a imprensa teve muito trabalho naquele ano, pois há competições nacionais de quase todas as modalidades no Japão, já que o esporte começa a ser praticado na escola primária e continua nos níveis superiores, onde quase sempre há um bom espaço e uma boa estrutura. Quando se consegue um bom resultado em uma modalidade, a escola recebe um investimento maior na área e com isso se torna uma referência para as crianças que se sobressaem no esporte. E muitos disputarão uma vaga naquela escola que pode torná-lo um vencedor.
A Nippon Junior High School Physical Culture Association (Associação Japonesa de Cultura Física do Ensino Fundamental / Ginasial) realiza um levantamento anual sobre as atividades esportivas praticadas pelos alunos e alunas separadamente. Em 2017, constatou-se que entre 10.478 escolas ginasiais, em 8.071 as meninas praticam voleibol, enquanto que em 7.659 jogam basquete, em 6.990 o soft tênis, em 6.313 o atletismo, e em 5.856 o tênis de mesa. Já entre os meninos, em 8.639 instituições praticam o beisebol, em 7.151 o basquete, em 6.990 o futebol, em 6.668 o tênis de mesa e em 6.426, o atletismo. Apesar da estatura média do japonês não ajudar, o basquete é muito praticado nas escolas, tanto pelos meninos como pelas meninas, pelo fato de ser uma modalidade que pode ser praticada em quadra coberta.
Cabe lembrar que, devido a variações climáticas dentro do país, alguns esportes de quadras cobertas são mais praticados em locais de temperatura baixa, privilegiando também as modalidades de inverno, como o esqui e o hóquei no gelo. Algumas delas, por exigirem instalações apropriadas, são menos praticadas , mas é possível encontrar escolas equipadas e que participam de campeonatos regionais, caso de naguinata, kyudô, rugby, luta-livre, patinação artística e arco e flecha. Em algumas escolas do ensino fundamental é possível praticar o sumô, esporte símbolo do Japão.
É tudo estatística!
Quase todos os alunos das escolas japonesas do primário e do ginásio participam do exame anual de força física organizado pelo governo. Trata-se de um levantamento de aptidão física, importante para nortear os treinamentos nos cursos de educação física e nos esportivos opcionais. Pelo levantamento, concluiu-se, por exemplo, que as crianças que fazem brincadeiras físicas, como pular cordas, conseguem melhor desempenho quando praticam esportes.
Estatísticas mostram outros dados interessantes. Os meninos do ensino primário que gastam 7 horas ou mais em atividade física por semana, por exemplo, conseguem arremessar uma bola de softbol mais longe. No caso deles, alcançam a média de 25,8 metros, enquanto aqueles que dedicam menos horas conseguiram a média de 19,04 metros. Mais da metade dos meninos do ginasial consegue correr 50 metros em 7,93 segundos, se praticarem mais de 7 horas de atividade física por semana. Aqueles que praticam menos tempo conseguiram alcançar a média de 8,53 segundos. Como esses dados são levantados no país inteiro, servem para cada escola ajustar o treinamento de seus alunos comparando com os seus resultados anteriores e com os dados de outras instituições. Além disso, serve para mostrar que se deve praticar alguma atividade física evitando o sedentarismo.
Autor: Francisco Noriyuki Sato, jornalista e editor. Escrito em Julho de 2017
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