ago 292020
 


O objetivo é facilitar a compreensão da cultura japonesa através de explicações sobre o passado e o presente do Japão. Este curso segue o currículo do curso de história para universitários estrangeiros no Japão, e contém as atualizações mais recentes da reforma de ensino japonês.
O público alvo são as pessoas que apreciam ou têm curiosidade sobre o Japão, e aqueles que pretendem visitar o país no futuro, seja como turista, a negócios, para trabalhar ou como estudante, para que tenham maior proveito da oportunidade à partir do conhecimento de sua história.

O curso será realizado on-line.

As aulas que fazem parte do curso são as seguintes:
Programação (domingos – 9h às 10h30) – Local: On-Line
– 21 jun – Aula 01 – Ocupação do arquipélago. Períodos Jomon, Yayoi e Kofun (já realizado)
– 28 jun – Aula 02 – Períodos Asuka e Nara – A família imperial
– 05 jul – Aula 03 – Período Heian
– 12 jul – Aula 04 – Período Kamakura – O governo dos samurais
– 19 jul – Aula 05 – Período Muromachi
– 26 jul – Aula 06 – Período Sengoku – guerra civil e chegada dos portugueses
– 02 ago – Aula 07 – Período Edo 1 – isolamento do Japão e a proibição do catolicismo
– 09 ago – Aula 08 – Período Edo 2 – formação urbana e construção de estradas
– 16 ago – Aula 09 – Período Edo 3 – terakoya, gueixas e comércio
– 23 ago – Aula 10 – Período Edo Final 4 – abertura de portos e queda de Tokugawa
– 30 ago – Aula 11 – Período Meiji 1 – governo em torno do Imperador
– 06 set – Aula 12 – Período Meiji 2 – modernização e reformas
– 13 set – Aula 13 – Período Taisho
– 20 set – Aula 14 – Período Showa antes da Segunda Guerra
– 27 set – Aula 15 – Segunda Guerra Mundial
– 04 out – Aula 16 – Perído Showa final – reconstrução e crescimento
– 11 out – Aula 17 – Era Heisei
– 18 out – Aula 18 – Era Reiwa e atualidades
– 25 out – Aula 19 – História de Okinawa – Enquanto era o reino de Ryukyu
– 01 nov – Aula 20 – História de Okinawa – Após se tornar uma província japonesa até hoje

A taxa para participar da aula é de R$ 20,00. Esta inscrição é somente para a aula 11. O Sympla cobra uma taxa de 2,50 sobre o valor da aula, portanto, será R$ 20,00 + 2,50 = R$ 22,50. Poderá ser pago com cartão de crédito ou débito on-line Itaú. Pagamento por boleto somente é aceito até 5 dias antes da data. (Clique no “inscreva-se”, e depois, na página do Sympla, é preciso clicar no sinal de (+) antes de clicar em “realizar inscrição”).

Esse curso, com algumas diferenças na distribuição do conteúdo, foi realizado em 2017 na Associação Cultural Mie para mais de 200 alunos em todas as aulas. Foi repetido em 2018 e 2019 alcançando também grande sucesso e sofreu algumas atualizações para 2020. Agora, por causa da pandemia, o curso está no formato on-line e são aulas mais curtas e o dobro da quantidade de aulas. Alunos já matriculados no curso presencial, cujas aulas ministradas foram três, poderão participar de todas as aulas, desde a primeira, se desejarem.

As aulas serão transmitidas utilizando-se o Zoom. Os alunos precisam instalar o Zoom no equipamento que vai utilizar para assistir as aulas (https://zoom.us/) , tanto no desktop, notebook, tablet ou celular. O aluno inscrito receberá um tutorial de como fazer o acesso pelo ingresso do Sympla. A aula terá o mesmo conteúdo da aula presencial e o professor responderá as perguntas dos alunos ao final de cada aula. Aqueles que não conseguirem assistir a aula on-line, receberão o link para acessar o vídeo da aula pelo YouTube.

: As aulas anteriores poderão ser adquiridas na modalidade de “Pós-Aula”, quando os alunos que se inscrevem recebem links da aula completa para assistir no YouTube e a apostila da aula. Veja em Pós-Aula (link válido até 30/08/2020).

Os professores são:
– Cristiane A. Sato, formada em Direito pela USP, autora do livro JAPOP – O Poder da Cultura Pop Japonesa e presidente da Associação Brasileira de J-Fashion, palestrante em universidades, entidades, embaixada e consulado geral do Japão, foi bolsista da JICA em 2016, na Universidade de Kanazawa.
– Francisco Noriyuki Sato, formado em Jornalismo pela USP, autor dos livros História do Japão em Mangá, Banzai – História da Imigração Japonesa no Brasil, entre outros, e é presidente da Abrademi e editor do site culturajaponesa.com.br. Foi também bolsista da JICA na Universidade de Kanazawa, em 2014, e ministrou palestras em universidades e museus do Japão em 2016 e 2019.

Para qualquer comunicação, utilize o endereço: abrademi@abrademi.com

nov 152019
 

“A Modernização do Japão e as Relações Nipo-Brasileiras” foi o tema da palestra do prof. Dr. Shinichi Kitaoka, presidente da JICA – Agência de Cooperação Internacional do Japão. Realizado no amplo salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, contou com a abertura do prof. Vahan Agopyan, reitor da Universidade de São Paulo e do prof. Floriano Peixoto de Azevedo, diretor daquela Faculdade, entre outros convidados.

Kitaoka falou sobre as relações nipo-brasileiras, mas foi sobretudo uma verdadeira aula de história. Começou falando das atividades da JICA com o Brasil, desde o desenvolvimento da agricultura no cerrado até o assoreamento do Rio Tietê, implantação de agrofloresta em Tomé-Açu, passando por bolsas de estudo e pela implantação do “koban”, o policiamento preventivo no Brasil. Kitaoka atuou na ONU, quando o Brasil propôs a sua entrada como membro permanente no Conselho de Segurança. Atualmente, só Estados Unidos, Rússia, China, França e Reino Unido são permanentes, os demais 10 países são eleitos a cada dois anos e se revezam. Japão e Brasil são os dois países que mais vezes integraram o conselho como membro não permanente. O Japão foi favorável à ideia, mas essa modificação no órgão não foi aprovada. Entretanto, por esse motivo, Kitaoka teve muito contato com o Brasil e sentiu que o País era um grande parceiro do Japão.

O Japão mudou da Era Heisei para Era Reiwa, em maio de 2019. No Japão, além da numeração do ano da forma ocidental, há o número do ano que acompanha o Imperador. Assim, Heisei foi o nome da gestão do Imperador Akihito. Em janeiro de 1989 começou a Era Heisei, e portanto, 2019 corresponde ao ano 31 da Era Heisei, que também é o primeiro ano da Era Reiwa. Essa forma de cálculo dos anos era comum, no mundo inteiro, no passado. Em 21 de outubro deste ano, foi feita a cerimônia de entronamento oficial do Imperador Naruhito, com a participação de líderes de 191 países. O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro também esteve presente. Essa cerimônia utiliza aposentos tradicionais e é realizada desde o século 8, embora o trono em si é mais recente, foi utilizado na posse do Imperador Taisho, em 1911. Mas a existência da família real é comprovada desde o século 6, portanto, é muito antiga. Passagens do Man’yoshu, antologia de poemas do século 8, descrevem detalhes da corte do Imperador. 

A ligação da família imperial com o Brasil já é antiga. A primeira visita do então Príncipe Herdeiro, mais tarde Imperador, Akihito e sua esposa Michiko, ocorreu em 1967. O casal voltou ao Brasil em 1978. Em junho de 1997, o casal retornou, desta vez na condição de Imperador e Imperatriz. Seu filho mais velho, o Príncipe Naruhito, agora Imperador, esteve no Brasil em 1982, esteve no Centenário da Imigração em 2008, e esteve participando do Fórum Mundial da Água, em março de 2018. Outros membros da família também estiveram no Brasil em diferentes épocas, mas o primeiro contato aconteceu em 1934, com a doação em dinheiro do próprio Imperador Showa para a construção do Hospital Japonês, em São Paulo, atual Hospital Santa Cruz, na Vila Mariana.

Explicando o nome da cátedra 

A cátedra Fujita-Ninomiya faz parte das atividades da JICA. Trata-se de um projeto que visa convidar ao Japão os recursos humanos que possam se tornar pilares do futuro e do progresso dos países em desenvolvimento. Dentro do projeto, a JICA estabeleceu um curso no Departamento de Direito Internacional e Comparado da Faculdade de Direito da USP, para o estudo e pesquisa do desenvolvimento e sobre a experiência do Japão na Era moderna.

“Explicando o nome do projeto, são dois nomes ilustres no intercâmbio entre o Brasil e o Japão, e curiosamente, eu os conheci no Japão quando éramos todos jovens. Edmundo Susumu Fujita (1950 ~ 2016) se formou na Faculdade de Direito da USP e seguiu carreira diplomática. Antes dele, os descendentes de japoneses foram ser médicos, engenheiros, mas nessa difícil carreira diplomática, Fujita foi o pioneiro, e ele progrediu pelo seu esforço pessoal. Ele foi Embaixador do Brasil na Indonésia e na Coreia do Sul. Infelizmente, ele faleceu há alguns anos.”

O outro nome é do professor da Faculdade de Direito da USP, Masato Ninomiya. Ele foi o primeiro nikkei a defender uma tese de Doutorado na Universidade de Tokyo, numa época em que isso era a coisa mais difícil do mundo.  Isso, porque, para conseguir o título era preciso estudar profundamente as leis da Alemanha, França, Reino Unido e Estados Unidos, nas quais a lei japonesa se baseia. Depois, estudar a lei japonesa, decifrando os caracteres japoneses. Antes dele, alguns da Coreia do Sul e Taiwan defenderam tese de doutorado, mas Ninomiya foi o primeiro de um país que não utiliza caracteres chineses a atravessar essa barreira. “O professor Ninomiya não queria que colocassem seu nome na cátedra, alegando que não ficava bem para uma pessoa que está viva, mas eu insisti que o nome deveria homenagear as duas pessoas de maior destaque nessa área”, afirmou Kitaoka.

O Japão na Era Meiji

Sendo um especialista em história política e diplomacia, o palestrante não poderia deixar de falar de algumas passagens importantes na história do Japão, e escolheu “Restauração Meiji”, de 1868, como tema para a sua “aula”.

2018 marcou o 150º aniversário da Restauração Meiji. Na verdade, o nome “restauração” pode ser inadequado, pois se tratou de uma verdadeira e grande revolução. O termo restauração se refere à volta do poder nas mãos do Imperador, o que é correto, mas as transformações foram muito maiores.

Vamos lembrar que o Japão chegou a 1868 depois de 260 anos do governo do xógum Tokugawa, e antes dessa família, houve um longo período de governo dos samurais, totalizando aproximadamente 700 anos onde quem comandava o país eram clãs de samurais. O fim do feudalismo ocorreu em apenas 15 anos, depois da chegada do navio negro do Comodoro americano Perry. Os portos foram abertos para o mundo e o Japão teve que correr para recuperar seu atraso, tanto na tecnologia como na política e na defesa. É possível acreditar que as armas que os japoneses usavam eram as mesmas de 260 anos atrás?

Agora, a maior mudança ocorreu na área política. Depois de tanto tempo, acabou a época em que os samurais estavam no topo da pirâmide, e quem ajudou a acabar com isso foram os próprios samurais. Sim, havia uma pressão muito forte porque se não fizessem isso, poderiam se tornar uma colônia de algum país ocidental, como ocorreu na África, na Ásia e na América. Houve então uma união para o bem do País, para se conseguir uma rápida modernização e poder competir com as potências estrangeiras. Em 1871, todos os feudos foram extintos, incluindo os de Choshu e Satsuma, que ajudaram a derrubar o xogunato, porque era necessário.

Hirobumi Ito, em 1885, se tornou o primeiro primeiro-ministro do Japão. Apenas 20 anos antes, um samurai de baixo escalão, que nem lhe era permitido andar de cavalo, jamais poderia pensar em falar sobre política. A Restauração Meiji foi, portanto, uma grande revolução. Foi Hirobumi o responsável pela Constituição japonesa, a primeira fora do Ocidente (estudiosos vão se lembrar da Turquia, mas essa acabou logo). Essa Constituição previu a realização de eleições com a participação popular.

Houve casos de revolta nesse período de transição, porém o número de mortos foi pequeno, se compararmos com a Revolução Francesa, e com certeza, é muito menos do que as baixas da Revolução Russa ou da Revolução Chinesa.

Voltando ao Período Edo

A família Tokugawa conseguiu se manter no poder e manter um período de paz graças a sua habilidade política e pelos mecanismos que criou. O primeiro Tokugawa se estabeleceu em Tóquio, enquanto o Imperador permaneceu em Quioto. Havia muitos clãs poderosos e para enfraquecê-los, ele criou o “sankin koutai”, que era a obrigação do daimyô, senhor feudal, de manter uma residência na capital Edo, onde deveria permanecer por um ano, e retornar para sua terra onde deveria ficar também um ano, isso continuamente. Enquanto estava em sua terra, ele deveria deixar a esposa e filho ou filha em Edo. Assim, Tokugawa tinha esses familiares como reféns, caso o daimyô se rebelasse. Para fazer o “sankin koutai”, o daimyô tinha despesas bem altas, e o objetivo de Tokugawa era fazer os daimyôs gastarem bastante dinheiro nessas viagens, para não terem dinheiro para armamentos. O “sankin koutai” tinha regras rigorosas, e determinava o número de pessoas que cada daimyô deveria trazer segundo sua renda. Assim, deveria ter um x número de cuidadores de cavalos, x cozinheiros, x cavaleiros, etc. Somando tudo, um daimyô comum viajava com 150 a 300 homens em sua comitiva, mas há casos de daimyôs mais ricos que tinham que viajar com 4 mil pessoas. Quando a viagem era longa e difícil, esse daimyô gastava muito com hospedagens e alimentação do seu grupo. Curiosamente, o “sankin koutai” acabou desenvolvendo estradas e aperfeiçoando os meios de transporte, assim como criou o turismo fortalecendo hospedarias, restaurantes e prestadores de serviços nos locais de passagem dessas comitivas.

Pode-se dizer que o prédio da Faculdade de Direito da USP combinou com o conteúdo da palestra do presidente da JICA. A faculdade, a primeira do Brasil, cujas aulas começaram em 1828, começou ali mesmo, mas o edifício da foto foi erguida na década de 1930. Onze presidentes da República estudaram nessa escola.

Durante o Período Edo, cada samurai só podia ter um castelo e deveria morar nele. Antes, os samurais moravam junto com os agricultores e saíam para a guerra quando era preciso.

Nesse período, o Japão esteve fechado às nações ocidentais, excetuando a Holanda, mas os comerciantes holandeses ficavam confinados em Dejima, uma ilha artificial em Nagasaki. Foi uma medida para se defender dos cristãos, que teriam incitado uma revolução nas Filipinas. Não havia um comércio tão intenso com a Holanda, mas os estudiosos se interessavam pelos livros que os holandeses traziam. Assim, muitos estudavam o idioma holandês, e o estudo ocidental era chamado de “rangaku”, e havia escolas onde se ensinava “rangaku”. Uma dessas escolas foi “Tekijuku” fundado por Koan Ogata, um médico, que ensinou química, física, história natural e outras matérias para seus alunos. Ogata foi o primeiro a publicar um livro sobre patologia no Japão. “Tekijuku” formou os principais líderes da Era Meiji, como Masujiro Omura, responsável pelo desenvolvimento de técnicas de navegação e do sistema militar; Sonai Hashimoto e Yukichi Fukuzawa. O último foi jornalista, escritor e tradutor . Ele era fluente em holandês, mas quando foi a Kanagawa conhecer os estrangeiros que chegaram com a abertura do porto, ele se decepcionou porque os estrangeiros só falavam inglês. Ele passou a estudar inglês e participou a primeira missão diplomática do Japão para os Estados Unidos. Foi o fundador da famosa Universidade de Keio.

O Período Edo representou 260 anos praticamente sem guerras, aumento da população, aumento da produção agrícola, desenvolvimento do comércio, aumento da alfabetização e o surgimento de uma cultura peculiar, sem a influência do exterior.

Em termos de alfabetização, que serviu como alicerce para o sucesso da Restauração Meiji, era praticamente uma responsabilidade dos templos budistas. Chamadas de “terakoya”, objetivou dar uma educação básica para as crianças, com ensino da matemática, escrita, e incluindo geografia e história nos textos utilizados. Isso fez com que 40% da população total do Japão estivesse alfabetizada quando da Restauração. Número surpreendente para essa época no mundo inteiro, já que estudar era privilégio das classes mais ricas.

Uma das artes que se desenvolveu foi o Ukiyo-ê, que retratou os costumes e as paisagens daquele período. Kabuki, uma arte cênica popular, mas de tão interessante, que os samurais também iam assisti-la. Havia tranquilidade no Período Edo, que pode ser verificado nos livros escritos na época. Os japoneses viajavam muito até Ise Jingu, o maior santuário xintoísta do Japão. Consta que uma moça conseguia viajar sozinha e em segurança de Edo até Ise Jingu entre os séculos 17 e 18. A distância é de 400 km, e isso é surpreendente se compararmos com qualquer lugar do mundo.

O período representou também o intercâmbio entre os daimyôs, pois todos estavam morando em Edo.

Além das técnicas de guerra, a navegação praticamente não desenvolveu durante todo o período Edo. Antes do fechamento dos portos, era comum a navegação até Filipinas e Tailândia, por exemplo, para o comércio, mas durante Edo não houve necessidade de desenvolver a navegação mais longa. Assim, quando o Comodoro Perry chega ao Japão, surpreendeu, porque o navio do americano era pelo menos dez vezes maior do que o maior dos navios que o Japão possuía.

Turbulências no começo da Era Meiji

O Japão teve que abrir as portas e sua modernização teve que ocorrer muito rapidamente, mas nada foi tão simples. Surgiu um debate conhecido como “Seikanron”, por volta de 1873, que se discutiu o envio de tropas à Coreia, como punição por não reconhecer a legitimidade do Imperador Meiji e pelos insultos sofridos pelos diplomatas japoneses quando estes tentaram estabelecer um diálogo. Saigo Takamori, um dos estrategistas do governo Meiji, era favorável à ideia, porque, entre outros motivos, num confronto internacional poderia levar muitos samurais que estavam desempregados desde a extinção do sistema feudal. A ideia foi finalmente descartada e Takamori e outros lideres dessa proposta deixaram o governo Meiji, voltando para suas terras. Insatisfeito, Takamori lidera, em 1877, a Rebelião de Satsuma, na qual acaba derrotado. Depois desse episódio, os antigos samurais percebem que não havia possibilidade de vencerem o governo e então passam a lutar para vencer, não com as armas, mas pelas ideias. A modernização das ideias, portanto, ganha velocidade a partir desse ponto, com a formação de partidos políticos e a realização de uma eleição geral para a câmara baixa, efetivada em 1890.

Outro personagem que merece ser lembrado é Takeaki Enomoto. Natural de Edo, sua família servia ao clã Tokugawa. Quando o navio americano força a abertura dos portos, Enomoto, que já estudava holandês, vai estudar no Centro de Treinamento Naval em Nagasaki e em Tsukiji. Depois, Enomoto vai estudar na Holanda e continua na Europa entre 1862 e 1867, retornando fluente em holandês e em inglês. Quando o governo de Tokugawa cai em Edo, Enomoto e seus seguidores recusam a entregar a frota naval em poder do grupo (a maior frota do Japão), e seguem para Hakodate, em Hokkaido, onde organizam resistência em favor de Tokugawa no fortificado de Goryokaku, construído em 1864. No local, a tropa leal a Tokugawa fundam a República de Ezo, um país independente, elegendo Enomoto como presidente. O governo Meiji não quer que o País fique dividido e inicia a Batalha de Hakodate, onde a tropa de Enomoto é derrotada, em junho de 1869. Ele foi preso e, apesar de ser considerado um traidor do País, o governo Meiji reconhece que seus atos sempre foram de um patriota, aquele que pensa no melhor para o seu País. Assim, ele é libertado em 1872, e com todo o seu conhecimento, ele participa da Força Naval do Império. É enviado para a Rússia onde tem sucesso na assinatura de um tratado. Depois se torna Ministro da Marinha e ocupa outros ministérios, como da Agricultura e Comércio, da Educação e das Relações Exteriores. Nesse cargo, Enomoto foi muito ativo em incentivar a emigração dos japoneses, criando a seção de emigração dentro daquele ministério e incentivando empresas privadas a trabalharem com a emigração. Pode-se dizer então, que Takeaki Enomoto é o responsável pelo início da emigração japonesa para a América do Norte, Central e do Sul, incluindo o Brasil.

O que impressiona os estudiosos da história é a velocidade com que as coisas ocorreram no Japão. Saindo de um longo período feudal para uma democracia nos moldes ocidentais, e também a adoção do sistema de ensino semelhante aos das nações ocidentais.  Em 1872 foi estabelecido o ensino primário como no Ocidente. Depois vieram o ensino ginasial e o colegial, e também as universidades, que contrataram muitos professores do exterior, e com isso, o País se desenvolveu a ponto de poder-se equiparar às maiores potências mundiais em poucas décadas.

A palestra foi proferida pelo professor Shinichi Kitaoka (Ph.D.), presidente da JICA, Agência de Cooperação Internacional do Japão, em 4 de novembro de 2019, no Salão Nobre da Faculdade de Direito da USP, dentro do Programa de Estudo do Desenvolvimento Japonês (Cátedra Fujita-Ninomiya).

Escreveu: Francisco Noriyuki Sato, jornalista e editor, do site culturajaponesa.com.br, autor de livros e professor de História do Japão. Foi assessor de comunicação da Cooperativa Agrícola de Cotia e assessor da relações públicas da Jetro. Atual presidente da Abrademi e diretor cultural da Associação Cultural e Assistencial Mie Kenjin do Brasil.

jun 042014
 

historia_do_japao_meiji_eraO engenheiro mecânico e pesquisador de história Hidemitsu Miyamura ministrará uma palestra gratuita sobre a Era Meiji (1867 a 1911), um período de grande transformação na história do Japão, quando o país abriu as portas para o mundo após mais de 200 anos de isolamento. É quando os avanços na medicina, invenções como a ferrovia a vapor, alimentos como a manteiga e roupas ocidentais chegam ao país do sol nascente.

Na segunda parte da palestra, Miyamura comentará a palestra proferida pelo ex-comandante da Força Aérea do Japão, Toshio Tamogami, realizada com muito sucesso, no dia 25 de maio de 2014, em idioma japonês.

O ex-comandante falou na ocasião sobre a situação atual do Japão e as distorções na história do Japão no pós-guerra.

A promoção é da associação Nippon Kaigi do Brasil, uma entidade formada por idealistas que querem estudar e divulgar o Japão (não é religião)

Dia 14/06/2014, sábado, das 16 às 18 horas

Local: Sociedade Brasileira de Cultura Japonesa, Rua São Joaquim, 381, Liberdade, 1º andar, sala 13 (era para ser no 5º andar, mas mudou, ok?)

A palestra será em português, a entrada é gratuita e não precisa se inscrever antes.