Em 2018, 55,4% dos casais japoneses celebraram o casamento em igrejas católicas. E nem há tantas igrejas assim. São apenas 996 igrejas e capelas em todo o território japonês, contra 77.042 templos budistas e 86.648 templos xintoístas.
Os custos do casamento numa igreja católica também são visivelmente superiores, custando em média 3.962 dólares em Tóquio. Se fosse num templo xintoísta, custaria 2.638 dólares na mesma cidade.
Então, qual a razão da preferência pelas igrejas católicas?
O motivo não é religioso, já que apenas 0,35% da população é católica. E o fenômeno é recente. Nos anos 1960, apenas 2,2% dos casais optavam pela igreja católica, enquanto 84,4% se casavam em templos xintoístas e 11,1% realizaram o matrimônio sem cerimônia religiosa. Na década seguinte, as cerimônias na igreja subiram para 6,8% e na década de 1980, para 14,5%. Não há nenhuma pesquisa objetiva, mas há que se considerar o romantismo que o casamento em igreja alimenta nas japonesas, além de ser algo pouco comum na vida da maioria, sendo aquele um momento muito especial. Já uma cerimônia num templo xintoísta é comum, todas elas já passaram por ali em várias ocasiões.
Os mangás femininos publicados nas décadas de 60 e 70 podem também ter alimentado esse sonho. Embora poucos tivessem mostrado cenas de casamento em suas histórias, os mangás criaram um mundo de fantasia onde personagens com lindos cabelos cacheados vivem em palácios europeus do século 18. Foi o caso de “A Rosa de Versalhes” da Riyoko Ikeda, publicada entre 1972 e 1973 na revista semanal Margaret e alcançando sucesso incomum.
O casamento de Diana Spencer com o príncipe Charles, no dia 29 de julho de 1981, na Catedral de São Paulo, em Londres, também pode ter contribuído para aumentar esse sonho romântico nas moças do Japão. Foi decretado feriado nacional no Reino Unido e a cerimônia foi transmitida ao vivo para o mundo inteiro atingindo uma audiência de 750 milhões de pessoas, e teve grande repercussão também no Japão. Nos anos 1990, o número de casamentos em igreja católica subiu para 38,3%, e ainda que o casal real inglês tenha se separado em agosto de1996, a opção pela igreja continuou crescendo, chegando a 64,2% nos anos 2000. Nos anos seguintes, houve um decréscimo da opção pelo casamento religioso, sendo que em 2018 teve a seguinte distribuição: igreja = 55,4% e templo xintoísta = 16,9%, por causa do aumento dos casais que preferem uma cerimônia pública sem as formalidades religiosas, representando 26% dos casamentos.
Casamento pelo ritual budista
A cerimônia de casamento também pode ser realizada em templos budistas. Embora os japoneses sejam budistas em sua maioria, sempre optaram pelo xintoísmo para o casamento. A razão não é clara, mas em geral é costume reservar os templos para os cultos aos antepassados, enquanto em templos xintoístas celebra-se as fases da vida, como crescimento das crianças (7-5-3) e a maioridade (seijinshiki).
Sem uma explicação religiosa, os japoneses preferem o casamento em igreja católica por causa do romantismo contido na cerimônia, podemos concluir.
Obs.: Todos esses valores citados são apenas da cerimônia religiosa, uma vez que despesas com roupas dos noivos, maquiagem, festa, salão, filmagem, convite e outros num hotel em Tóquio pode passar dos 30 mil dólares. O casamento é muito caro no Japão.
Texto: Francisco Noriyuki Sato, autor de História do Japão em Mangá, Banzai – História da Imigração Japonesa, e professor de História do Japão.
>>>Saiba mais sobre “A Rosa de Versalhes”, conhecida também como “Berubara” entre os fãs
Para entender mais sobre esse tema:
“O Culto ao Barroco Romântico no Japão”. Dia 11 de setembro de 2021, on-line, às 9 horas. Palestra com a profa. Cristiane A. Sato. Promoção da Abrademi e da Associação Cultural Mie Kenjin do Brasil. Evento gratuito.
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