GUEIXA
O
recente sucesso do romance best seller
"Memórias de uma Gueixa" de Arthur Golden e do filme baseado no
livro
causou muitos pedidos em nosso site por informações a
respeito do assunto.
Cristiane A. Sato, consultora do CULTURA JAPONESA, apresenta a seguir
uma
introdução a um dos aspectos mais fascinantes da
sociedade japonesa: a gueixa. Nota
Sobre a Grafia - no texto a seguir, a regra será o
uso da grafia em português GUEIXA. Mas eventualmente, em alguns
nomes
compostos, adotamos a grafia do método Hepburn,
internacionalmente usado na
romanização de palavras em japonês: GEISHA.
Independentemente da grafia,
ressaltamos aos leitores que a pronúncia correta em ambos os
casos é
"gueixa". GUEIXA, MUSA DO MUNDO FLUTUANTE
Muito
se fala e se discute, principalmente no ocidente, sobre a figura e o
papel da
gueixa na sociedade japonesa. Na prática, poucos ocidentais, e
mesmo japoneses,
têm efetivamente contato com uma gueixa. Em público, elas
só aparecem em poucas
ocasiões, como no Jidai Matsuri
(Festival das Eras), e na temporada de danças tradicionais Kamogawa Odori (Danças do Rio Kamo) que ocorrem
em outubro, em
Kyoto. Fora tais ocasiões, alguns sortudos turistas conseguem
vê-las andando
pelas ruas, nas raras ocasiões em que elas saem para ter aulas
de dança, shamisen (cítara de três
cordas
tradicional) ou ikebana (arranjo
floral), ou a caminho de um restaurante para entreter algum
empresário ansioso
em impressionar seus convidados. Ser servido ou entretido por uma
gueixa, mesmo
entre os japoneses, é privilégio de poucos. O
fascínio pelo assunto no ocidente começou através
de artigos de jornais e da
arte, do teatro e da literatura a partir da segunda metade do
século XIX,
quando o Japão passou a abrir seus portos às
potências ocidentais, terminando
um isolamento comercial e cultural que durou mais de 200 anos. As
gravuras ukiyo-e (retratos do mundo flutante)
tornaram-se bastante populares e apreciadas na Europa, em especial por
artistas
plásticos na França. Vendidas em folhas avulsas ou
até encadernadas na forma de
um livro sanfonado, tais gravuras freqüentemente retratavam
gueixas, havendo
até artistas que se especializaram em desenhá-las, como
Kiyonaga e Utamaro,
formando um "estilo" dentro do ukiyo-e
chamado de bijin-ga (desenho de
mulher bela). Relatos de viajantes e correspondentes publicados em
jornais de
um Japão tão diferente e exótico eram lidos com
grande curiosidade. Em
1904, o compositor italiano Giacomo Puccini criou a ópera
"Madame
Butterfly". Inspirada num caso verídico, a ópera conta a
trágica história
de uma gueixa, Cho-cho ("borboleta" em japonês), que se apaixona
por
Pinkerton, oficial americano em missão no Japão.
Acreditando ser esposa de
Pinkerton, ela tem um filho mestiço e passa a sofrer o
preconceito dos
japoneses. Ele é chamado de volta aos Estados Unidos, e
acreditando nos
democráticos valores com que seu amado descrevia o ocidente,
Cho-cho aguarda
seu regresso ao Japão na esperança de ir viver com ele e
seu filho na América.
Mas Pinkerton volta casado com uma americana e deixa Cho-cho, que acaba
se
matando. Até hoje extremamente popular, "Madame Butterfly"
não apenas
tornou Cho-cho a gueixa ficcional mais famosa do mundo, como
também serviu de
inspiração para filmes e outra peça de sucesso 80
anos depois: o musical
"Miss Saigon", de Alain Boublil e Claude-Michel Schönberg. A
ficção e diferenças culturais fizeram com que a
idéia que o ocidente tem das
gueixas seja distorcida, pouco correspondendo com a realidade. Muitos,
principalmente os incultos, acham que uma gueixa nada mais é do
que uma exótica
prostituta de luxo - algo que choca os japoneses, que as consideram
refinadas
guardiãs das artes tradicionais. Para os japoneses, achar ou
tratar uma gueixa
como se ela fosse uma mera garota de programa é uma atitude que
revela não só
falta de critério, mas de cultura e "berço" de quem assim
age. Na
sociedade japonesa, a gueixa é objeto de admiração
e respeito. Elas dão status
aos lugares que vão e às pessoas com quem se relacionam -
um status que é mais
ligado à tradição que à moda. Entender
o que é, ou o que faz uma gueixa ser uma gueixa, é
difícil para os que pouco
conhecem o Japão, a história, a cultura e a sociedade do
país. A existência da
gueixa só pode ser compreendida no contexto japonês, assim
como ela é produto
do que o Japão foi e é. FUI ATENDIDA POR UMA GUEIXA
Para
muitos, o fascínio pelas gueixas começa através da
mídia ou da ficção. Meu
particular interesse pelo assunto começou com uma
situação atípica, mas que
serve para ilustrar como é um dia de trabalho de uma gueixa
moderna. No
verão de 1987 tive a feliz oportunidade de conhecer parentes em
Kyoto: a
família de minha tia-avó, Sumiko Yamaguchi. Além
de administrar uma pequena
empresa de distribuição de produtos Maxell, a
família dedica-se há algumas
gerações à pintura artesanal tradicional em seda
para quimonos. Na época,
haviam poucos meses que minha avó, irmã da Sumiko obaasan, tinha falecido e eu era a primeira pessoa do
lado
brasileiro da família a ir ao Japão em 50 anos. Embora eu
fosse apenas fazer
uma visita rápida, pois os compromissos da bolsa de estudos
infelizmente não me
permitiram mais do que aquele único dia livre, a família
organizou uma recepção
daquelas que só em filmes ou em sonhos a gente vê. Ainda
mal havia absorvido meu deslumbramento com a linda casa antiga da
Sumiko obaasan, toda de madeira e tatami
de palha, com móveis rústicos e
velhíssimos objetos de família, quando rapidamente a
parentada juntou várias
mesas baixas na sala do tokonomá e me
chamaram para ir até a entrada. Quase caí para
trás quando vi uma jovem gueixa
chegando, acompanhada por uma gueixa senhora, carregando um shamisen
embrulhado num grande furoshiki. Quando me disseram
que a
presença delas era um presente da família para mim,
pensei: "Será que ouvi
direito? Presente!?" Eu
achava que gueixas só se apresentavam em restaurantes e serviam
de anfitriãs
para homens. Os parentes vieram me salvar de minha ignorância, e
me explicaram
que o fato delas irem a uma residência para ciceronear
alguém é um privilégio
concedido às pessoas consideradas "família" da gueixa.
Produzindo
quimonos finos, há anos os Yamaguchi conviviam com a restrita
comunidade das
gueixas de Gion, e a Sumiko obaasan
era "madrinha" de duas maikos
(jovens aprendizes de gueixa), o que significa que ela patrocinava duas
meninas
que desde os 14 anos de idade estavam vivendo numa casa de gueixas
sendo
educadas para ser gueixas. Era o caso da maiko-san que
sorridentemente sentou-se ao meu lado, que também
chamava minha tia-avó
de "tia" - automaticamente, eu e minhas primas chamávamos a maiko-san de "prima". Foi
assim que também descobri que as gueixas não ciceroneiam
apenas homens. Não é
comum, mas há casos de famílias que as contratam para
entreter crianças, ou
como no meu caso, uma parente que veio de muito longe. Patrocinar a
educação de
uma gueixa é algo que confere status de "protetor das artes"
entre os
japoneses. Os que o fazem, como a Sumiko obaasan,
são constantemente cumprimentados com grande respeito, e vistas
como pessoas
ricas e cultas. Gueixas
são um deleite para os olhos, como uma obra de arte viva. Eu
não conseguia
parar de olhar para a prima maiko-san,
que procurou gentilmente não demonstrar desconforto com a minha
curiosidade. O
penteado volumoso, duro e elaborado, com um enfeite floral e outro de
pingentes
metálicos, me fez pensar que se tratava de uma peruca, mas era o
cabelo dela
mesmo! A maquiagem branca parecia pasta de dente aplicada no rosto.
Não resisti
e apertei um pouco com a ponta do indicador a bochecha da maiko,
dando um sustinho na prima e causando na parentada risadas
do meu comportamento (impressionante aquela camada branca não
ser rígida). A geiko-san (gueixa experiente),
além de
professora de shamisen, era a oneesan
(irmã mais velha, ou orientadora
da gueixa aprendiz) da maiko-san e
amiga de minha tia-avó. Uma senhora elegante, discreta e bonita.
A pele dela me
fez suspirar de inveja. E
que quimono lindo, diferente dos que são usados por nós,
as pessoas comuns. O
quimono de uma maiko é mais longo,
arrastando-se pelo chão, e o obi de
brocado brilhante é mais largo e cai solto em forma de cascata
nas costas.
Fiquei espantada ao saber que para adquirir um só quimono
daqueles seria
preciso dispor de uns milhares de dólares - o suficiente para
comprar um carro
zero grande com todos os opcionais. Todos os dias, só para se
arrumar, fazer a
maquiagem e se vestir, ela leva duas horas - e com ajudantes. A
maquiagem ela
fazia sozinha, mas o penteado era feito por uma senhora especializada
em
arrumar cabelos de gueixas e um senhor, também especializado,
era quem todos os
dias vinha ajudá-la com as várias camadas de quimonos e a
amarrar o enorme obi. Pensando bem, duas horas
até que é
rápido, pela quantidade e complexidade da produção. O
que mais chama a atenção nas gueixas, entretanto,
é a beleza de seus gestos e
seu modo de falar. Cada movimento delas é estudado para ser
estético e parecer
delicado. Espontaneidade não é uma característica
de uma maiko. O tempo todo percebe-se que elas
praticam um treinamento
intenso para moldar o andar, o modo de sentar, a postura, o jeito de
segurar um
copo, tudo. O simples gesto de servir um refrigerante é um
desafio, que nas
mãos de uma maiko vira um pequeno
espetáculo. As atuais garrafas de um litro e meio ou dois,
pesadas e
desajeitadas, são seguradas com firmeza mas aparente delicadeza
por uma maiko treinada sobre um dos braços, com
o bocal apoiado entre os dedos. O processo para encher um copo de
refrigerante
transforma-se numa simples mas engenhosa coreografia com as
mãos. Um dos
talentos de uma gueixa é transformar o trivial em arte. Enquanto
se conversa e se come ao redor da mesa farta, a maiko-san
está constantemente preocupada em verificar se estou bem
servida. Tenho certeza de que bebi, mas meu copo ficou cheio até
o fim do
jantar. Aliás, não precisei me servir. Ela se ocupou de
colocar em meu pratinho
o que eu quis comer, e no caso dos sushis, ela literalmente os levou um
por um
à minha boca. Mimo puro. "Não é à toa que
os homens se derretem por
elas", pensei. Elas também são habilidosas para manter
uma conversação em ritmo
e ambiente agradável. Principalmente a geiko-san.
Quando um assunto ia se esgotando, ela sutilmente já alinhavava
outro antes do
falecimento definitivo do tema. Nada muito polêmico: amenidades
sobre o clima,
as frutas e as flores da estação, ver quem se parece com
quem nas fotos dos
parentes do Brasil, se eu conhecia alguma canção infantil
em japonês (para
admiração de todos, as que eu conhecia eram
antiqüíssimas, de antes da guerra,
pois eram as que a minha avó cantava), etc. O barato é o
falar cantado, com a voz
levemente afinada, que caracteriza o sotaque de Kyoto, usado pelas
gueixas.
Fica sonoramente simpático, delicado, mas para mim, como eu
não conhecia as
particularidades da linguagem local, parecia um idioma diferente do
japonês. Lá
não se fala fulano-san, e sim fulano-han.
Em Kyoto, "bem-vindo"
não é irashaimase - é oideyasu.
Desu vira dosu. "Obrigado" não é arigatô - é ookiní.
"Quimono" vira obebe. Watashi (eu)
vira ate. E por aí vai. Após
o jantar, afastamos os móveis de uma parte da sala. No pequeno
espaço, a sensei de shamisen
toca o instrumento e canta, enquanto a maiko-san
mostra suas habilidades,
dançando com um leque que rodopia no ar e salta direitinho de
uma mão para
outra, como se tivesse vontade própria. Nessa hora percebi que a
linda barra do
quimono que se arrastava pelo chão também vira um
desafio. Uma pessoa
destreinada inevitavelmente pisaria ou tropeçaria na cauda do
quimono, mas uma
gueixa, além de dançar com aquela indumentária
pesada, usa o movimento da barra
e das mangas longas do quimono a seu favor e faz tudo parecer leve.
É difícil
descrever com palavras a graça que é ver uma gueixa
dançar. Não sei por que,
mas é bonito mesmo. Depois de uma sessão de fotos, e de
algumas tentativas
minhas de tirar um sonzinho do shamisen,
que devem ter frustrado a dedicada e paciente sensei,
às nove e meia em ponto um taxi - o mesmo que havia trazido
as gueixas pontualmente às cinco e meia - veio buscá-las.
A
pontualidade japonesa é outra coisa impressionante. E como tudo
mais no Japão,
festas têm hora certa para começar e para acabar.
Acompanhando-as à porta, vi a maiko-san erguer
a longa barra do
quimono para calçar um altíssimo par de guetás
(sandálias de madeira), em forma de trapézio, de 20
centímetros de altura.
Devido ao formato, a área da sandália que toca o
chão acaba sendo a metade da
do pé, o que certamente obriga a maiko-san a
um exercício constante de equilíbrio naqueles
tronquinhos. Mas nada de
balançar ou tropeçar - ela saiu andando com a maior
naturalidade! Perguntei se
não era difícil usar aquilo, e ela respondeu que
conseguia até correr com
aqueles guetás. Até entrar num carro
com o quimono exige da gueixa um "jeitinho" próprio. Aquilo que
seria
complicado para nós, fica simples e elegante no jeito delas. Quando
elas se foram, algo especial pareceu ter ido com elas. De repente, a
casa e
todo mundo pareceu ter retornado à vidinha de sempre. Comecei a
entender o que
os japoneses queriam dizer quando cunharam a expressão "mundo
flutuante". Obrigada, obaasan,
por um dia que mudou o resto de meus dias. ORIGEM DAS GUEIXAS
O
surgimento da gueixa tem muito a ver com a maneira pela qual a
sociedade
japonesa foi organizada durante o governo dos xóguns da
família Tokugawa,
também conhecido como a Era Edo (1603 - 1867). No século
XVII, nas primeiras
décadas do estabelecimento do xogunato, crescentes medidas de
controle da vida
civil foram tomadas objetivando não só estabilidade
interna, mas a manutenção
do clã Tokugawa no poder, o que deu à sociedade como um
todo uma forma feudal,
rígida e hierarquizada, de pouca mobilidade de uma classe a
outra e fechada em
si mesma. Influências externas, como o cristianismo, eram vistas
como negativas
e subversivas, de tal modo que em 1637 um édito do xogunato
ordenou a proibição
do comércio e da vinda de navios europeus (excetuando os
holandeses da Cia. das
Índias, que eram tolerados por não misturar
religião ao comércio, e que ficavam
isolados em uma ilha perto de Nagasaki) e a expulsão dos
estrangeiros, impondo
um isolamento do Japão que se estenderia por dois séculos. O
controle do governo sobre a sociedade civil atingiu em especial as
mulheres.
Excetuando os papéis de mãe, esposa e dona de casa,
não havia uma profissão que
uma mulher pudesse exercer, que não fosse na
condição de auxiliar de seu marido
na agricultura, ou num comércio dirigido pelo esposo - trabalhos
que eram
considerados "obrigação" da mulher e que, por isso,
não recebia uma
remuneração específica. A falta de
opções de profissões para as mulheres foi
agravada em 1629, quando por lei o xógun tornou o teatro uma
atividade proibida
às mulheres. Impedidas de praticar atividades de entretenimento
em público, os
palcos foram rapidamente ocupados por homens travestidos, para
substituir a
presença feminina em cena. Não tendo um marido ou uma
família que a sustentasse,
restava à mulher apenas a prostituição como meio
de subsistência. A
palavra geisha significa literalmente
"pessoa da arte, artista", e ela foi originalmente usada para
designar comediantes e músicos que se apresentavam em banquetes
e festas particulares
no século XVII. Assim, as primeiras gueixas não foram
mulheres, mas homens. Os otoko-geisha (artistas
masculinos) eram
especializados em entreter pequenas platéias em festas,
dançando, cantando
contando histórias e piadas. Como os palcos estavam proibidos
às mulheres, as
festas privadas tornaram-se os únicos lugares onde as mulheres
podiam tocar
música, dançar e cantar, e assim surgiram as onna-geisha
(artistas femininas). Entretanto,
aquela era uma época em que a atividade artística e
prostituição se confundiam.
Donos de pousadas e de casas de chá ofereciam suas
funcionárias, que de dia
eram arrumadeiras e garçonetes, como prostitutas à noite,
ao que se dava o
sutil nome de "serviço de travesseiro". Nem sempre se tratava de
prostituição voluntária - patrões
inescrupulosos diziam às empregadas
"agrade o cliente ou vá embora". Em sua origem o teatro kabuki era predominantemente feminino,
porém muitas dançarinas de kabuki se
prostituíam e escândalos de samurais envolvidos com elas
na capital foram a
causa da proibição de 1629. Assim, a clientela dos
banquetes não esperava menos
das mulheres artistas. Embora durante muito tempo a atividade de gueixa
confundiu-se com prostituição, a partir do século
XVIII medidas que
oficializaram e regulamentaram a prostituição acabaram
distinguindo as
prostitutas das gueixas. PROSTITUIÇÃO
LEGALIZADA
No
ocidente, considera-se prostituta a mulher que mantém
relações sexuais mediante
pagamento. Basta a mulher fazer isso uma só vez, que ela acaba
sendo
considerada prostituta sempre. No Japão, é
necessário saber se a mulher vive
disso, ou seja, para ser considerada prostituta é preciso que
ela faça das
relações sexuais mediante remuneração sua
principal fonte de renda. Se uma
mulher tem amantes mas obtém renda de atividade diversa da
relação sexual paga,
ela não é considerada prostituta. Tal
distinção não é meramente conceitual. Ela
foi necessária na instituição da
prostituição legalizada no Japão feudal. Com
paz interna, a vida urbana no Japão floresceu graças
à estabilidade e ao sankin-kõtai (presença
alternada),
sistema criado em 1635 pelo governo que obrigava os daimyõs
(senhores feudais das províncias) e seus samurais a morar
em Edo (atual Tóquio) por alguns meses. Com hordas de daimyõs e samurais indo e vindo pelo país,
vilas e cidades se
prepararam para fornecer produtos e serviços aos viajantes e o
comércio
prosperou. Éditos do xógun passaram a impor rigorosa
organização nas cidades,
intervindo até em aspectos dos mais particulares da vida civil. No
Japão feudal, casamentos eram arranjos de interesses entre
famílias, e não
uniões por amor. Assim, a maioria dos homens considerava que
sexo com as
esposas era "por dever", ou seja, para procriação e
preservamento da
família ou clã. Sexo com prostitutas, por outro lado, era
"por
prazer", ou seja, sem responsabilidades. Não tendo as
próprias religiões
locais (o budismo e o xintoísmo) fortes restrições
ao sexo comparadas às
religiões ocidentais (de base judaico-cristã), a
tolerância à prostituição era
grande na sociedade feudal japonesa. Longe de casa e das esposas,
samurais
ávidos por diversão invadiam as cidades. Assim, foram
criados os "bairros
do prazer", onde se concentravam teatros, restaurantes, pensões
- e os
bordéis. Concentrados, até cercados com muros e
portões, as autoridades tinham
mais controle sobre tais bairros, seja sob o caráter repressivo,
seja sob o
tributário. Enquanto não legalizada, a
prostituição nada rendia ao poder
público, mas criando bordéis oficiais a atividade passou
a ser lucrativa também
para o governo. As
profissionais do sexo, genericamente chamadas de jorõ
(prostituta, cortesã), passaram a ser obrigadas a morar em
bordéis, que passaram a ser administrados como pequenas empresas
e onde havia
uma hierarquia interna. As mais jovens eram chamadas de yûjõ
(mulher do prazer) e as mais experientes eram as oiran
ou age-jorõ, que eram letradas e eram
responsáveis pela organização e
administração do bordel. As age-jorõ eram
acima de tudo versadas nas chamadas "artes do sexo", que mantinham
como um conhecimento secreto e exclusivo. Há registros de que
uma prostituta,
para chegar a age-jorõ precisava, por
exemplo, conhecer as "48 posições do prazer", saber quais
mariscos,
peixes e raízes serviam de afrodisíacos, e como agradar
um homem fingindo um
convincente orgasmo (quanto mais homens ela pudesse atender em um dia,
maior
era o lucro, e para tanto ela precisava se preservar). Uma das
técnicas
secretas mais exóticas e chocantes era o seppun,
o "ato sexual com a boca". Nós chamamos isso de beijo. Mas
é de conhecimento universal de que onde há regras,
controle e cobrança de
impostos, há também os que procuram meios de burlar o
sistema. As mise-jorõ (prostituta de loja)
normalmente eram serviçais em restaurantes e pensões, que
patrões ofereciam aos
clientes para favores sexuais como um "serviço por fora",
conseqüentemente, livre de impostos. Como formalmente as mise-jorõ eram arrumadeiras ou garçonetes,
elas não eram
consideradas prostitutas, e assim não eram obrigadas a viver num
bordel.
Prostitutas que não queriam viver num bordel, ou sujeitar-se a
um
patrão-cafetão, arriscavam-se procurando clientes longe
dos bairros do prazer.
Uma característica das prostitutas de rua da época era
uma esteira de palha,
que elas carregavam enrolada debaixo do braço para rapidamente
poder atender um
cliente num lugar mais discreto ou no meio do mato. Podendo ser presas
por
prostituição ilegal, ao avistar um policial elas se
apressavam a esconder ou
livrar-se da esteira. Vários
bordéis oficiais no Japão feudal estavam longe de ser
casas apertadas em vielas
escuras, com cubículos espartanos e sujos. Eram limpos,
espaçosos, agradáveis;
alguns até tinham estrutura para promover banquetes. Era
mantendo tal atmosfera
que as prostitutas procuravam atrair uma clientela grande e
freqüente, e para
entreter os clientes também chamavam gueixas - homens e mulheres
- para tocar,
dançar e cantar. Embora as yûjõ e
as jorõ fossem o principal
motivo da
presença da clientela e fossem as "donas da casa", eventualmente
um
ou outro cliente acabava se interessando pela - ou pelo - gueixa, o que
obviamente criava rivalidade entre prostitutas e gueixas. Além
disso, enquanto
as prostitutas eram obrigadas a morar em bordéis seguindo regras
de hierarquia
e não podiam deixar os limites dos bairros do prazer (para
evitar que saíssem,
elas só podiam andar nas ruas escoltadas), os e as gueixas
não sofriam tais
restrições. Tais fatores causavam um tipo de
"concorrência desleal",
e por isso as prostitutas faziam segredo de seu arsenal de
técnicas erotizantes.
A situação entre gueixas e prostitutas só se
tornou mais definida a partir de
1779, quando um decreto do governo reconheceu a profissão de
gueixa. DEFININDO O ESPAÇO DA
GUEIXA
Em
1779, a gueixa foi reconhecida como praticante de uma profissão
distinta da
prostituição e foi criado o kenban,
um tipo de cartório específico para registrar gueixas e
fiscalizar o
cumprimento das regras que a partir de então passaram a reger a
profissão.
Apenas gueixas registradas no kenban
eram reconhecidas e tinham autorização para trabalhar.
Algumas regras que as
gueixas passaram a ter que seguir eram parecidas com as das
prostitutas, como a
obrigatoriedade de viver nas okiyas
(casas de gueixas). Mas outras as diferenciaram das prostitutas.
É importante
observar que as prostitutas tinham prioridade em relação
às gueixas na
sociedade japonesa da época, pois a função e
situação delas já estava definida
há tempos. Assim, muitas das regras do kenban
visavam limitar o que as gueixas podiam fazer. Como
artista, a gueixa tem a obrigatoriedade de ser versada em
música, dança, canto
e literatura - a prostituta não. A prostituta vestia-se com os
quimonos mais
brilhantes, estampados e extravagantes que tivesse - a gueixa foi
proibida de
usar tais quimonos e obrigada a ter um visual mais discreto. As
prostitutas
usavam até uma dúzia de kanzashis
(grandes espetos decorativos para o cabelo, considerados jóias)
e até três
pentes de casco de tartaruga na cabeça - a gueixa foi limitada a
três kanzashis e um pente. As gueixas foram
proibidas de usar o obi amarrado na
frente, que se tornou característico das prostitutas (como a
prostituta
vestia-se e despia-se várias vezes ao dia, era mais
rápido e prático amarrar o obi na frente
do que atrás). E as
gueixas foram proibidas de dormir com os clientes das prostitutas. Se
uma prostituta acusasse uma gueixa de roubar seu cliente, o kenban
fazia uma investigação, e se a
gueixa fosse considerada culpada, ela podia ser suspensa ou expulsa da
profissão. Para evitar que uma gueixa fugisse da casa de
gueixas, ou caísse na
tentação de dormir com um cliente das prostitutas, elas
foram obrigadas a andar
com a escolta de um homem de confiança da responsável
pela okiya onde ela vivia.
Por
volta de 1780 ainda haviam otoko-geisha,
embora as mulheres fossem esmagadora maioria na profissão. No
início do século
XIX, gueixa era invariavelmente uma mulher. GUEIXAS CHEGAM À MESA
Tocar,
cantar, dançar e contar histórias para entreter os
comensais num banquete. Essa
era a principal atividade exercida pelas gueixas. Sentar-se à
mesa e fazer companhia
para os homens era algo que só as prostitutas faziam - mesmo
porque elas
queriam garantir que seus clientes quisessem sua companhia após
o jantar. Mas
aos poucos, os próprios clientes passaram a pedir que as gueixas
também se
sentassem à mesa. Educadas e cultas, as gueixas tornavam a
conversação mais
agradável e o tempo fluía mais rápido. Com as
gueixas, os clientes conseguiam
um tipo de relacionamento que não conseguiam ter com suas
esposas, ou mesmo com
as prostitutas. E nem sempre os homens que íam aos banquetes
queriam fazer sexo
depois de comer. Percebendo que muitos queriam apenas distrair-se, ou
quando
muito flertar, as gueixas descobriram seu público. Para
formar clientela própria, as gueixas passaram a evitar os
bordéis e
concentraram suas atividades em restaurantes e casas de chá, ou
abriam suas
próprias casas de chá. Por volta de 1840, uma gueixa
chamada Haizen decidiu
aprender um pequeno ofício que era executado até
então somente por homens:
servir saquê à mesa. Haizen passou fazer o mesmo, bem como
fazer companhia à
mesa aos convivas. Ela rapidamente tornou-se a gueixa mais requisitada
de Kyoto
e todas passaram a fazer o mesmo. Desde então, as gueixas
vêm desempenhando o
papel de anfitriãs em banquetes, servindo bebidas e conversando
com as pessoas,
além de dançar, cantar, contar histórias e fazer
jogos de salão. Durante
o bakumatsu, os anos do ocaso da Era
Edo, as casas de chá de gueixas foram estratégicas para a
organização do
movimento que restaurou o poder ao Imperador e destituiu o xogunato
Tokugawa.
Contando com a discrição e o voto de segredo das gueixas,
as casas de chá
tornaram-se importantes locais de reunião para os
"conspiradores",
uma vez que reuniões estavam proibidas pelo governo feudal. Nas
casas de chá e
restaurantes entretanto, era totalmente aceitável a
movimentação de clientes e
pequenas aglomerações, e isso encobria eventuais
reuniões políticas. Quando o
Imperador Meiji subiu ao trono em 1867, a colaboração das
gueixas não foi
esquecida. Na Era Meiji (1868 - 1912) promoveu-se rápida e
intensa
ocidentalização e modernização do
Japão, com a implantação de ferrovias,
indústrias, a adoção de vestimentas ocidentais e a
proibição de costumes que,
apesar de arraigados há séculos na cultura japonesa,
foram abolidos por
constranger os ocidentais, como a poligamia e pintar os dentes de
preto. As
gueixas, entretanto, não só permaneceram intocadas, como
foram promovidas pelo
próprio governo como símbolos da melhor e mais bela
tradição japonesa. PRESTÍGIO E
INFORTÚNIOS
As
gueixas tornaram-se símbolo de uma invejável
independência, que as demais
mulheres no Japão de então não tinham. A partir da
Restauração Meiji elas
passaram a desfrutar de prestígio, tendo contato com os
políticos mais
influentes e os empresários mais bem-sucedidos, e de um estilo
de vida
glamuroso. O que elas usavam virava moda e eram imitadas por outras
mulheres -
o que fez com que os quimonos continuassem sendo usados pelas mulheres
por mais
tempo que os homens, que rapidamente adotaram o vestuário
ocidental. Gueixas
viviam com luxo, freqüentavam festas, não faziam trabalhos
domésticos nem
cozinhavam, dedicavam-se à dança e à
música, podiam ter vida sexual e não
precisavam se casar. Aliás, o karyukai,
o mundo da gueixa, era, como é até hoje, um mundo
dominado pelas mulheres numa
sociedade machista. Gueixas eram as "supermodels" da época.
Tarõ
Katsura, Primeiro-ministro do Japão de 1908 a 1911, assumiu uma
gueixa, Okoi,
como amante. O oligarca Kido Kõin casou-se com uma gueixa de
Gion, Ikumatsu.
Outro importante membro do governo foi mais além: o Ministro das
Relações
Exteriores, Barão Mutsu, casou-se duas vezes, e em ambas com
gueixas. Ter uma
gueixa como amante ou esposa tornou-se símbolo de status. Se
ter um rico e influente japonês como danna("patrono",
amante de uma gueixa) ou marido assegurava à gueixa uma
vida de conforto e prestígio, há entre as gueixas a
idéia de que unir-se a um
estrangeiro dá no oposto, podendo até terminar em
tragédia. Tal crença é
baseada na vida de algumas gueixas, que tornaram-se famosas por suas
tristes
histórias. A mais conhecida é a de Okichi, gueixa
designada pelo xogunato para
servir Townsend Harris, primeiro diplomata americano enviado ao
Japão em 1856.
Aparentemente ocorreu que Harris levou Okichi para sua casa em Shimoda,
e com isso
a gueixa entendeu que Harris a assumira como esposa, conforme os
costumes
japoneses da época. Harris, entretanto, sendo ocidental, sempre
considerou
Okichi uma mera cortesã, e mesmo tendo vivido anos com ela,
sequer a mencionou
em seus diários. Em 1862, Harris demitiu-se de seu posto e
voltou para os
Estados Unidos, abandonando Okichi, que cometeu suicídio.
Até hoje, as gueixas
de Shimoda prestam homenagem a Okichi, visitando seu túmulo. A
história de
Harris e Okichi inspirou Puccini a criar a ópera "Madame
Butterfly",
e teve uma versão romanceada numa produção de
Hollywood em 1958, "O
Bárbaro e a Gueixa", com John Wayne no papel de
Harris.
Jovem gueixa do
início do século XX Há
também a história de Yuki Morgan, gueixa que casou-se com
o milionário
americano George Morgan. Sobrinho do banqueiro magnata J. Pierpont
Morgan,
George conheceu Yuki no Japão enquanto fazia uma viagem ao redor
do mundo na
época da 1ª Guerra. Apaixonou-se pela gueixa e decidido a
casar-se com ela,
liberou-a da okiya à qual ela era
ligada - foi o primeiro estrangeiro a fazê-lo - pagando a
considerável soma de
20 mil dólares (cerca de 250 mil dólares em valores
atualizados). Assim que se
casaram, George e Yuki foram morar em Nova York, onde não foram
bem recebidos.
Mesmo sendo milionário, Morgan sofreu forte preconceito contra
sua esposa
japonesa, e decidiram então morar na França, onde viveram
por 10 anos, até o
prematuro falecimento de Morgan. Quando Yuki voltou ao Japão, os
militares
tinham assumido o poder, invadido a Manchúria e se preparavam
para a guerra, e
ela foi discriminada por ter se casado com um estrangeiro e vista como
espiã
americana. Yuki foi perseguida pelo governo, passou dificuldades no
Japão
durante a 2ª Guerra, e viveu em Kyoto até falecer aos 80
anos. BONS ANOS E TEMPOS DIFÍCEIS
Nas
décadas de 1920 e 1930, o Japão passou por um
período de grande prosperidade
econômica. Políticos, industriais, banqueiros,
empresários e a ascendente
classe dos militares de alta patente tornaram-se assíduos e
generosos clientes
de gueixas, formando uma elite vista pela sociedade japonesa como
mecenas das
artes. O status que a gueixa tinha e dava aos clientes inspirava muitas
mulheres a seguir a profissão, embora poucas efetivamente
conseguissem entrar
para o reservado mundo do karyukai.
Mesmo assim, em 1920, haviam 80 mil gueixas registradas ainda nos
moldes do kenban no Japão. Foi o auge da
população
de gueixas no país. A
demanda por gueixas era tão alta, que gerou práticas
perversas. Casas de
gueixas administradas por okaasans ("mães",
modo pelo qual as gueixas mais velhas administradoras das casas
são
chamadas) gananciosas e interesseiras,
tornaram-se senzalas douradas para meninas e adolescentes. Sempre
lembradas do
enorme investimento que representavam para a okiya,
como se tivessem assinado uma dívida pelo resto da vida, as maikos eram exploradas pelas okaasans,
que para sugar ao máximo seus
ricos clientes criaram os chamados "leilões de virgindade".
Quando
uma maiko chegava aos 16 anos, a okaasan
contatava seus clientes e lhes
oferecia a gueixa pela melhor oferta. Pouco interessava se a jovem
concordava
ou não com a transação, e fugir de nada adiantava.
A deserção de uma gueixa era
vista pela sociedade como um ato de traição à okiya - até os pais das gueixas as delatavam ou as
mandavam de
volta. Sabe-se que nos anos 30 a virgindade de uma maiko
chegou ao valor recorde de 850 mil dólares. Mesmo criticados
pela imprensa, por reduzir a nobre profissão da gueixa à
condição da mera
prostituição, os "leilões de virgindade"
continuaram sendo
cínicamente praticados até a 2ª Guerra Mundial. Com
a ocupação americana, tal
prática passou a ser considerada abusiva, e as okaasans,
temendo o fechamento de suas casas, imediatamente
aboliram os ditos "leilões". Se
durante a Era Meiji as gueixas estavam na vanguarda da moda japonesa, a
partir
da década de 20 elas passaram a sofrer concorrência com o
constante aumento da
ocidentalização dos costumes no país. Em plena Era
do Jazz e das melindrosas,
bares à ocidental tornaram-se extremamente populares pelo
Japão e surgiram as jokyûs (garotas de
cafés): moças que
vestiam kimonos de uso cotidiano com aventais ou à ocidental, e
que serviam de
garçonetes e de acompanhantes para os clientes - as precursoras
das atuais
"bar hostesses". Para se distinguir das jokyûs,
as gueixas decidiram não se "modernizar", e
assumiram definitivamente o papel de praticantes do tradicional. Desde
então,
modismos ocidentalizados passaram a ser desprezados pelas gueixas. A
imagem de
personificações da tradição fez a atividade
das gueixas prosperar nas décadas de
20 e 30, período em que o nacionalismo exacerbado foi
extremamente alimentado
pelo governo no Japão, e tudo aquilo que representava
"tradição" era
valorizado. Nos
anos 40, à medida em que o Japão mergulhava na 2ª
Guerra e aumentava a escassez
de produtos básicos e alimentos, as gueixas continuavam com seu
trabalho e
estilo de vida glamuroso - as okiyas
mais prósperas eram justo as que tinham como clientes
empresários ligados ao
governo e membros dos altos escalões militares. Isto certamente
contrastava com
a austeridade e os sacrifícios impostos ao resto da
população civil, conclamada
ao esforço de guerra "pela pátria e pelo Imperador". De
súbito, em
1944, o governo determinou o fechamento de casas de chá e de
bares, e proibiu
as gueixas de trabalhar como gueixas. Todas as mulheres - inclusive as
gueixas
- tiveram que ir trabalhar nas fábricas pelo esforço de
guerra. Esta situação
durou até outubro de 1945, quando o governo de
ocupação americano autorizou a
reabertura das casas de gueixas. O
período do governo de ocupação americano (1945 -
1952) trouxe uma série de
novos desafios para a gueixa. A derrota na guerra causou, além
da falência das
instituições, a falência de boa parte dos clientes
das gueixas. Uma nova
clientela teve de ser conquistada, e elas procuraram os oficiais
americanos. Se
antes as gueixas desprezavam tudo que representava o ocidente, agora
elas
procuravam aprender inglês e músicas americanas. O choque
de culturas foi
inevitável, e chegou a ser objeto de filmes produzidos em
Hollywood nos anos 50,
como "A Casa de Chá do Luar de Agosto". Mas o problema maior
ocorreu
entre os soldados e militares de baixa patente. Ao saber que gueixas
compareciam às recepções e jantares dos oficiais,
sem presenciar ou entender o
que as gueixas exatamente faziam em tais ocasiões, soldados
americanos passaram
a achar que "gueixa" significava "prostituta" em japonês, e
quando saíam à procura de mulheres - que nada mais eram
que moças comuns
famintas tentando sobreviver no caos do pós-guerra - perguntavam
se elas eram uma
"guíxa" (a pronúncia que usavam para "geisha").
Como normalmente a resposta era um aceno afirmativo
com a cabeça, os soldados passaram a acreditar que as garotas
que arranjavam
eram "guíxas", e com isso tornou-se popular no ocidente a
idéia de
que gueixas eram simples prostitutas com aparência
exótica. Embora
o governo de ocupação tivesse promulgado uma nova
Constituição para o Japão em
1947, os americanos mantiveram em vigor as antigas regras da
prostituição
legalizada, com bordéis oficiais para os soldados. Embora tais
estabelecimentos
nada tivessem a ver com as okiyas e
as casas de chá, os soldados logo as apelidaram de "guíxa
houses". A
prostituição no Japão deixou de ser legalizada em
1952, ao final do governo de
ocupação. A atividade da gueixa quase se extinguiu neste
período difícil, mas
sobreviveu. Sua imagem, entretanto, foi manchada pelo choque cultural.
Se no
passado as prostitutas no Japão se esforçaram para
não ser confundidas com as
gueixas, desde o período da ocupação as
prostitutas passaram a querer ser
confundidas com gueixas. Uma
nova fase de prosperidade se iniciou no Japão a partir de 1953,
que culminou na
atual condição de 2ª maior economia do mundo.
Cultivando tradições, a gueixa se
permitiu algumas modernidades, como falar inglês e entreter
estrangeiros (nos
tempos de Okichi e Yuki Morgan, elas o faziam a contragosto e só
se fossem
ordenadas). E para desfazer a equivocada imagem que o ocidente tinha
das
gueixas, o governo passou a chamá-las para ciceronear e entreter
personalidades
estrangeiras em visitas oficiais ao Japão, como a Rainha
Elizabeth II e o
Príncipe Charles da Inglaterra, o Rei Hussein e a Rainha Aliya
da Jordânia e o
Presidente Gerald Ford - o primeiro presidente americano a visitar o
Japão após
a 2ª Guerra. A GUEIXA MODERNA
Ser
uma gueixa é mais do que uma mera profissão. É um
estilo de vida que exige
total e absoluta dedicação. É aceitar acima de
tudo que será uma vida de
servidão, que eventualmente terá grandes recompensas.
Como tudo no Japão, ser
gueixa é também um do, um caminho a
ser percorrido pelo resto da vida. Karyukai,
"o mundo da flor e do salgueiro", é o nome que se dá ao
mundo das
gueixas. Cada gueixa é como uma flor e um salgueiro: bela em seu
próprio modo
de ser como uma flor; graciosa, flexível mas forte como um
salgueiro. Há
poucas décadas atrás, era comum meninas de 8 a 14 anos
serem adotadas por okiyas - até mesmo vendidas
pelas
famílias às casas, prática que foi proibida
após a 2ª Guerra. Uma lei
determinando que o segundo grau completo é requisito
obrigatório para os que se
candidatam a uma profissão no Japão, fez com que as casas
de gueixa passassem a
aceitar meninas só a partir dos 17 anos de idade. Se por um lado
pegar crianças
para treinar como gueixas tem o benefício de dispor de mais
tempo para uma
educação mais cuidadosa, por outro lado é
óbvio que uma criança não tem como
escolher se aquilo que ela está sendo educada para fazer
é aquilo que ela
efetivamente quer fazer pelo resto da vida. Com tantas oportunidades
que
existem para a mulher na moderna sociedade japonesa, a
deserção de gueixas de okiyas que
investiram em seu treinamento
e sustento tornou-se relativamente freqüente. Cada gueixa que
deserta deixa um
prejuízo considerável para a casa que a recebeu
(calcula-se que o valor mínimo
gasto com a educação e quiminos de uma gueixa é de
500 mil dólares). Jovens um
pouco mais maduras, que decidem tornar-se gueixas por
opção, tornaram-se mais
interessantes para as casas. O
treinamento básico de uma jovem gueixa dura no mínimo 5
anos. As jovens gueixas
aprendizes são chamadas maiko (mulher
da dança). Enquanto aprendizes elas dedicarão seus dias a
aulas de dança,
canto, música, literatura, e na prática de uma etiqueta
que mudará seus modos,
gestos, até a linguagem corporal, para alcançar o
padrão de elegância que se
espera de uma gueixa. À noite, ela irá a festas e
banquetes para entreter os
convidados e observar atentamente as gueixas experientes, para aprender
como
agir e se portar vendo o exemplo delas. A esta prática
dá-se o nome de minarai (aprender vendo). Em
média,
paga-se de 500 a mil dólares por hora por gueixa, sendo que
nunca uma gueixa
vai sozinha. Quando se "contrata uma gueixa", contrata-se no
mínimo
duas. Ter
namorados ou relacionamento sexual com clientes nesta fase está
fora de questão.
No passado, em tempos em que as gueixas eram virtuais escravas da casa,
houve
até a iniciação sexual de maikos
através de "leilões de virgindade", praticados por okaasans tiranas e gananciosas. Tal
prática foi abolida após a 2ª Guerra. Hoje, com
direitos garantidos e várias
opções de carreira profissional para as mulheres, nenhuma
gueixa pode ser
obrigada a permanecer numa okiya ou
numa atividade contra sua vontade. Para evitar prejuízos com uma
desistência e
garantir a continuidade de suas okiyas,
as atuais okaasans procuram tratar
bem suas maikos e geikos. Sinal dos
tempos. Duas
cerimônias marcam a passagem de gueixa adolescente para gueixa
mulher. Por
volta dos 18 anos ocorre a cerimônia do
mizu-age (subida das águas), no qual uma maiko
muda de penteado 5 vezes e, se quiser, perde a virgindade com
um de seus clientes. Trata-se de um rito de passagem pelo qual a jovem
gueixa
passa a ser reconhecida como mulher, e ela passa a receber tanto
propostas de
casamento de clientes (sendo que ao se casar ela deixa de ser gueixa),
como
propostas para tornar-se amante de um deles (caso no qual ela pode
tornar-se
independente da casa à qual pertence mas continuar trabalhando
como gueixa).
Ser virgem aos 18 anos em tempos como os de hoje, nos quais
adolescentes de 15 têm
mais experiência no assunto que as maikos,
é algo que deixa admirados os que têm na mente a
idéia estereotipada da gueixa
como uma expert no "Kama Sutra". Quando
suas habilidades já são consideradas suficientemente
maduras, a jovem gueixa
ganha o status de geiko (mulher da
arte), o que atualmente ocorre entre 20 e 23 anos de idade. Enquanto maiko, a gueixa usa quimonos com cauda e obi
largo em cascata nas costas,
sempre com colarinho estampado ou colorido, maquiagem ultra-branca e o
grande
penteado com pente de casco de tartaruga, flores e pingentes
metálicos. Ao se
tornar uma geiko, ela passa a usar
colarinho branco, quimonos mais discretos e penteados mais simples,
ganhando
uma aparência mais adulta e mais elegante. A cerimônia na
qual uma gueixa aprendiz
passa a ser considerada uma gueixa experiente chama-se erikae
(mudança de colarinho). Isso também implica em
novas
responsabilidades para a geiko em
relação à okiya, bem como
manter-se
um exemplo para as demais gueixas e auxiliar as mais jovens em seu
aprendizado.
As aulas de literatura, etiqueta, música, canto, dança e
arranjo floral,
entretanto, continuam até os 40 anos de idade. Atualmente, aulas
de inglês
também fazem parte do currículo. Esta
foi uma breve descrição de como são formadas as
gueixas mais refinadas e caras
do Japão, como as das casas de gueixas de Gion e Pontochõ
em Kyoto, e de
Akasaka em Tóquio. Existem também as onsen
geisha (gueixas de termas), que apesar do nome são
prostitutas que adotam
só a aparência e se valem da fama das gueixas. São
falsas gueixas que se
apresentam durante o dia em teatros baratos nas cidades
turísticas onde há
termas, e fazem de programas com turistas à noite sua principal
fonte de renda.
Usam perucas e quimonos teatrais, bons o suficiente para iludir os que
nunca
viram uma gueixa de verdade (que são muitos, mesmo entre os
japoneses), mas
nada possuem da postura e das maneiras elegantes características
da verdadeira
gueixa. Não se pode esperar de uma onsen
geisha, portanto, a capacidade de guardar segredos ou de ser
discreta, como
fazem as verdadeiras gueixas. Que
o diga o ex-Primeiro-ministro Sõsuke Unõ. Em junho de
1989, ao alcançar o posto
máximo que um político pode almejar na carreira no
Japão, Unõ tornou-se centro
de um escândalo quando sua amante gueixa foi à
mídia para revelar o caso e
acusá-lo de avareza e arrogância. Tamanha foi a
repercussão negativa, que Unõ
teve que se demitir após somente dois meses no cargo. Por ter
quebrado a regra
nº 1 das gueixas - o voto de segredo - a comunidade das gueixas
entendeu que a
amante de Unõ sequer fosse uma gueixa. Quando muito, uma
prostituta que se
passava por gueixa. Gueixa ou não, o caso Unõ demonstrou
que houve uma grande
mudança de valores sociais no Japão, pois a
relação extra-conjugal de um
político com uma gueixa, algo que há muito tempo era
aceito com naturalidade,
deixou de sê-lo. As esposas japonesas, que hoje são
também eleitoras, deixaram
de ser tão complacentes e tolerantes com as amantes de seus
maridos. A opinião
pública masculina, por sua vez, achou que Unõ errou ao
querer ter uma amante
gueixa sem ter condições financeiras para tanto, ou seja,
queria aparentar um
status que não tinha condições de manter. FUTURO INCERTO
Gueixas
podem se casar, mas ao se casar deixam de ser gueixas. É comum
elas se casarem
com filhos ou netos de seus clientes - os próprios clientes
normalmente se
propõem a arranjar tais uniões. Mas via de regra, o
marido japonês prefere que
sua esposa não trabalhe fora, dedicando-se exclusivamente ao
lar. Para uma
mulher criada para dançar, tocar música, e acostumada a
um estilo de vida de
festas e quimonos caros, o papel de esposa confinada em casa é
difícil de
assimilar. Por isso, ao invés do casamento, muitas gueixas
preferem permanecer
solteiras e viver na okiya,
dedicando-se ao karyukai até a morte.
Ou, com sorte, arranjar um bom e rico danna. Danna em japonês significa
"patrono", mas no meio das gueixas designa um cliente que decide
assumir uma gueixa como amante exclusiva. Normalmente os clientes de
gueixas
costumam ser bem mais velhos que elas - na meia-idade ou já na
terceira idade,
pois é em tal faixa etária que os homens alcançam
o sucesso pessoal e
financeiro. Quando um deles quer que uma determinada gueixa seja sua
amante,
ele deve negociar isso com a okaasan.
Além de uma quantia a título de compensação
à okiya pela educação e
hospedagem da gueixa (algo que envolve
algumas dezenas de milhares de dólares), a okaasan
faz algumas exigências pela gueixa, para garantir que ela tenha
um padrão de
vida condizente com o que está acostumada, como uma casa ou
apartamento próprio
e uma mesada. Se o danna concordar
com as exigências, e a gueixa aceitá-lo e estiver
satisfeita com as condições,
a gueixa torna-se independente. Mamika, famosa e refinada gueixa de
Gion nos
anos 90, revelou em entrevista para um documentário da
tevê norte-americana que
além de um confortável apartamento em Kyoto e uma mesada
de 8 mil dólares, seu danna ainda lhe deu um
título de sócia
de um exclusivo clube de golfe e permitiu que ela continuasse atuando
como gueixa.
Mas quem é o seu danna, ela não
revelou e nem deu pistas. Ter
um danna é o ideal de uma gueixa.
Sendo amante, o danna não irá morar
permanentemente com ela, mas irá visitá-la de tempos em
tempos, quando então
ela se dedicará totalmente a ele. E se ele concordar, quando ele
não estiver
ela continuará a trabalhar como gueixa. Em tais casos, a gueixa
costuma
trabalhar em colaboração com outras gueixas de sua casa
de origem
apresentando-se em jantares, com a diferença de que ela é
quem fará sua própria
agenda e escolherá os clientes - algo que antes era feito pela okaasan. Manter segredo sobre seu danna
e fidelidade a ele são
considerados deveres da gueixa. Se ela faltar com tais deveres, a
comunidade a
isolará, o que tornará impossível que ela continue
trabalhando como gueixa. Há,
obviamente, muitas vantagens em ter um danna,
mas o lado obscuro disso é que a gueixa pode ficar para sempre
presa a alguém
que não ama. A
atividade das gueixas sempre refletiu o grau de prosperidade
econômica do
próprio Japão. Quando os negócios vão bem,
os clientes são numerosos e
generosos. Quando há recessão, as agendas se esvaziam e
gueixas se aposentam.
Se nos anos da "bolha econômica" as gueixas tinham agenda lotada
até
a madrugada, atualmente há dias totalmente livres. Além
de tais dificuldades, a
própria atividade da gueixa hoje está ameaçada
pela mudança de valores da
sociedade japonesa, causada pela ocidentalização do
pós-guerra. Desde
o fim da 2ª Guerra, o Japão foi reconstruído
à imagem dos Estados Unidos. Tal
influência propiciou rápido crescimento econômico e
mudou de súbito valores e
hábitos na sociedade japonesa. Em curto período, as
mulheres passaram a estudar
mais e a desenvolver carreiras que antes não lhes eram
permitidas nos negócios
e na política. Antes da guerra, na sociedade japonesa as
mulheres eram
subordinadas aos homens e viviam quase sempre em grupos e ambientes
separados,
nas escolas, no trabalho, no dia-a-dia. Parte do fascínio da
gueixa estava no
fato delas serem as poucas mulheres com quem homens podiam se
relacionar em
nível de parceria. Hoje, com oportunidades mais justas, homens e
mulheres
disputam os mesmos espaços e cargos, e procuram mais a parceria
que a
subordinação. Tais fatores, embora positivos, reduziram o
apelo que a gueixa
tinha. Impulsionado
pela tecnologia da internet e da telefonia móvel, o sexo no
Japão virou um
produto fácil, barato e oferecido em larga escala. O enjo
kõsai (relacionamento financiado) é um
serviço no qual
estudantes colegiais se oferecem para programas, marcando encontros
pelo
celular. Sendo menores de idade, essas colegiais preferem usar o
celular ao
invés da internet, para não deixar evidências que
podem ser vistas pelos pais.
Na internet, além das modalidades mais corriqueiras de
prostitutas, há outras
que oferecem até donas de casa, "office ladies" e falsas
gueixas: há
de todos os feitiches para todos os gostos. Com tanta oferta no mercado
do
sexo, não faz sentido para os homens, principalmente os jovens,
pagar uma
fortuna para ter a companhia de uma gueixa e não ir
automaticamente para a cama
com ela. O menosprezo pela tradição também faz com
que a gueixa lhes seja
incompreensível e fora de moda. Os nostálgicos costumam
criticar a
"ocidentalização" excessiva de valores, que transforma
tudo em mero
comércio, e lamentam a perda da sensibilidade dos jovens para a
sedução
discreta e o refinamento da gueixa. Os japoneses entendem que mesmo
para se
deixar entreter por uma gueixa e apreciá-la, requer um certo
grau de cultura do
próprio cliente. A gueixa não é para qualquer um. Talvez
esteja neste ponto o valor da gueixa, e o que fará ela
sobreviver: a raridade,
a exclusividade, e a personificação daquilo que há
de belo na alma do Japão. Ao
longo dos séculos, as gueixas sobreviveram à
mudança de governos e às guerras
graças à dedicação de maikos
e geikos determinadas, e à capacidade de
se adaptarem a mudanças sem perder sua identidade. Dizer que
elas estão
ultrapassadas é um exagero. As gueixas continuam sendo um
parâmetro de talento,
elegância, beleza e caráter feminino na sociedade japonesa
- senão não haveriam
tantas imitadoras. Considere-se que mesmo no meio artístico
atual, as cantoras
do popular estilo enka procuram
adotar o visual e os modos elegantes das gueixas. Dificuldades existem,
mas
certamente há futuro para a tradição da gueixa. PARA SABER MAIS SOBRE GUEIXAS
O
site Cultura Japonesa recomenda o livro GEISHA, de Liza Dalby. Em 1975,
quando
era estudante de antropologia, Dalby conseguiu o que nenhuma outra
ocidental
conseguiu até hoje: foi aceita como aprendiz em uma das mais
tradicionais casas
de gueixas de Pontochõ, um dos também tradicionais
bairros de gueixas de Kyoto.
Durante um ano, ela viveu entre gueixas como uma gueixa, para conhecer
a fundo
e compreender um mundo do qual o segredo é parte do estilo de
vida. O resultado
desta experiência é uma pesquisa rica e uma completa
descrição do karyûkai, o mundo das
gueixas. Publicado
pela University of California Press, a edição original em
inglês é vendida pela
internet, através da Amazon e da Barnes & Noble. O livro foi
traduzido para
o português com o título de GUEIXA, e é vendido sob
encomenda pelas livrarias
Nobel, Cultura e Saraiva. Outro
ótimo livro é GEISHA, A LIFE, de Mineko Iwasaki. A
autora, nascida Masako
Tanakaminamoto, ainda criança foi adotada pela renomada e
tradicional casa de
gueixas Iwasaki do bairro de Gion em Kyoto, e educada para ser a atatori - a gueixa herdeira e sucessora
da casa. Rebatizada de Mineko Iwasaki, nos anos 70 ela alcançou
fama e
reconhecimento como a mais talentosa gueixa de sua
geração, chocando a
comunidade ao decidir aposentar-se no auge da carreira, aos 29 anos,
para ter
sua própria vida. Memórias de uma gueixa da vida real,
Iwasaki escreveu esta
auto-biografia em 2002. Traduzido do japonês para o inglês
por Rande Brown, e
publicado pela Washington Square Press, ainda não possui
tradução para o
português. Pode ser adquirido pela internet, através da
Amazon e da Barnes
& Noble. Na
tevê paga, o canal A&E Mundo freqüentemente reprisa o
ótimo documentário
especial GUEIXA. É preciso consultar na grade de
programação ou com a operadora
quando o documentário virá ao ar novamente. 02/fevereiro/2006 AO
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Cristiane
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