:: MODA JAPONESA - GERAL

por Cristiane A. Sato

INTRODUÇÃO

Existe atualmente a opinião quase unânime tanto na mídia como no mundo fashion de que os grandes centros divulgadores continuam sendo Paris, Milão, Londres e Nova York, mas o centro criativo é Tóquio. O fashion business como atividade empresarial globalizada é um conceito recente, mas para quem conhece o Japão e sabe que os japoneses têm algo que poderíamos chamar de “cultura de vestuário”, a atual situação de coisas parece um resultado já esperado.

Estamos falando de um país onde até hoje noções de corte e costura integram o programa oficial do ensino fundamental nas escolas. Tanta importância os japoneses dão a este know-how, que mesmo no Brasil as famílias de imigrantes preocupavam-se em enviar suas filhas para escolas especializadas. Várias gerações de moças passaram por escolas famosas da comunidade, como a Akama Saihõ Jogakkou (Escola Feminina de Corte e Costura Akama) e a Nippaku Saihõ Jogakkou (que em português era chamada de “Escola Internacional de Corte e Costura”) em São Paulo. Nessas escolas as jovens estudavam período integral em regime de internato, onde além de aprenderem técnicas completas de modelagem, corte, costura e acabamento, tinham aulas de japonês, cálculo, culinária e de ginástica - numa época em que no Brasil a maioria das mulheres mal completava a 4ª série do ensino básico. Com esse conhecimento, cinqüenta anos atrás minha avó conseguiu sustentar família, comprar um apartamento e educar quatro filhas, das quais uma formou-se em Direito.

Quão grande é o mundo da moda no Japão? Sob o ponto de vista dos negócios, trata-se do principal mercado da Ásia e o segundo mais importante depois da Comunidade Econômica Européia. O principal fator que leva ao alto consumo de moda no Japão é econômico. O país tem um altíssimo Produto Interno Bruto (na casa de US$ 33.600,00 per capta em 2007) e eficiente distribuição de renda (estima-se que 70% da população economicamente ativa do país possui renda superior a US$ 2 mil por mês e menos de 0,3% da população vive com menos de mil dólares por mês), o que significa que o típico cidadão japonês tem enorme capacidade de consumo para uma constante renovação do guarda-roupa.

Sob o ponto de vista estético, é um país onde a forma de vestir sofre o peso inevitável da milenar cultura local, ao mesmo tempo em que as pessoas abraçam novidades com avidez. Jovens invadem as ruas como uma tsunami de tribos urbanas, num enganoso caos misturando tradição com tecnologia, modernidade com lolitas de contos de terror do século XIX. Como estilos de vida variados levam a formas variadas de vestir-se, isso faz com que no Japão as opções sejam multiplicadas. Por exemplo, quando se fala em alta costura no Japão precisamos sempre nos lembrar que no Japão existem dois tipos de alta costura – a de estilo ocidental e a de quiimonos - e não uma só como no ocidente. O mesmo se aplica para trajes de passeio – estilo ocidental ou estilo oriental. Outro exemplo: se o assunto é moda jovem, existem duas áreas distintas no Japão: aquela que é ligada à indústria, ao mainstream, e aquela que surge de manifestações espontâneas nas ruas – o famoso street fashion nipônico. No meio editorial, há revistas especializadas por sexo, faixa etária, estilos de vida, temas, e os curiosos mas não menos importantes catálogos e guias – tudo direcionado para o consumidor final, e não somente para profissionais da área.

A caótica variedade de estilos adotados no Japão fez com que desde a década de 1990 Tóquio e Osaka virassem centros obrigatórios para os caçadores de tendências das principais empresas e maisons européias. Mas a moda japonesa é por si só um assunto tão complexo que mesmo os fashionistas mais antenados têm dificuldade em lidar com o tema, de modo que seria muita pretensão esgotar o assunto num simples artigo. Neste bloco o site CULTURA JAPONESA apresentará assuntos relacionados ao vestuário, estética e beleza no Japão, de origens históricas à atualidade. E como moda é por si só um tema dinâmico e em constante transformação, atualizações serão feitas com freqüência.

<>Grafia correta: em inglês “kimono”, em português prefira “quimono”.
<>Outros artigos sobre moda japonesa:

Fashion Kimono - quimono da moda

Grifes Japonesas - estilistas famosos

por Cristiane A. Sato

Cristiane A. Sato, formada em direito pela Universidade de São Paulo, pesquisadora de mangá e animê, presidente da ABRADEMI – Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e Ilustrações, colaboradora de publicações sobre cultura popular japonesa, mangá e animê desde 1996. Palestrante convidada em eventos diversos no Centro Cultural Itaú, Sesi, Sesc, FAU-USP, Fundação Japão, Embaixada, Consulado Geral do Japão, etc. Autora do Livro Japop - O Poder da Cultura Pop Japonesa (2007).

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