:: MODA
- ESTILISTAS JAPONESES por
Cristiane A. Sato Após
a 2ª Guerra Mundial, japoneses destacaram-se como estilistas de
renome e
grandes empresários. A
imprensa no ocidente tende a ver os estilistas japoneses de sucesso
como parte
de um grupo - algo que em nada reflete a realidade das carreiras de
cada um dos
designers mencionados a seguir. Nenhum deles fez parte de um grupo na
intenção
de obter coletivamente um espaço no competitivo mundo fashion.
Ao contrário,
todos tiveram de demonstrar talento e fazer valer
características individuais
para destacar seu trabalho e conquistar clientes, a crítica e o
público. Embora
individualmente tenham pouco em comum entre si - excetuando o fato de
serem
japoneses - suas criações puseram o Japão em
definitivo no mapa da moda
internacional. Os
nomes a seguir são uma referência obrigatória: Hanae
Mori Nascida
em 1926, é sinônimo da primeira autêntica grife
japonesa. Começou sua carreira
em 1951, fazendo figurinos para cinema e trabalhou com diretores
famosos, como
Yasujiro Ozu e Kimisaburo Yoshimura. Em 1963 Mori entrou para a haute
couture, abrindo estúdio em Paris. Em 1977 Mori tornou-se a
primeira
estilista asiática admitida na Chambre Syndicale de la Haute
Couture Parisienne.
Em 1989 foi condecorada com o título de Dama da Ordem da
Legião de Honra,
elevada a Oficial da Ordem em 2002, tornando-se a primeira estilista
estrangeira a receber a honraria máxima concedida pelo governo
francês. Como
asiática, mulher, artista e empresária, Hanae Mori
quebrou preconceitos para
conquistar seu espaço no mundo da alta costura dentro e fora do
Japão. Suas
criações caracterizaram-se pelo uso da mais fina seda e
dos mais ricos brocados
produzidos no Japão para quimonos de luxo, mas que ela
transformou em peças de
formato ocidental clássico e acabamento impecável. Seu
tema predileto, as
borboletas – símbolo tradicional de transcendência e
transformação – aparecem
em suas coleções de formas surpreendentes. O luxo de
Hanae Mori foi usado por
seletas clientes como a Princesa Grace de Mônaco, as
primeiras-damas americanas
Nancy Reagan e Hillary Clinton, e as damas da Família Imperial
japonesa. Apesar
da idade avançada, Hanae Mori continua ativa cuidando dos
negócios de sua
grife. Kenzo Nascido
em 1940, Kenzo Takada foi o primeiro estilista japonês a
conquistar grande
sucesso comercial na Europa. Em 1960, ainda no Japão, Kenzo
ganhou um concurso
para novos estilistas e passou a trabalhar na criação de
moda feminina para a
loja de departamentos Sanai. Em 1964 Kenzo mudou-se para Paris, onde
conseguiu
vender alguns de seus designs para a maison de Louis Féraud e
trabalhar para
empresas têxteis. Em
1970 Kenzo realizou seu primeiro desfile independente onde apresentou
seu
estilo: roupas de intenso colorido, malhas folgadas e roupas informais
de corte
reto, com mangas amplas e linha dos ombros alterada como nos quimonos,
feitas
em algodão estampado japonês usado na
confecção de yukatas, num
orientalismo menos exótico e mais moderno. Diferentemente do
luxo de Hanae
Mori, Kenzo agradou aos jovens que após a era das
manifestações estudantis
procuravam um estilo alternativo, jovial e descontraído. Sua
primeira loja chamava-se “Jungle Jap”, mas no decorrer dos anos sua
presença
constante nas revistas de moda francesas e na Vogue dos dois lados do
Atlântico
fizeram seu nome ser valorizado como grife. Em 1980 suas lojas e
empresas
passaram a chamar-se apenas “Kenzo”. Em 1988 ele lançou o
primeiro perfume de
uma variada e bem sucedida linha, que continua crescendo até
hoje. Em 1993
Kenzo vendeu sua maison para o Grupo LVMH (Louis Vuitton). A grife
Kenzo passou
a ter a direção artística do estilista italiano
Antonio Marras em 2003. Yohji
Yamamoto Nascido
em 1943, Yamamoto formou-se em direito pela Universidade de Keio e em
moda pela
escola técnica superior Bunkafukuso Gakuin. Em 1969 foi
a Paris para um
estágio em moda como prêmio por vencer um concurso. De
volta ao Japão, abriu
sua empresa de confecção, a Y´s Co. Ltd. Em 1981
iniciou carreira internacional
apresentando sua primeira coleção de alta costura em
Paris, chocando a imprensa
especializada com roupas desestruturadas, em tecidos de aspecto
simples, de
cores lisas e fortes contrastando com tons neutros, enfatizando
texturas ao
invés de estampas, bordados e brocados. Visando
criar peças de design, focadas na assimetria,
sobreposições soltas e
funcionalidade, Yamamoto tornou-se conhecido nos anos 80 procurando
fazer uma
moda atemporal e minimalista, resistente às idas e vindas dos
modismos de
detalhes, num raciocínio similar ao do vestuário dos
monges zen-budistas, que
há mil anos usam quimonos sóbrios, sem ornamentos
brilhantes. Entretanto,
Yamamoto é mais lembrado por algumas de suas peças mais
dramáticas e
experimentais, explorando formas geométricas ou usando materiais
inusitados,
como o vestido de madeira e dobradiças, apresentado em 1991. Nos
anos 80 Yamamoto e outra estilista japonesa de sucesso, Rei Kawakubo,
causaram
furor em Paris com propostas ousadas e pouco convencionais. Creditam-se
a ambos
nesse período duas importantes inovações
conceituais no mundo da moda: o das
peças one size (tamanho único) e o visual urbano
minimalista em vários
tons preto sobre preto. Em
1989, as criações de Yamamoto foram objeto de um
longa-metragem produzido pelo
Museu de Arte Moderna Georges Pompidou e dirigido por Wim Wenders: Carnets
de Notes sur Vêtements et Villes. Em 1990, Yamamoto fez os
figurinos para
uma nova montagem de Madame Butterfly, produzida pela
Ópera de Lyon. Em
1994 foi agraciado com o título de Cavaleiro da Ordem das Artes
e Letras do
Ministério da Cultura da França, elevado a Oficial em
2005. Em 2002 desenhou
figurinos para dois filmes de Takeshi Kitano: “Brother” e “Dolls”. Em
1996 Yamamoto lançou seu primeiro perfume, iniciando uma
bem-sucedida linha.
Atualmente Yamamoto continua na direção artística
da Y´s, uma holding
com filiais na França, Itália e Estados Unidos que
movimenta mais de 100
milhões de dólares por ano, e embora continue atuando na
alta costura, o
carro-chefe de seus negócios são suas linhas de
prêt-à-porter de luxo e
perfumes. Rei
Kawakubo Nascida
em 1942, Rei Kawakubo é mais conhecida como fundadora da hoje
internacionalmente conhecida grife Comme des Garçons,
criada no Japão em
1969. Em 1980 Kawakubo mudou-se para Paris, onde abriu uma filial de
sua loja.
No ano seguinte chocou tanto público como a imprensa
especializada com sua
primeira coleção no ocidente. As roupas de Kawakubo eram
anticonvencionais,
desestruturadas a ponto de estarem totalmente rasgadas ou faltando uma
parte -
como blusas sem uma das mangas ou calças sem parte de uma das
pernas - sem
seguir a forma do corpo, parecendo que os tecidos estavam
desordenadamente
sobrepostos na pessoa. Numa época em que cores, de tons
pastéis a choque, eram
regra nas ruas e nas passarelas, ela trouxe o visual total em preto ou
crú. Inicialmente
vistas como ridículas e feias, as roupas de Kawakubo chamaram a
atenção dos
críticos aos poucos, que apelidaram o estilo da Comme des
Garçons de
“Hiroshima chic” - definição
bem mais friendly
que a expressão “boro look” (visual esfarrapado), cunhada pela
imprensa
japonesa para definir o estilo das roupas de Kawakubo. Em
1983 Kawakubo levou a Comme des Garçons para Nova York,
onde conquistou
um público que se identificava com o visual urbano, escuro e
decadente de suas
coleções de peças pretas, em diferentes tons de
preto. Em 1990 sua grife já
possuía 300 lojas espalhadas pelo mundo e movimentava pouco mais
de 100 milhões
de dólares em vendas. O reconhecimento à ousadia criativa
de Kawakubo na moda
veio em 1993, quando ela recebeu o título de Dama da Ordem das
Artes e das
Letras do governo francês. Atualmente
casada com o empresário inglês Adrian Joffe, Kawakubo
continua na administração
da Comme des Garçons, que hoje produz moda feminina e
masculina, uma
variada gama de acessórios, perfumes, e móveis
residenciais e comerciais. As
atuais coleções da grife são assinadas por Junya
Watanabe, estilista que está
na Comme des Garçons desde 1984 e que é o
colaborador de maior confiança
de Kawakubo. Issey
Miyake Nascido
em 1939, Miyake formou-se em design pela Universidade de Tóquio
e em 1965
mudou-se para Paris, decidido a tornar-se um estilista, onde trabalhou
como
assistente de Guy Laroche e Hubert de Givenchy. Miyake, entretanto,
não se
identificou com a formalidade que a alta costura oferecia às
mulheres, numa
época em que Courrèges e Pierre Cardin já
revolucionavam conceitos de moda e
elegância com modelos inspirados na conquista do espaço e
usando materiais
sintéticos. Assim, em 1969 Miyake foi para Nova York, onde
trabalhou durante um
ano para a Geoffrey Beene, famosa loja de prêt-à-porter
feminino na 5ª Avenida. Após
conhecer dois extremos do mundo da moda, Miyake voltou ao Japão
em 1970 e
decidiu pôr de lado tudo o que havia aprendido até
então sobre concepção e
função do vestuário, focando-se no design. A
partir disso ele produziu roupas
de cortes assimétricos estudados, com amplos tecidos sobrepostos
destacando
texturas e que podiam revelar características surpreendentes,
dependendo do
movimento da pessoa ou da maneira pela qual a peça era usada.
Tratava-se de um
raciocínio oposto ao então vigente na moda: ao
invés de valorizar-se o corte e
a costura do tecido de modo que o tecido reproduzisse as formas do
corpo,
prioriza-se o próprio tecido, que deve produzir novas formas e
volume a quem o
veste. Em
1971 ele abriu o Miyake Design Studio e passou a apresentar suas
coleções duas
vezes ao ano em Paris. Experimentador constante e criador de
peças inovadoras,
os desfiles de Miyake eram verdadeiros shows disputadíssimos.
Numa época em que
desfiles de moda limitavam-se a modelos andando em passarelas retas ao
som de
música clássica ou trilha sonora de supermercado, Miyake
começou a mudar a
forma das passarelas, introduzir efeitos de iluminação e
a usar trilhas sonoras
diferentes. Bem humorado, ele também fez desfiles extravagantes,
pondo na
passarela modelos que trajavam placas de fibra de vidro vermelha
laqueadas, na
forma de seios nus. Após
30 anos de carreira, consagrado internacionalmente como designer
inovador, em
2000 Miyake passou a criação de suas
coleções para o estilista Naoki Takizawa,
colaborador de confiança com quem trabalha desde 1989.
Atualmente o nome de
Issey Miyake é uma verdadeira franquia internacional, que
dá prestígio a
perfumes, malas, jóias, relógios, alta costura e
prêt-à-porter de luxo. Kansai Nascido
em 1944, Kansai Yamamoto destacou-se por unir moda ao showbiz. Kansai
produziu
sua primeira coleção no Japão em 1967, mas
tornou-se internacionalmente
conhecido a partir de 1971, quando realizou seu primeiro desfile em
Londres,
tornando-se o primeiro estilista japonês a apresentar uma
coleção na capital
inglesa. Seu estilo extravagante e pop chamou a atenção
de astros da música,
como Elthon John, David Bowie e Stevie Wonder, com quem o estilista
desenvolveu
uma longa amizade e para quem produziu figurinos para shows. Um dos
trabalhos
mais conhecidos de Kansai foi o figurino para os shows Ziggy
Stardust de
Bowie, que popularizou a estética andrógina. O
colorido estilo de Kansai rendeu-lhe grande popularidade nos anos 70 no
meio do
entretenimento. Em 1974 abriu lojas de sua própria grife, a
Boutique Kansai, em
Paris, Milão, Nova York e Madrid. Embora tenha prioritariamente
se dedicado à
moda jovem nos anos 70 e 80, aos poucos Kansai desenvolveu crescente
interesse
pela produção de eventos. O formato convencional dos
desfiles de moda lhe
parecia pequeno demais, e além de desenhar figurinos ele passou
a fazer design
de iluminação e cenários . Em 1993 Kansai realizou
sua última coleção e hoje é
um mega-produtor de shows e eventos, mas sua visão alegre,
ousada e criativa de
moda, que marcou astros do rock e do pop nos anos 70, ainda inspira
gerações de
jovens estilistas. Em 2005 Kansai tornou-se consultor do governo
japonês na
área de turismo, e é presença constante na
mídia japonesa.
Outros
estilistas que se destacam no meio fashion nipônico
são: Junko
Shimada Em
1981 Shimada mudou-se para Paris, onde para entrar na indústria
trabalhou para
a loja de departamentos Au Printemps e desenhou roupas infantis para a
maison
Cacharel. Shimada começou sua própria grife em 1984. Em
2003 Junko Shimada foi
admitida na Federação Francesa da Alta Costura. Sua linha
de prêt-à-porter
“49Av” tem grande sucesso no Japão e na França. Nos
últimos anos Shimada vem apresentando
regularmente suas novas coleções nas Semanas da Moda de
Paris. Jun
Ashida Começou
sua carreira em 1960, produzindo coleções de
prêt-à-porter para a tradicional
loja de departamentos Takashimaya e destacou-se como estilista pessoal
da
Princesa Consorte, atual Imperatriz Michiko, de 1966 a 1976.
Condecorado em
2000 como Oficial da Ordem do Mérito pelo governo francês
e em 2006 com a Ordem
do Sol Nascente, honraria maior concedida pelo governo japonês,
Ashida é um dos
estilistas de maior prestígio no Japão. Apesar da idade,
Ashida continua ativo
da direção artística de suas
coleções e no comando de sua grife. Hiroko
Koshino Com
50 anos de carreira completados em 2007, Hiroko Koshino foi a primeira
estilista japonesa a lançar uma coleção na
Itália, no Roma Alta Moda de 1978.
Desde 1982 Hiroko Koshino lança suas coleções de
alta costura em Paris, e sua
grife de prêt-à-porter de luxo é uma das mais bem
sucedidas do Japão. Yuki
Torii Com
mais de 45 anos de carreira, Yuki Torii é bastante conhecida no
Japão e em
Paris, onde possui loja na renomada Galeria Vivienne desde 1985. Junko
Koshino Estilista
de sucesso comercial no Japão, além de
coleções de prêt-à-porter Junko Koshino
é também reconhecida como talentosa designer de
interiores e de figurinos para
teatro. Foi indicada ao Tony por seus trabalhos em
produções da Broadway. Jotaro
Saito Estilista
especializado em quimonos, Jotaro Saito é uma verdadeira grife
da indumentária
tradicional japonesa. Realizando nos últimos 10 anos desfiles
nas Semanas de Moda
de Tóquio e na JFW, Saito deu novo caráter fashion a
quimonos luxuosos e suas
criações vêm conquistando jovens. Naoto
Hirooka Mais
conhecido por sua etiqueta - h.Naoto - este jovem estilista
começou no
alternativo meio do street fashion. Com roupas e
acessórios na linha
punk/gothic lolita, sua loja Heaven Harajuku virou uma referência
em Tóquio.
Com desfiles recentes na Japan Fashion Week, Naoto vem
conseguindo
sucesso comercial e respeito como novo talento da moda. Outros artigos
sobre moda japonesa neste site: Fashion Kimono - quimono da moda Cristiane
A. Sato, formada em direito pela Universidade de São Paulo,
pesquisadora de mangá e animê, presidente da ABRADEMI –
Associação Brasileira de Desenhistas de Mangá e
Ilustrações, colaboradora de publicações
sobre cultura popular japonesa, mangá e animê desde 1996.
Palestrante convidada em eventos diversos no Centro Cultural
Itaú, Sesi, Sesc, FAU-USP, Fundação Japão,
Embaixada, Consulado Geral do Japão, etc.
É autora do livro Japop - O Poder da Cultura Pop Japonesa (2007). AO USAR
INFORMAÇÕES DESTE SITE, NÃO DEIXE DE MENCIONAR A
FONTE www.culturajaponesa.com.br
– autora: Cristiane A. Sato LEMBRE-SE:
AS INFORMAÇÕES SÃO GRATUÍTAS, MAS ISTO
NÃO LHE DÁ DIREITO DE SE APROPRIAR DELAS. CITANDO
A FONTE, VOCÊ ESTARÁ COLABORANDO PARA QUE MAIS E MELHORES
INFORMAÇÕES SOBRE
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